Uma menina de 15 anos foi estuprada por um agente do Esquadrão Móvel Antimotim (Esmad) em Medellín, Antioquia, no dia 28 de junho.
A adolescente foi encontrada por membros de uma missão médica por volta das 19 horas da noite, enquanto se desenrolavam os protestos nacionais na ocasião dos dois meses de manifestações.
A jovem foi transferida para o Hospital Geral Luz Carlos de Gutiérrez de Medellín e os responsáveis pelo seu tratamento confirmaram que a menina fora violada.
Examinação da jovem abusada também foi traumática
Embora o crime tenha sido relatado às 19h, ela teve que esperar várias horas para receber os devidos cuidados. A rota de atendimento aos casos de violência sexual com meninas jovens, à noite e nos finais de semana não funciona em Medellín.
A menor teve que esperar até o amanhecer, juntamente de três agentes diferentes do velho Estado, para ter atendimento médico, psicológico e social. O acompanhamento assemelhava-se muito mais a manter pressão e coação contra a menina – estuprada por outro agente do velho Estado– do que para a tranquilizar.
De acordo com a mídia local, seu percurso traumático começou em uma unidade médica assistida por homens, que a examinariam, para a qual ela evidentemente teve que ser encaminhada a outra missão encarregada de mulheres para lhe fornecer tratamento adequado.
Porém, ao chegar ao local mais recomendado para receber ajuda, a unidade médica foi atacada com gás lacrimogêneo pela polícia (que reprimia os protestos) e a adolescente foi encaminhada ao Hospital Geral Luz Castro de Gutiérrez de Medellín.
Nesse hospital, a menor já estava junto de uma inspetora, mas teve de ficar acompanhada também por um policial, ao qual a jovem evidentemente demonstrou desconforto. Após 1h30 da manhã, um inspetor entregou roupas à adolescente e após as 3h da manhã os agentes do velho Estado deixaram o hospital para deixar a vítima com a mãe.
“No caminho de volta para casa, o inspetor passou pelo local do crime e encontrou unidades de Esmad caminhando pela cena do crime enquanto faziam buscas no terreno”, alertaram defensores de direitos humanos.
Mulheres manifestantes são assediadas e abusadas por policiais durante os protestos
Durante os dois meses de manifestações que tomaram a Colômbia, não foram casos isolados os assédios e estupros contra manifestantes mulheres pela polícia, como mais uma forma de reprimir as massas em luta e de tentar dissuadir que as mulheres somassem força nos protestos populares.
De acordo com a Ouvidoria, um órgão oficial do governo colombiano, houve pelo menos 113 casos de “violência de gênero”. Pode-se afirmar que foram muito mais, devido ao medo das vítimas de represálias, perseguições e novas agressões, assim como o conhecimento generalizado de que o Estado não puniria os culpados. 90% das denúncias de violência sexual registradas em 2020 não passaram da fase inicial de investigação.
Em matéria do monopólio de imprensa BBC são relatadas as agressões contra as mulheres em luta. Na reportagem, há a história de uma jovem que teve a bandeira que utilizava amarrada em seu corpo agarrada por policiais e cercada por eles.
“Um grupo de cerca de oito policiais me cercou”, diz a mulher. “Um deles disse: ‘essa é boa para estuprar’”.
“Ele tinha uma espingarda de chumbo e estava apontando para mim de perto. Eu disse a ele que o fizesse”, disse ela, não se amedrontando com as ameaças vazias. “Ele só queria me assustar”, explicou ela, acrescentando que outros manifestantes vieram em seu socorro logo depois que o homem uniformizado a ameaçou.
“Eles começaram a nos chamar de vadias, putas, rameiras”, disse outra manifestante sobre os abusos que os policiais infligiram a ela e a outras mulheres durante os protestos em Medellín, em 20 de maio. “Eles nos perguntaram o que estávamos fazendo lá fora à noite, ameaçando nos matar”, relatou a estudante de 25 anos.
De acordo com a ONG Temblores, que monitora a violência policial, a organização afirma ter recebido relatos de 28 manifestantes que foram abusadas sexualmente por agentes das forças de repressão. Elas relatam terem sido forçadas a se despir, sido apalpadas e estupradas.
Atualmente, o Ministério Público está investigando sete denúncias de violência sexual por parte das forças de repressão. Entre eles está o caso de uma menina de 17 anos que foi estuprada por policiais na cidade de Popayán. A menor de idade suicidou-se um dia após o abuso.
Policiais agridem manifestante em Suba, Colômbia, em protesto contra a polícia pelo assassinato do trabalhador Javier Ordoñez, em 2020. Foto: Jose Vargas