No dia 3 de julho, cinco indígenas ficaram feridos e uma criança foi morta durante um ataque a tiros na comunidade Parima, dentro da Terra Indígena (TI) Yanomami. Após o ataque, tropas da Polícia Federal, Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai), Força Nacional e Força Nacional de Segurança Pública foram enviadas à região. Ainda não se sabe a autoria do ataque, mas a área é uma região de aguda atuação do garimpo, ramo coordenado por latifundiários e empresas mineradoras que aliciam de camponeses e indígenas sem terra e em situação de miséria para enviá-los à exploração mineral nas profundezas amazônicas, inclusive na referida TI.
O recente ataque ocorreu na noite do dia 03/07. Os feridos foram socorridos e a situação foi declarada como “sob controle”. As vítimas do ataque foram uma liderança indígena de 48 anos, uma mulher indígena de 24 anos e três meninas de 15, 9 e 5 anos, além da criança assassinada de 7 anos, cujo corpo caiu no rio e ainda não foi localizado.
Segundo informações, os executores do ataque fugiram logo após os disparos. A Polícia Federal confirmou que o ataque foi resultado de conflitos entre as comunidades Whaputa e Castelo e os Yanomami, apesar de não ter apresentado motivações e nem suspeitos.
A região da TI Yanomami tem sido palco há meses de acirrados conflitos entre camponeses e indígenas do garimpo e o povo Yanomami. A atividade se expandiu mais de 30km² dentro da área demarcada somente nos últimos dois anos, consequência da ofensiva do latifúndio minerador contra os territórios indígenas. Esse setor se aproveita da existência de uma enorme massa de camponeses e indígenas miseráveis e sem terra para aliciá-los e conduzi-los à exploração mineral em TIs, onde são submetidos à condições extremamente precárias de vida e emprego e, frequentemente, forçados a permanecer por relações servis ou semifeudais de trabalho.
Atualmente, os conflitos têm se agudizado como reflexo direto da falta de solução para a situação desses camponeses (a dita “reforma agrária” permanece engavetada) e do combate desenfreado ao garimpo na TI Yanomami por meio de operações que visam unicamente os garimpeiros, sem punição aos articuladores milionários das operações, como latifundiários e militares. Em maio, quatro camponeses foram assassinados durante uma operação da Polícia Rodoviária Federal (PRF) e do Ibama na TI Yanomami. Desde o início do ano, 20 mil garimpeiros fugiram da região e agora fenecem sem emprego e sem terra para plantar. Nesse cenário, aumentam-se os conflitos em que os camponeses defendem-se das investidas contra eles e os indígenas, por sua vez, respondem à invasão de seus territórios.
Enquanto se prolonga a crise na TI Yanomami, sem entrega de terras aos camponeses e sem a devida ajuda aos indígenas (as cestas básicas seguem paralisadas em galpões e armazéns e os índices de morte por tuberculose, desnutrição e pneumonia seguem iguais há cinco meses atrás), o governo federal anuncia semana após semana novos investimentos ao latifúndio, causador primário da calamidade. Nesta mesma semana, iniciou-se a disponibilização de crédito do novo Plano Safra, que disponibilizará R$ 364,2 bilhões ao latifúndio.