Amanhã, a Cúpula da Amazônia em Belém (PA) iniciará oficialmente, reunindo países membros da Organização do Tratado de Cooperação Amazônica sendo eles Brasil, Colômbia, Bolívia, Equador, Peru, Suriname, Guiana e Venezuela. Além dos países membros da OTCA, participam também a Alemanha, França, Noruega, Congo e Indonésia. O principal objetivo do evento é extrair um consenso entre os países participantes, sob tutela dos países imperialistas, acerca de 130 questões relacionadas ao desenvolvimento na Amazônia, a pretensa defesa do meio natural e a exploração de recursos naturais, como petróleo.
Presidida pelo oportunista Luiz Inácio, a Cúpula reunirá representantes e lobistas do agronegócio, petrolíferas, mineradoras e ditos ambientalistas. Longe de encaminhar qualquer coisa de progressista que garanta os direitos do povo pobre do campo ou mesmo a defesa do meio natural, a Cúpula reunirá notórios hipócritas no discurso “ambientalista”.
Imperialismo finca garras na Amazônia
Enquanto a Alemanha e outros países imperialistas lançam mordazes apelos contra o desmatamento, emissão de carbono e outras máximas do ambientalismo, a verdade é que eles têm se beneficiado exatamente das práticas nocivas ao meio natural.
Ao longo dos últimos anos, a penetração de capital imperialista em empreendimentos econômicos na Amazônia se aprofundou. Bancos como o Deutsche Bank, DZ Bank e Commerzbank, todos vinculados ao imperialismo alemão (que financia o chamado Fundo Amazônia), injetaram mais de R$ 54 bilhões de dólares em mineradoras monopolistas vinculadas a conflitos em território brasileiro. São conflitos decorrentes da atuação desenfreada da mineração legal e ilegal no País, que se mantém tanto pela miséria imposta decorrente do monopólio da terra quanto pelos firmes laços com os imperialistas que compram – e “legalizam”, no caso da exploração ilegal – o ouro.
Segundo uma publicação feita pelo Observatório da Mineração em outubro de 2021, a maior beneficiária foi a Anglo American, mineradora inglesa (imperialismo inglês) que recebeu investimentos do Commerzbank.
A Deutsche Bank é, ainda, responsável por financiar mineradoras como a Belo Sun (Canadá), Glencore (Suiça), Rio Tinto (Reino Unido e Austrália) e Anglo Gold Ashanti (África do Sul), sendo essas duas últimas também financiadas pelo DZ Bank. Inclusive, a Belo Sun é responsável por extrair ouro no Pará em território indígena. Como se vê, não há defesa do meio natural ou dos povos indígenas, mas sim a velha exploração semicolonial.
Mas não apenas na mineração as potências imperialistas demonstram-se hipócritas. Ao longo deste ano o ICMBio realizou uma série de operações que apreenderam cerca de 2.500 cabeças de gados na Reserva Biológica Nascentes da Serra do Cachimbo – área de transição entre o cerrado e a Floresta Amazônica, que abriga as nascentes dos rios Tapajós e Xingu, no Pará. Estima-se que ainda há 100 mil cabeças de gado para serem retiradas da área. Tal área, vale lembrar, foi atingida pelas queimadas criminosas do latifúndio do Pará em 2019, que ficou conhecido como “Dia do Fogo” e se tornou, anos depois, área de pasto. Agora, adivinhem para onde estava sendo destinado essa carne, segundo investigações? Para a Europa, e sem a devida fiscalização ou rastreio da origem.
Se os representantes do imperialismo são hipócritas, por outro lado, tampouco o governo tem se mostrado preocupado com o meio natural e com os povos originários, na prática.
No final de maio deste ano, Luiz Inácio permitiu que o Congresso Nacional aprovasse a MP dos Ministérios, que modificou as atribuições dos Ministérios do Meio Ambiente e dos Povos Indígenas. O Ministério do Meio Ambiente, chave para investigar “crimes ambientais”, perdeu as atribuições sobre a Agência Nacional de Águas (ANA) e do Cadastro Ambiental Rural (CAR). Este último, que fiscaliza e registra as propriedades rurais do país, teve suas atribuições passadas ao Ministério da Gestão e da Inovação em Serviços Públicos. Quanto ao Ministério dos Povos Indígenas (de Sônia Guajajara), perdeu as atribuições sobre a demarcação de terras de povos indígenas, que passou para o Ministério da Justiça.
O que dizer, então, do aumento em 83% no desmatamento do Cerrado em maio deste ano (chegando a 3.532 km²), enquanto o Ministério do Meio Ambiente amargou um bloqueio de mais de R$ 97,5 milhões em verbas? É, ou não, hipocrisia?
A Cúpula da Amazônia, portanto, reunirá o melhor da hipocrisia em matéria de “ambientalismo” e “defesa dos povos indígenas”.