Casas e comércios destruídos, escolas e hospitais fechados, destruição de áreas de lazer. Estas são as principais consequências para os moradores do Complexo da Maré, que denunciam as forças policiais que promovem uma operação continuada. Polícia Militar (PM) e Força Nacional de Segurança Pública estão atacando direitos básicos dos moradores, tais como o direito de ir e vir, a inviolabilidade do lar e a presunção de inocência. Neste dia 18 de outubro, policiais do Batalhão de Operações Especiais (Bope) e do Choque estiveram desde a madrugada nas favelas da Nova Holanda e do Parque União.
Neste 6° dia de operação policial no Complexo da Maré, as favelas mais afetadas foram Parque União e Nova Holanda. A organização “Redes da Maré” denunciou que, no total, são 13 favelas e mais de 120.000 pessoas direta e indiretamente impactadas. Pelo menos 18.000 alunos estão sem aulas nesse período. Mais de 3.000 atendimentos deixaram de ser realizados nas unidades de saúde. São muitos relatos de invasões de domicílios e danos ao patrimônio. A organização ainda afirmou que os policiais dos batalhões especializados não estão utilizando câmeras corporais.
Foram 37 as unidades escolares que não tiveram aulas por conta da operação. Além disso, as clínicas Jeremias Moraes e Diniz Batista seguiram fechadas. Este é o sexto dia oficial de operações. Oficial pois as operações já ocorrem, pelo menos, desde o início do mês de outubro. No dia 02/10, o ministro da Justiça, Flávio Dino, autorizou o envio de tropas e veículos blindados da Força Nacional (vinculada ao governo federal). Também está prevista o envio de R$ 95 milhões para a construção de mais um presídio no estado do RJ.
R$ 240 mil por fuzis apreendidos
As informações oficiais veiculadas pelos comandantes de batalhões da PM genocida de Cláudio Castro (e repetidas pelos monopólios de imprensa) não dão conta das consequências para a vida dos moradores. O pronunciamento da PM informou que foram efetuadas 28 prisões, além da apreensão de 500 kg de drogas e de 14 fuzis.
Com o alto número de fuzis apreendidos (somando aos 33 fuzis apreendidos anteriormente que, sozinhos, somam R$ 165 mil), o governo estadual deverá pagar um valor de R$ 240 mil como bonificação prevista pelo decreto de 21 de agosto. Ele prevê o pagamento de R$ 5 mil por fuzil, verba que sairá dos cofres públicos diretamente para os policiais que cometem crimes continuados contra o povo. Claro que aí não está incluído a verba movimentada pelos fuzis comercializados de forma ilegal pelos militares reacionários das policiais e Forças Armadas com traficantes de drogas.
Moradores denunciam policiais
As operações têm se concentrando em diferentes favelas a cada dia. Favelas como Nova Holanda, Parque União, Baixa do Sapateiro e Vila do João tem sido alvos constantes, além de Rubens Vaz, Sem Terra, Conjunto Esperança, Salsa e Merengue, Vila dos Pinheiros, Timbau.
Um morador foi entrevistados pelo AND e denunciou que a operação afeta o trabalho de todo mundo:
— Eu trabalho na pista e quando os policiais entram não dá pra ir porque realmente fica muito perigoso. E, querendo ou não, nesa rotina se um dia de operação já tem prejuízo, imagina essas duas semanas. Um amigo aqui do lado teve uma vez que os policiais entraram na casa dele. Roubaram dinheiro, jóia, tudo. Aí o cara foi lá correr atras do ‘preju’ mas não devolveram completo pra ele, não.
Ele também denunciou que as operações prejudicam as aulas, obrigando a que se fechem as escolas e, ainda, dão uma incerteza para toda a favela: “A gente nunca sabe quando eles vão embora, quando vão entrar”, afirmou.
Há ainda uma importante denúncia de que mesmo com o uso de câmeras nos uniformes, os policiais prosseguem praticando crimes contra o povo:
— Esse negócio de câmera no uniforme parece que não serve de nada. Porque se os caras quiserem tirar e mal-tratra a gente, eles vão fazer de qualquer jeito. Aí é fogo. Tá difícil pra todo mundo.
Uma outra moradora afirmou que o povo se organizou para protestar contra a destruição do único ponto de lazer da favela:
— A Força Nacional estava aqui na segunda e ontem [terça-feira, 17 de outubro]. Segunda foi o pior dia. Desde muito cedo, 4, 5 horas da manhã, já tava dando muito tiro. Teve muita denúncia deles invadindo casa das pessoas, roubando coisa quando a pessoa não tava em casa, quebrando tudo, estragando carro de morador, entendeu?
Um protesto foi organizado contra a destruição da única área de lazer de uma das favelas:
— Teve também uma área de lazer, a única area de lazer que temos, que eles destruíram tudo: o totó, a sinuca. Neste dia, teve uma manifetação bem combativa.
A moradora Thais Cristina denunciou, em suas redes sociais, que os policiais invadiram sua casa e a acordam com um fuzil na cara. “Dentro da minha própria casa tive que ouvir várias barbaridades. Ainda bem que meus filhos estavam dormindo”, denunciou a moradora, que também informou que os policiais ameaçaram forjar flagrante e que colocariam “sua casa de cabeça pra baixo” só para que ela tenha que passar o dia todo arrumando.