Coreia: Camponeses boicotam avanço na construção de base militar do USA

Coreia: Camponeses boicotam avanço na construção de base militar do USA

Massas coreanas protestam contra avanço na construção de base ianque na vila de Soseong-ri. Foto: Xinhua/Wang Yiliang

Camponeses da vila de Soseong-ri, cidade de Seongju, na província de Gyeongsang do Norte, têm boicotado o desenvolvimento de uma base militar do Estados Unidos (USA) em sua vila. A luta dos camponeses na região ocorre desde 2017, ano em que as primeiras instalações da base foram feitas.

Camponeses se negam a participar de ‘conselho’

Para seguir com a construção da base, atualmente sediada em um antigo campo de golfe, o velho Estado sul-coreano buscou formar um conselho governamental-civil, que contará com a presença de “especialistas”, camponeses que moram na vila, governantes da província e ministros do Meio Ambiente e da Defesa. 

Os camponeses, contudo, têm se recusado a eleger um representante para tomar parte nas reuniões. Eles se opõem integralmente ao desenvolvimento das construções da base e à própria existência da base nas condições atuais. Desde meados de junho de 2022, o Ministro da Defesa já enviou três cartas aos camponeses. Todas elas foram cabalmente ignoradas.

Protestos contra a base ianque em território coreano

Além do boicote aos conselhos governamentais, os camponeses têm se mobilizado em manifestações contra a implementação da base. No dia 23/06, centenas de pessoas da cidade de Seongju e da cidade vizinha de Gimcheon foram até a capital Seul para realizar uma manifestação em frente ao escritório presidencial de Yongsan, bairro da capital.

Os manifestantes denunciaram que a implementação da base foi anti-democrática e ilegal, uma vez que não consultou os camponeses e outros residentes, não realizou levantamentos ambientais prévios, foi construída sob nome de “implementação temporária” e não passou pelo parlamento do país. Faixas que exclamavam Pare a construção para implantação formal do THAAD [sigla em inglês para Defesa Terminal de Área de Alta Altitude] que visa construir uma aliança [militar] entre a Coreia do Sul, os Estados Unidos e o Japão! foram erguidas na manifestação.

Camponeses protestam contra base militar ianque. Foto: Yonhap

Desde junho, o reacionário presidente do velho Estado sul-coreano, Yoon Suk-yeol, lacaio do USA, tem servido aos planos do imperialismo ianque de desenvolver a base militar em Soseong-ri, que abriga um sistema de Defesa Terminal de Área de Alta Altitude e foi instalada sem nenhuma consulta prévia com os camponeses. Atualmente, a base é sediada em um antigo campo de golfe, e os soldados ficam instalados nas antigas sedes do campo e em contêineres. 

Cinco anos de resistência e luta

Desde 2017, ano de início da implementação da base e chegada das primeiras tropas do imperialismo ianque, os camponeses de Soseong-ri têm desenvolvido a sua luta contra a presença militar imperialista na vila. Naquele ano, faixas foram erguidas em pontos do cidade de Seongju com a consigna Pare o militarismo do USA na Coreia!

Um festival cultural também foi organizado, com apresentações de crianças cantando músicas com conteúdos anti-imperialistas. Naquela época, os camponeses denunciavam que a presença de base ianques estimulava divisões entre o povo coreano, fortalecendo a divisão entre Coreia do Norte e Coreia do Sul enquanto eles, por sua vez, eram favoráveis à aproximação com o lado norte da península. Eles denunciavam também que a militarização ianque da Coreia do Sul gerava contradições entre o povo coreano e o chinês, o que acabava por gerar problemas para os comerciantes coreanos na Coreia e na China que tinham chineses como principal base de clientes.

Faixas erguidas na cidade de Seongju. Foto: Lauren Fryer/NPR

Crianças cantam músicas anti-imperialistas. Foto: Lauren Fryer/NPR

Em abril e maio de 2018, os camponeses da cidade de Seongju organizaram bloqueios de rua para impedir que mais caminhões de construção e outros equipamentos chegassem à base militar. Os protestos foram duramente reprimidos, com um aparato de mais de 1.000 policiais acionados para reprimir em torno de 100 manifestantes. Confrontos entre os policiais e manifestantes ocorreram em mais de um dos protestos.

Segundo os camponeses e outros residentes da cidade de Seongju, além da base ser um bastião do imperialismo ianque no país, existem diversos outros riscos envolvidos na implementação do THAAD. Eles temem que as ondas eletromagnéticas liberadas pelos equipamentos militares possam prejudicar a saúde das pessoas e contaminar as plantações. Outros temem que a construção e o estabelecimento de tropas ianques na vila possam vir a poluir os rios, essenciais para o trabalho dos camponeses.

Os interesses da superpotência hegemônica única na Ásia

O avanço na construção da base THAAD de Seongju ocorre em meio ao avanço do imperialismo ianque no continente asiático, tanto no plano econômico quanto militar. Como já denunciado pelo AND: “Atualmente, o continente asiático tem grande importância para o imperialismo ianque. […] No âmbito econômico, o ultrarreacionáro Biden tem como foco – como se mostrou ao ser uma das pautas da reunião do Quad [Diálogo de Segurança Quadrilateral, Quad na sigla em inglês, é um fórum estratégico que se debruça sobre assuntos militares e é composto pelo USA, Japão, Austrália e Índia] – o desenvolvimento da tecnologia 5G, que tem sido palco de uma grande corrida interimperialista entre China e USA. Já no campo militar, as regiões de Taiwan, o mar da China, a fronteira entre China e Índia e as Ilhas Kuril compõe o principal campo de interesse do imperialismo ianque”.

Ao longo das últimas duas décadas, o jornal A Nova Democracia tem se sustentado nos leitores operários, camponeses, estudantes e na intelectualidade progressista. Assim tem mantido inalterada sua linha editorial radicalmente antagônica à imprensa reacionária e vendida aos interesses das classes dominantes e do imperialismo.
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