Colômbia: Rebelião popular ataca polícia e casa de prefeito após assassinato de manifestante

Colômbia: Rebelião popular ataca polícia e casa de prefeito após assassinato de manifestante

Explosão de posto de gasolina na cidade de Yumbo. Foto: Reprodução.

Uma grande rebelião tomou a cidade de Yumbo após a morte de um manifestante na madrugada do dia 17 de maio. O assassinato do jovem foi feito por policiais do Esquadrão Móvel Anti-motim (Esmad, na sigla original), em meio à brutal repressão a um protesto que deixou 22 pessoas feridas.

Entre o dia 17 e 18, duas pessoas da massa foram mortas pelas forças de repressão e 48 foram feridas em confrontos entre a polícia e manifestantes.. O contexto dos confrontos foram em meio à rebelião popular que ocorre desde o dia 28 de abril. Nove dos feridos eram policiais, que foram repelidos pelas massas enfurecidas, inclusive com armas de fogo e traumáticas (que disparam munições não-letais).

Até o final da noite do dia 17/05, um pelotão do exército reacionário havia sido destacado para reprimir o povo. Em resposta, manifesatntes responderam à repressão policial continuada atacando um Centro de Atenção Imediata (CAI, unidades de jurisdição menor da Polícia Nacional da Colômbia), a mega-estação da Polícia de Yumbo, a casa do prefeito, caixas eletrônicos e um posto de gasolina próximo à sede da empresa petrolífera estatal Ecopetrol, com objetos contundentes ou explosivos improvisados.

Isso ocorre porque no final da noite do dia 16 e madrugada do dia 17/05, no bairro de La Estancia, um bloqueio realizado por manifestantes fora reprimido desproporcionalmente pela Esmad. A violência foi tanta que quatro manifestantes ficaram gravemente feridos, e um morreu no caminho.

Vídeos do acontecido mostram as forças de repressão disparando com armas de fogo e lançando gás lacrimogêneo, afetando crianças e idosos que se encontravam na manifestação. Um dos vídeos mostra uma pessoa gravemente ferida após ter sido atingida na cabeça por um projétil. Testemunhas também disseram que um acampamento em que indígenas estavam reunidos foi atacado pelos policiais ao mesmo tempo.

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Diante da rebelião das massas, o Ministério da Defesa da Colômbia enviou um pelotão do exército reacionário para reprimir a cidade, além de fechar as fronteiras da cidade.

Foi amplamente repercutido, também, um vídeo que mostrava, em Yumbo, membros do exército reacionário ao lado e em conluio com homens encapuzados armados que não fazem parte do exército.

Respondendo às denúncias de que esses homens se tratariam de bandos paramilitares, o exército disse cinicamente: “em nenhum momento os soldados uniformizados são vistos entregando qualquer ‘elemento ou munição’ às pessoas que aparecem no vídeo.”

Não obstante, o prefeito do município de Yumbo (Valle del Cauca), John Jairo Santamaría, fez um apelo ao governo nacional e ao comitê de greve que está negociando a luta das massas na Casa de Nariño, em Bogotá, para “resolver logo esta situação para que não haja mais derramamento de sangue”. Ou seja, ameaça que a repressão continue caso a greve não pare, e que o derramamento de sangue seja do povo, tendo em vista que as vítimas de Yumbo foram civis.

Em outras cidades as massas também lutam com combatividade

Na cidade de Cartago, também no Valle del Cauca, também ocorre um grande levantamento das massas por seus direitos mais básicos e contra a repressão. O Padre Nestor, pastor da igreja no bairro de San Vicente de Paul, denunciou a situação na estação de rádio Bluradio: “A Esmad está contra o povo e eu também fui atacado (…) a igreja também foi violada neste momento pela Esmade pelo gás lacrimogêneo”, acrescentou ele.

A governadora do Valle del Cauca, Clara Luz Roldan, emitiu um decreto que estende o fechamento das fronteiras no departamento até o dia 23/05  e restringe a entrada no território.

Enquanto isso, o gabinete do prefeito de La Plata, um município da parte oeste do departamento de Huila, foi incendiado nas primeiras horas do dia 17/05, somando-se a eventos similares ocorridos naquela semana com a sede desses escritórios em Jamundí (Valle) e Popayán (Cauca).

Repressão sem fim contra o povo

Em meio a mais de 120 investigações em andamento contra policiais por abuso de autoridade, pelo menos 42 pessoas morreram desde o início da greve nacional (um agente e 41 civis), de acordo com relatórios oficiais da Ouvidoria. Também houve mais de 1.600 feridos entre manifestantes e oficiais uniformizados, de acordo com relatórios citados pela agência de notícias AFP.

Entretanto, organizações como a ONG Temblores e Indepaz emitiram relatórios indicando que aproximadamente 47 pessoas foram mortas durante os protestos, 1.956 casos de violência policial, 313 casos de violência ou agressão física apenas pela Polícia Nacional, 1.003 prisões arbitrárias contra manifestantes, 28 vítimas oculares da agressão policial, 12 vítimas de violência sexual contra manifestantes por parte das forças do velho Estado. A Procuradoria Geral, por sua vez, confirmou apenas a morte de 14 civis e um policial, embora tenha declarado que ainda está trabalhando no processo de esclarecimento de outros 10 assassinatos.

Esses números, entretanto, são certamente subestimados. Seja por negligência do velho Estado por expor os números da violência que ele mesmo perpetua, seja por defasagem nos levantamentos do número de feridos, presos ou assassinados durante protestos realizado por ONGs.

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