Artigo do professor Fausto Arruda a ser publicado na página 3 da edição nº 223 do jornal A Nova Democracia (2ª quinzena de maio e 1ª de junho de 2019), que chegará nas bancas ainda esta semana.
Todos os governos anteriores a Bolsonaro utilizaram o contingenciamento de verbas para administrar o orçamento da União segundo a entrada de recursos nos cofres da fazenda e a prioridade em pagar juros aos banqueiros.
Bolsonaro resolveu transformar o contingenciamento numa ameaça a todas as instituições de ensino superior e até de ensino técnico. De saída, o ministro da Educação, Abraham Weintraub, afirmou que o corte de verbas atingiria as universidades nas quais “há balbúrdia”, ou seja, onde professores e alunos estão empenhados em defender o direito à universidade pública, gratuita e de qualidade. Depois, Bolsonaro estendeu a medida a todas as universidades, além de fazer um levantamento das bolsas oferecidas pelas instituições de pesquisa para efetuar um corte draconiano em suas verbas, reduzindo tremendamente a oferta de bolsas para mestrado e doutorado.
Num verdadeiro atentado ao desenvolvimento científico do país – o qual, tanto o Ministro, como Bolsonaro consideram despesas desnecessárias – tal medida serviu para atiçar um verdadeiro vespeiro, provocando a mobilização de milhões de professores e estudantes no dia 15 de maio, numa demonstração de que irão às últimas consequências para impedir a destruição do ensino, da pesquisa e do desenvolvimento científico no Brasil.
Qual o motivo de toda esta ameaça contra a educação? Noves fora o fato de o senhor Abraham ter sido escalado para ser o “exterminador do futuro do MEC”, cumprindo determinação programática ditada por Olavo de Carvalho (segundo o qual o ministério e as universidades são redutos de comunistas, que estariam desenvolvendo em todas as suas divisões o chamado “marxismo cultural”), a medida chantagista tem, também, as digitais do Chicago boy Paulo Guedes.
Guedes insiste em arrancar dos previdenciários a quantia de um trilhão e trezentos bilhões para entregar aos especuladores e sanguessugas do sistema financeiro internacional. O banqueiro afirma que se não passar a “reforma da Previdência”, do jeito proposto, não haverá como arcar com as despesas das Universidades brasileiras. Ele age como se a Previdência fosse a única fonte arrecadadora da União. Não foi sem motivo que ele escondeu a base de cálculos da PEC da “reforma da Previdência”.
A cada três meses o Banco Central joga para baixo a perspectiva da taxa de crescimento da economia brasileira, cuja recessão será incrementada ainda mais pela crise que já se entrevê na economia ianque. E caso a proposta do governo não passe no Congresso Nacional, Paulo Guedes responsabilizará a nova recessão que se aproxima pela sua não aprovação.
Ao contrário do que pensam, a crise que joga ao desemprego cerca de 30 milhões de brasileiros, ademais, só lançará mais fermento no inevitável levante das massas.
Além das gigantescas manifestações do último dia 15, professores, estudantes e pesquisadores continuarão seu movimento e participarão da greve geral nacional, junto aos demais trabalhadores da cidade e do campo.
O que está em jogo são os mais elevados interesses do país, sua independência e sua soberania.