*Atualizada em 15h49 do dia 26 de janeiro
Segundo a coluna da jornalista d’O Globo, Malu Gaspar, o ministro da Defesa José Múcio ameaçou no mês de janeiro abandonar a pasta que coordena, mas mudou de ideia após pedidos diretos e pessoais do “presidente” Luiz Inácio. Chama a atenção que o mandatário do País, eleito com a promessa de colocar os militares em seu devido lugar, tenha tanto apreço e compromisso com o ministro da Defesa que, de forma escancarada, é porta-voz das exigências dos milicos golpistas no governo.
Até aqui, a pedido ou sob ordens, Luiz Inácio deu rédeas soltas às vontades e imposições das Forças Armadas reacionárias sobre o governo, transportadas ao governo por Múcio. Ele teve papel direto, por exemplo, no adiamento da reabertura da Comissão Especial de Mortos e Desaparecidos Políticos. Fechada no final do governo Bolsonaro, a comissão depende há mais de um ano de uma canetada na Casa Civil para a reabertura, mas segue adiada.
Os militares reacionários já deixaram claro que são contra a reabertura. Joseli Parente Camelo, presidente do Superior Tribunal Militar (STM) nomeado por Lula, afirmou que a reabertura é “completamente desnecessária”. Ele tentou justificar ao explicar que “não podemos olhar o país pelo retrovisor, ficar olhando pra trás. Temos de olhar pra frente, e não no que ocorreu há 50 anos”.
Múcio, apesar de fingir que “não é contra”, já afirmou também que “não dá para a gente abrir novas trincheiras”, como disse à Malu Gaspar em setembro do ano passado. É sabido que, nos bastidores, Múcio mantêm uma posição clara de que a comissão não deve ser reaberta. Em outubro do ano passado, a jornalista do monopólio de imprensa Estadão, Monica Gugliano, chegou a reportar que o ministro se reuniu mais de uma vez com a pasta dos Direitos Humanos e Cidadania para adiar a recriação da comissão.
Além dessa questão, Ministério da Defesa se negou a encaminhar uma proposta recebida que extinguia a pensão a filhos de militares. O projeto ficou meses nas mãos da presidência desde que foi enviado em julho de 2023, mas acabou engavetado pela Defesa. Em outros momentos do ano passado, Múcio articulou com Lula a criação de outros projetos de investimento para as Forças Armadas reacionárias. Nos últimos meses, as concessões de Lula aos militares ficaram ainda mais escancaradas com o crescimento do número de funcionários militares da ativa no governo. Agora, eles já são 2.760 na esfera federal.
Agora o ministro, e com ele, a caserna, certamente ficam reforçados em sua posição. Afinal, pode se supor que um ministro que fica no cargo, a pedidos do presidente, tem maior poder de barganha. A questão é: o que mais Lula cederá para os militares?