Clima: o capitalismo e a morte do planeta (parte 1)

Coluna de Rosana Bond trata sobre as relações do capitalismo com as mudanças climáticas e o aquecimento global.
Entrevista esclarece relação do capitalismo com mudanças climáticas e "aquecimento global". Foto: Mateus Bruxel/Agencia RBS

Clima: o capitalismo e a morte do planeta (parte 1)

Coluna de Rosana Bond trata sobre as relações do capitalismo com as mudanças climáticas e o aquecimento global.

“Sobre as causas (dos graves distúrbios climáticos recentes no Brasil) serem atribuídas muitas vezes ao fenômeno do ‘El Niño’, a gente não pode desconsiderar que elas também estão se intensificando por conta do aquecimento global, um aquecimento sobre o qual os cientistas já alertavam há muitos anos, há décadas. (Entra em tal quadro) o modelo capitalista de transformação da natureza em mercadoria (leia-se lucro) e essa mercadoria ser consumida”

“[…] Essa mercadoria sendo consumida numa perspectiva ilimitada [traz] uma desorganização, vamos dizer, assim, da química e da biologia do planeta [que sabemos ser um organismo vivo], sem um ponto de retorno. (OBS: Ponto em que as mudanças climáticas não podem mais ser revertidas.)  

[Existe hoje] o risco chegando numa inflexão do ponto de não retorno destes ecossistemas, então é [algo] realmente desesperador.”

A advertência é de Marcos José de Abreu, engenheiro agrônomo e mestre em agroecossistemas.

A “ironia” da água de menos e da água de mais  

Tido como referência nacional em Compostagem/Agricultura Urbana/Agroecologia e Alimentação, o entrevistado mencionou não só a seca na Amazônia, os transtornos no Nordeste e as ventanias/enchentes no Sul, mas falou também dos alertas específicos para Florianópolis, uma cidade numa ilha, cercada de água e muito chuvosa, que agora vislumbra o “irônico” perigo ecológico de ficar sem água potável.

População local está vendo e sentindo

Afirmou Marcos: “Um dos elementos das mudanças climáticas são os eventos extremos, que  acontecem com muito mais frequência e muito mais intensidade. Isso no estado de SC tem sido visto com as chuvas, ciclones extratropicais, vendavais, quedas de granizo e, em alguns períodos, também estiagem.

Na nossa costa, falando agora de Florianópolis onde o território é 97% uma ilha oceânica, a gente tem observado muita erosão marítima (desgaste e transporte de solos e rochas litorâneas por agentes erosivos tais como marés altas e ondas fortes) e também a problemática do abastecimento de água potável o suficiente para abastecer as pessoas.”

“[…] É uma realidade que se tem sentido. As comunidades tradicionais, pescadores artesanais (os mais afetados) além de indígenas e quilombolas, têm relatado que os eventos [estão] com uma frequência maior e mais intensa.”

Uma lagoa pedindo socorro

Um paraíso turístico como Florianópolis sentindo sede de água potável não é catastrofismo, dizem especialistas, entre eles o entrevistado Marcos.

Um dos mananciais que mais preocupam é a Lagoa do Peri, o principal aquífero da capital e que abastece metade do Sul da Ilha. Está cada vez mais frágil nas estiagens e dá sinais que pode estar começando a secar.

“Temos recebido inúmeros pedidos de informações a respeito do que a Prefeitura e a (companhia de água e saneamento) CASAN vêm fazendo para evitar a falta de água nas residências. Bem como quais as alternativas que o município dispõe neste momento, que possam vir a suprir a falta de água proveniente da redução do volume captado na Lagoa do Peri”, disse ele na estiagem de 2020.

Salinização e organismos tóxicos

Afirmou também: “Este fundamental ecossistema pode sofrer sérias alterações, como a mudança de vegetação nas áreas secas, a mortalidade da vida aquática que altera a dinâmica ecológica, a morte do Rio Sangradouro, salinização por diminuição da diferença de potencial entre a água doce e a cunha salina, aumento de cianobactérias e outros organismos tóxicos, assoreamento, acelerando o processo geológico de desaparecimento da lagoa por intervenção humana.”

Captando água poluída

O abastecimento de água potável de Florianópolis possui captação em várias fontes. As principais são lençóis freáticos subterrâneos e superficiais, de variados portes, alguns deles integrados à canalização do sistema situado no continente, dos rios Cubatão/Pilões. No entanto estes também são problemáticos, pois estão atingidos por poluição ambiental. 

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