Manifestantes enfrentam a repressão policial em Bogotá. Foto: Juan Barreto
O povo colombiano foi massivamente às ruas na greve do dia 28 de abril para protestar contra a nova reforma tributária imposta pelo governo ultrarreacionário de Iván Duque, de reestruturação do capitalismo burocrático em crise. As massas rebeladas contra a fome, o desemprego e o descaso com a saúde do povo durante a pandemia da covid-19 enfrentaram as forças de repressão e atacaram símbolos coloniais e do capital monopolista, como estátuas, bancos e ônibus.
Foram realizados protestos em mais de 23 cidades em todo o país.
“Desde cedo pela manhã, mas especialmente à tarde, em várias partes do país, em particular Cali, Bogotá e Medellín, as massas populares expressaram sua raiva reprimida ao longo de séculos de opressão, exploração e miséria, e a transformaram em batalhas ferozes com a polícia e ataques a instituições e símbolos do poder econômico e político, como bancos, o gabinete do governador, o gabinete do prefeito, DIAN [Diretoria de Impostos e Alfândegas Nacionais], monopólios comerciais, monopólios de transporte, estátuas de saqueadores e assassinos como a de Sebastian de Belalcazar (em Cali). Centenas de pessoas resistiram heroicamente durante horas em vários pontos da cidade de Bogotá e em diferentes partes do país.”, relata o portal de notícias revolucionário da Colômbia, El Comunero.
Pelo menos um jovem manifestante foi morto pelas forças do velho, e centenas foram feridos em todo o país. Pelo menos 26 pessoas foram presas – 19 delas na capital, Bogotá – e 44 policiais ficaram feridos.
Em Cali, fervorosos confrontos levaram o velho Estado a decretar um toque de recolher a partir das 15 horas. Cerca de seis lojas de redes monopolistas, 12 caixas eletrônicos, três agências bancárias e três ônibus foram atacados pelas massas. Além disso, indígenas Misak derrubaram uma estátua de Sebastián de Belalcázar, colonizador espanhol do século XVI.
Agência bancária incendiada em Cali. Foto: Getty
Em Bogotá, a capital do país, o dia começou cedo com bloqueios de estradas. Por volta das 10 horas da manhã, a maior das manifestações no país foi realizada no Parque Nacional central.
Milhares de pessoas marcharam em direção à Plaza de Bolívar, onde estão localizados o Congresso e o Palácio da Justiça. Lá, os manifestantes responderam ativamente à tentativa de dispersão pelas forças de repressão, que atacaram as massas com bombas de gás lacrimogêneo. A Brigada Móvel Anti-Motim (ESMAD, na sigla original) foi responsável por encurralar os manifestantes.
Segundo o El Comunero, os manifestantes e grupos de jovens revolucionários, em Bogotá, denunciaram o papel das forças militares e policiais que apontaram como “assassinos do povo” como o “braço armado dos exploradores” e lembraram companheiros assassinados nas lutas do povo pelas balas do velho Estado, expressando seu compromisso de continuar a luta, e entoaram em alto e bom som que Por nossos mortos, nem um minuto de silêncio, uma vida de luta!, e que As balas que dispararam voltarão, o sangue (do povo) que derramaram eles pagarão!.
Também na capital, um grupo de pessoas atacou as instalações do canal de televisão monopolista RCN e seu canal internacional, NTN24.
Manifestante soca um policial durante a manifestação de 28 de abril. Foto: Raúl Arboleda
Liga Juvenil Revolucionária. Foto: El Comunero.
Reforma tributária: velho Estado sanguessuga cerra mais seus dentes
A reforma tributária proposta pelo governo imporia um Imposto Sobre Valor Agregado de 19% sobre quase toda a cesta básica familiar, assim como sobre os hidrocarbonetos, afetando os transportes e congelando os gastos do orçamento nacional para todos os ramos do setor público (incluindo saúde e educação), com exceção das Forças Armadas.
A reforma propõe, entre outras medidas, a criação de um imposto de renda sobre pessoas que ganham mais de 656 dólares por mês, em um país onde o salário mínimo é de 248 dólares. Até agora esta obrigação só se aplica a salários acima de 1.050 dólares.
Além disso, acontecerá a tributação de serviços básicos em áreas da pequena-burguesia e a funerais.
“A reforma tributária vai basicamente aumentar o custo da cesta familiar quando não temos nem trabalho e nem sequer temos dinheiro para comer. Eu ganho o suficiente para o dia, eles quase me expulsaram de casa porque ainda não consegui pagar o aluguel”, disse Alexandra Torres, uma mãe chefe de família de Bogotá, ao monopólio de mídia France24.
Uma juíza do Tribunal Administrativo de Cundinamarca (região que circunda a capital Bogotá), também emitiu uma ordem proibindo as marchas de 28 de abril e 1º de maio, algo que foi rechaçado amplamente.
No dia 28 foi ouvido em numerosas ocasiões da boca dos manifestantes que O governo é um vírus pior do que o coronavírus!, demonstrando que a miséria é, atualmente, mais urgente para o povo.
índices desnudam a crise do capitalismo burocrático
Manifestação em Bogotá. Foto: Getty
Índices recentes que trazem à superfície os números de mazelas sociais como a fome, o desemprego e a inflação parecem confirmar a palavra de ordem Rebelar-se é justo!, praticada pelas massas colombianas nas manifestações multitudinárias.
Mais de 2,7 milhões de colombianos sofrem de fome crônica, uma situação que se agravou com a crise geral do imperialismo e capitalismo burocrático e durante a pandemia. Segundo dados do Programa Mundial de Alimentos, em outubro de 2020, 10,9 milhões de colombianos tinham um consumo alimentar insuficiente, um número que durante os meses de agosto e setembro chegou a 12 milhões.
Os dados também revelam que 54,2% da população da Colômbia vive em “insegurança alimentar” (fome). Cerca de 1,6% das crianças do país são extremamente desnutridas e 12,7% sofrem de desnutrição crônica.
Durante o mês de fevereiro de 2021, a taxa de desemprego era de 15,9% e a inflação em março de 2021 foi a maior em um período de cinco anos.