‘Não são homicídios coletivos, são massacres! Estão nos matando!’, Bogotá, 28/08/20. Foto: Carlos Ortega.
Nos dezoito primeiros dias de janeiro, a Colômbia registrou cinco massacres contra trabalhadores e camponeses pobres. Um total de 15 pessoas foram mortas em Cauca, Valle del Cauca, Antioquia e Caquetá. Na maioria dos casos, a autoria dos crimes foi atribuída a pistoleiros ou paramilitares ligados ao narcotráfico.
Em 18 de janeiro, foi registrado o segundo massacre no departamento da Antioquia, cidade de Tarazá. Três pessoas foram mortas e outra ficou gravemente ferida. Os moradores de Tarazá narram que homens fortemente armados chegaram na cidade às 09 horas da noite, efetuando uma série de disparos que atingiram quatro homens, três dos quais foram fatalmente atingidos e morreram. Um deles era menor de idade. Eles acrescentam que o crime foi cometido por um dos dois grupos paramilitares ligados ao narcotráfico na região, o Clan Del Golfo e os Los Caparrapos.
O ocorrido se deu em menos de 24 horas de outro massacre ocorrer na cidade de Popayán, Cauca, onde três jovens que jogavam num campo de futebol foram mortos.
Na manhã do dia 12/01, pistoleiros atiraram em dois homens e uma mulher em uma feira de alimentos e reciclagem. Após os disparos, eles fugiram com motocicletas.
Na madrugada de 10/01, pistoleiros mataram três homens em Florência, Caquetá. O mesmo se repetiu no mesmo dia em Betania, na Antioquia. Um jovem de 23 anos, sua mãe de 42 e outro homem foram mortos. Outras sete pessoas foram feridas.
No ano passado, o país registrou cerca de 90 massacres. O velho Estado colombiano, com amplo histórico de aliança ao narcotráfico, busca ludibriar a opinião pública tratando os crimes como “conflito entre grupos armados criminosos”, negando o forte vínculo que tais grupos possuem com o latifúndio e com a classe política.
Líder indígena denuncia tortura e sequestro cometidos por paramilitares
No dia 17 de janeiro, Jesús Bailarín, um líder da Guarda Ambiental Indígena, foi solto próximo à Estação de Polícia de Pavarandó, no departamento de Chocó, após ter sido sequestrado e mantido preso por quatro horas pelo grupo paramilitar Clan Del Golfo. Acusado de ser colaborador da Frente 35 do Exército de Libertação Nacional (ELN), Bailarín estava caminhando com sua companheira perto do rio Jiguamiandó quando foi levado por oito homens, que forçaram um saco em sua cabeça para que não conseguisse respirar até confessar que era um guerrilheiro. Também ameaçaram cortar sua língua e matá-lo.
Desde setembro de 2020, o Clan Del Golfo tem ameaçado comunidades indígenas por terem destruído 150 hectares de coca plantados em suas propriedades. As plantações eram de grupos estrangeiros anônimos, mas estavam sob inspeção dos paramilitares.
Paramilitares promovem terror em comunidade camponesa
Ao norte do país, no departamento de Bolívar, a comunidade camponesa de El Salado denunciou uma série de ameaças sendo feitas pelo grupo Águilas Negras, paramilitares remanescentes da organização paramilitar terrorista de extrema-direita “Autodefesas Unidas da Colômbia” (AUC). A AUC praticou uma histórica chacina brutal com mais de 100 mortes na mesma comunidade em fevereiro de 2000.
Desde o dia 15/01, membros da comunidade receberam mensagens com ameaças e uma lista com vários líderes sociais e de vítimas do massacre de 2000. No dia 17/01, após uma queda de luz na madrugada, o povo despertou com panfletos espalhados pela comunidade, com fotos de lideranças camponesas que organizaram a retomada da terra em 2002 e outros líderes sociais, ameaçados de morte “se não abandonarem a comunidade”.
No ano 2000, paramilitares da AUC torturam, enforcaram, decapitaram e cometeram toda série de barbaridades contra os camponeses de El Salado. Os sobreviventes se viram obrigados a deixar a região, partindo para comunidades e cidades próximas. No final de 2001, necessitando de terra para trabalhar e morar, líderes camponeses começaram a retornar à El Salado. A retomada definitiva se deu em 2002, quando os conflitos na região ainda não haviam cessado.
Aliança do velho Estado com o narcotráfico paramilitar
No final da década de 90, houve um grande crescimento de grupos paramilitares de extrema-direita na Colômbia, ligados ao narcotráfico e financiados pelo velho Estado colombiano para combater os grupos armados, ainda que estes fossem orientados por uma linha oportunista (revisionismo armado). A própria AUC, por exemplo, recebeu apoio de políticos, militares, latifundiários e empresários. No Pacto de Ralito, um documento de 2001, diversas lideranças políticas e chefes da AUC firmaram aliança, prometendo “refundar o país”.
Desde 2006, dezenas de casos de alianças entre políticos colombianos e paramilitares vieram a público. Governadores, senadores, prefeitos e congressistas somaram à lista.
O governo atual, encabeçado pelo gerente de turno Iván Duque Márquez, também aparece envolvido em escândalos ligados ao paramilitarismo. Entre as denúncias de compras de votos nas últimas eleições, Duque contou com a participação de “Ñeñe” Hernández, um famoso narcotraficante, em sua campanha. Além disso, é aliado e defensor de Álvaro Uribe Vélez, latifundiário ex-presidente do país que carrega mais de 100 processos em andamento. A maioria deles envolve ligações com paramilitares e com o narcotráfico, ao lado de outros amigos latifundiários.