O monopólio de imprensa se interessou pelo ageísmo e suas variações após uma aluna de faculdade, em São Paulo, ter sido discriminada por ter mais de quarenta anos e frequentar o curso. Uma discussão se instalou na internet e muitas pessoas se pronunciaram.
Seria interessante e necessário, nós, mulheres progressistas e ativistas, colocarmos nossa posição a respeito dessa discriminação e seus desdobramentos. Considerando que tudo o que se refere ao comportamento humano deva ser politizado, discutido, sem exceção. Se temos uma proposta para um mundo novo e melhor, nada pode ser negligenciado.
Nossa sociedade gera a longevidade para alguns e gera também o preconceito ao ato de envelhecer. Embora se saiba cientificamente que a idade cronológica não é um marcador preciso às mudanças do envelhecimento. Tudo vai depender a que classe social a pessoa pertence. Outras variações significativas seriam as relacionadas à herança genética, ao bem-estar pessoal, às dificuldades de acesso à saúde de qualidade, à independência pessoal, excesso de trabalho, meio ambiente, alimentação, salário etc. Além de que a interiorização do etarismo na mente cria doenças e a saúde mental fica comprometida. Mesmo a aposentadoria passa a ser uma faca de dois gumes já que muitas pessoas precisam voltar ao trabalho depois de aposentadas.
Outra coisa que acelera o preconceito no ageísmo é que a noção de idade valoriza os homens e desqualifica as mulheres. O exercício da sexualidade também é algo que pesa, só aceito no casamento ou na união escolhida pelo casal, sempre com dependência da mulher. Assim como o apaixonamento e o amor, só vistos como coisas da juventude. Aos homens tudo é permitido e valorizado como o fato de terem “belos cabelos brancos”, serem “maduros e atraentes” etc. Se a mulher ousar se relacionar ou se unir a um homem mais jovem, será possivelmente execrada ou ridicularizada.
Começar uma nova relação, nova carreira, conseguir vaga de emprego, tudo isto fica complicado para a mulher madura, ademais da decisão de morar sozinha. Embora algumas tenham se casado mais de uma vez, são questionadas se são gays ou se têm raiva dos homens. Ou se não são competentes para encontrar um parceiro. Ouvem das mulheres mais jovens: “Se você encontrasse um homem que te quisesse, você não mudaria de opinião?” Insinuando a incapacidade de serem atraentes aos homens e dependendo deles, entretanto, para transformar suas vidas, e, finalmente, serem felizes e realizadas. E muitas vezes pessoas dizem, condoídas, que vão apresentá-las a um parente qualquer, ou um amigo, para tirá-las da ‘suposta’ solidão!
A mulher madura fica à mercê do sistema capitalista, ou seja, do Estado, das religiões e seitas, dos empregos mal remunerados, ou dos homens – que também são explorados e oprimidos -, o que lhe impede de crescer. Espera-se que a mulher seja um sujeito flexível em meio a toda essa ciranda opressora. Exige-se dela um comportamento de aceitação, de subjugação. Um cenário que, supomos, não tem amedrontado muitas das pertencentes a grupos organizados e decididos. Para outras, no entanto, a maioria sofre de um ageísmo envergonhado.
Muito do que está aqui sendo analisado não foi aprendido apenas com Clara Zetkin/Krupskaya/Rosa Luxemburgo/ Chiang Ching ou Simone de Beauvoir. Mas principalmente com as destemidas e valorosas operárias, camponesas e trabalhadoras de nosso país.
O fim da vida não é a velhice, mas a morte. E as mulheres de idade têm uma vantagem sobre moças e rapazes: elas não morreram jovens. Será que têm de pedir desculpas por estar vivas? O que devemos fazer, afinal de contas, é celebrar a vida!
Quarenta milhões de idosos e idosas constituem uma extraordinária e possível força revolucionária que não pode e não deve ser subestimada. Cabe a nós, mulheres e homens que enxergamos além, alertar para a discriminação e preconceito contra as pessoas maduras. Por conta disto, práticas discriminatórias têm sido realizadas e incentivadas. Temos de mudar esta abordagem, este entendimento – injusto e contrário a nossos princípios -, e ativar a conscientização. Sob pena de perdermos pessoas que estariam resolutamente ao nosso lado para mudarmos o Brasil.
VBJunho
Rio, 5 de junho de 2024