Segundo dados disponibilizados recentemente pela Fundação Getúlio Vargas, os 5% brasileiros mais ricos concentram 39,9% da renda nacional do País. Os dados são de 2022, e expressam um crescimento da concentração de renda nas mãos dos grandes burgueses: em 2017, os 5% mais ricos concentravam 36,5%. O aumento da concentração de renda se deu de forma concomitante ao desenvolvimento da crise no País, que por sua vez é reflexo da própria crise geral sem precedentes do imperialismo. Em todo o resto do mundo, a concentração de renda também aumentou.
Ainda no Brasil, dados divulgados no dia 14 de janeiro pela Oxfam revelaram que quatro dos cinco brasileiros mais ricos tiveram uma alta de 51% em sua fortuna desde 2020, ao mesmo que 129 milhões de brasileiros ficaram mais pobres. A pessoa mais rica do país detém uma riqueza equivalente à metade mais pobre do Brasil, composta por 107 milhões de pessoas.
A nível internacional, o relatório mostrou que a riqueza dos cinco homens mais ricos do mundo quase dobrou desde 2022, enquanto outras cinco bilhões de pessoas ficaram mais pobres. Assim como no Brasil, se bem que em números um pouco menores, também há uma concentração de renda absurda dos ativos, reflexo do próprio caráter monopolista da economia do sistema imperialista mundial: o 1% mais abastado globalmente concentra 43% dos ativos financeiros globais, refletidos em 47% na Europa, 48% no Oriente Médio e 50% na Ásia.
A situação de alta concentração da renda é parte das crises que se desenvolvem há décadas no mundo, cada vez mais frequentes, mais intensas e sempre com a tendência à monopolização cada vez maior. Nos últimos três a quatro anos, abarcados pelo relatório, uma nova crise de superprodução relativa por pouco não estourou. Do USA à China, sinais se manifestaram, desde a queda em ações como Dow Jones Industrial Average, S&P e Target em 2019, o corte de preços nos produtos de empresas imperialistas como a Apple, a crise imobiliária na China, sobretudo em gigantes como Evergrande e os sintomas da crise expressos em todo o resto do mundo, como a alta da inflação da qual poucos ou nenhum país escaparam. Apesar da crise não ter explodido (como ocorreu em 2008-09) pela redução no ritmo da economia imposto pela própria pandemia mundial, os povos do mundo não deixaram de sentir o desenvolvimento dessa crise. De 2020 para cá, 791 milhões de trabalhadores tiveram que viver com um salário abaixo da inflação, e chegaram a perder 1,5 trilhão de dólares (R$ 7,4 trilhão) em dois anos. É o equivalente a 25 dias de salário perdidos para cada um.
Enquanto as massas populares enfrentavam as condições insalubres de trabalho em meio a desenfreada mortandade da pandemia de Covid-19, refletindo o aumento da pobreza entre a população brasileira, a intensa concentração de riqueza aumentava. As 148 maiores empresas do mundo lucraram US$ 1,8 trilhão, 52% a mais do que a média dos últimos três anos, e distribuíram robustos dividendos para acionistas ricos enquanto milhões de pessoas enfrentavam a pauperização. Isso está relacionado à precarização do mercado de trabalho, incluindo altas taxas de desemprego, tendências salariais em baixa e reduções nos direitos trabalhistas e previdenciários .
‘’A intensificação da concentração de riqueza e poder entre os super-ricos amplifica de maneira extraordinária as disparidades globais”, afirma Katia Maia, diretora executiva da Oxfam Brasil. “O domínio corporativo e monopolista sem controle é uma fonte substancial de desigualdade”, continua ela.
Isso, claro, não é de hoje. De acordo com as últimas informações e análises disponibilizadas pelo World Inequality Lab em dezembro de 2021, observa-se que, desde 1995, o 1% mais privilegiado tem se apropriado de 19 vezes mais do crescimento da riqueza global em comparação com a parcela que representa os 50% menos favorecidos da população mundial.
Uma vez que esse cenário é intrínseco à própria base econômica do sistema imperialista, não há perspectivas de melhora por dentro dele. Em 2021, foi previsto que os 20% mais ricos teriam recuperado quase metade das perdas sofridas em 2020, enquanto o Banco Mundial projetou uma média de perda adicional de 5% de renda para os 20% mais pobres. As fortunas dos dez indivíduos mais ricos do mundo duplicaram, ao passo em que mais de 160 milhões de pessoas foram empurradas para a pobreza, Para exemplificar: levaria cerca de 414 anos para esgotar o total de suas fortunas combinadas se os 10 homens mais ricos optassem por gastar um milhão de dólares diariamente.