A marcha batida do governo de Luiz Inácio aos braços do centrão e dos militares reacionários tem gerado críticas até mesmo dos próprios integrantes da sigla. Nos preparativos da Conferência Estadual do PT, uma reunião da cúpula do partido terminou com alfinetadas contra os rumos tomados por Lula e os outros integrantes do PT no governo ao longo do ano. Acontece que os críticos do governo não tem muito onde se ancorar. As próprias condutas e pronunciamentos ao longo dos últimos anos não foram muito distantes do que o governo faz agora, apesar do discurso mais bravateiro de alguns.
Escatologia
O escatológico vice-presidente do partido, Washington Quaquá, encabeçou algumas das críticas de que faltavam ministros “de esquerda” (considerando, aqui, os critérios amplos e mal definidos dessa figura para “esquerda”) no governo. “Está faltando um coletivo de ministros, parlamentares e dirigentes que reúnam (sic) permanentemente com o presidente e formem um núcleo de poder que dê rumo ao governo e ao país”, diz um trecho da emenda de Quaquá. Nos pronunciamentos, Quaquá reconheceu que a afirmação poderia soar estranha vindo dele, um notório “aliancista” (em suas palavras).
É, de fato, demais. Apesar das críticas de agora, Quaquá defendeu abertamente, em uma entrevista concedida em setembro à revista reacionária Veja, que: “para sustentar o governo Lula, tem de ter uma base ampla no Congresso, em especial fazendo uma aliança com o Lira e com o Centrão, que nos entregam a maioria para fazer as políticas que queremos”. Também esse ano, Quaquá brigou para defender uma aliança, nas eleições do Rio de Janeiro, com a chapa do prefeito de Belford Roxo e apoiador de grupos paramilitares, Wagner Carneiro, o “Waguinho”.
Ou o nível de alianças e concessões de Luiz Inácio com o “centrão” chegou a tal nível que impressiona e desagrada até mesmo figuras tão flexíveis como Quaquá, ou as críticas não tem nada a ver com discordâncias ideológicas, e a disputa de cargos nos ministérios tem a ver com outros interesses, escusos e mais pessoais.
Outros elementos, como Gleisi Hoffmann, também tocaram no ponto das concessões. Além dos ministérios, ela também criticou a entrega extensa de parlamentares do centrão para cargos em órgãos importantes como a Companhia de Desenvolvimento Vale São Francisco (Codevasf). Mas ora, Hoffmann, apesar de ser tida como “linha dura” e “anti-pragmática”, também já deu mostras de sua flexibilidade esse ano. Na ocasião da reforma ministerial, Hoffmann foi uma das que admitiu que “o PT não faltará ao presidente Lula, entendemos o que é uma composição e uma aliança e sabemos da necessidade de ter ampla base de apoio no congresso”.
Valorização dos militares
É claro que as aberturas do governo aos militares reacionários não passaria batido. Os revoltados de ocasião, como a própria Hoffmann, chegaram a defender a demissão do semibolsonarista ministro da Defesa, José Múcio, que foi elencado como um “braço dos militares” no governo.
Mas não significa que Gleisi tenha qualquer discordância com afagos aos militares reacionários. Em 2017, a senadora fez questão de rememorar as bênçãos que os governos petistas sempre deram à caserna: “Nossos governos sempre mantiveram um diálogo respeitoso e produtivo com os militares. O tratamento dispensado às pastas da Defesa no orçamento buscou sempre blindar recursos destinados aos principais projetos de cada uma das Forças, diferentemente do que ocorria em governos anteriores aos nossos”.