Crise na TI Yanomami: 13 mortos em quatro dias

No evento mais recente, oito corpos foram encontrados na comunidade Uxiu. Foto: Reprodução

Crise na TI Yanomami: 13 mortos em quatro dias

Oito corpos foram encontrados em um lago na região onde vivem indígenas da etnia Yanomami Uxiu, em Roraima, no dia 2 de maio. Os cadáveres encontrados apresentavam marcas de tiro e, segundo a perícia da Polícia Federal, um deles carregava marcas de perfuração por flecha. O acontecimento ocorreu na sucessão de outras mortes e ataques entre indígenas, garimpeiros que prestam serviço aos mega-empresários do garimpo e policiais na Terra Indígena (TI) Yanomami.

Esse novo registro é a terceira ocorrência de tiros com sequência de mortes registrados na TI Yanomami em apenas quatro dias. No dia 29 de abril, três Yanomamis foram baleados por garimpeiros na comunidade Uxiu. Como resultado, Ilson Xirixana morreu na hora com um tiro na cabeça e Otoniel Xirixana e Venâncio Xirixana ficaram feridos e foram hospitalizados. No dia seguinte, quatro camponeses do garimpo foram assassinados por agentes da Polícia Rodoviária Federal (PRF) em um suposto confronto.

Falso combate

Esses acontecimentos revelam o nível de agudização dos conflitos entre policiais, indígenas e garimpeiros na região. Desde a revelação, em janeiro, de uma crise sanitária na TI Yanomami, o governo de Luiz Inácio (PT) passou a simular um suposto combate ao garimpo ilegal no território indígena. Até o momento, as operações realizadas limitaram-se às fronteiras da TI e não resolveram a questão Yanomami: bases foram instaladas, equipamentos do garimpo foram queimados e camponeses garimpeiros foram presos ou assassinados.

Porém, enquanto a repressão se dá duramente contra os milhares de camponeses do garimpo conduzidos por latifundiários e grandes empresas do garimpo para a “corrida do ouro” como tentativa de livrar-se do peso da miséria e da crise, os latifundiários e empresários financiadores das atividades ainda não foram sequer indiciados, mesmo após a PF identificar alguns dos “financiadores” das atividades exploratórias na região em fevereiro.

Além da impunidade aos financiadores identificados, seguem ocorrendo esquemas e acordos econômicos espúrios entre militares e garimpeiros. Em abril, o 6° Batalhão de Engenharia e Construção do Exército realizou um acordo com a empresa Cataratas Poços Artesianos, réu por promover garimpo na TI Yanomami. O contrato possuía valor de R$ 185 mil e era destinado à “perfuração de poço artesiano no território indígena yanomami”. Antes, em janeiro, um relatório da inteligência da Fundação Nacional dos Povos Indígenas apontou para relações de parentesco entre militares do 7º Batalhão de Infantaria da Selva (BIS) e garimpeiros, e indicou que diversas práticas de suborno e vazamento de informações sobre operações entre militares e garimpeiros ocorreu durante o governo anterior. Nem o governo, nem o Exército e nem o ministério da Defesa se pronunciaram sobre punição aos envolvidos.

Na mesma lógica, o governo não anunciou, até agora, nenhuma medida para combater a principal causa para a crise envolvendo a TI Yanomami: o monopólio da terra para latifundiários grileiros, a liberdade total para grandes empresários do garimpos que possuem negócios com generais do Exército. Além disso, persiste, em todo o país, a luta pela terra que desmascara o governo e suas falsas promessas de “reforma agrária”.

Ao menos 20 mil garimpeiros já fugiram das TI Yanomami desde o início das operações. Em sinal de desesperança de abandonar o garimpo pela falta de terra e emprego digno, um garimpeiro entrevistado pelo monopólio Folha de São Paulo em uma reportagem de fevereiro, questionou: “Quando que eu consigo comprar um sítio desse se não for garimpando?”.

Latifúndio, mega-empresários do garimpo e imperialismo

Enquanto a presença de tropas militares do velho Estado segue aumentando na Amazônia (em Rondônia, milhares de policiais foram mobilizados sob o comando do Exército para as operações de cerco à Área Tiago Campin dos Santos, em 2020 e 2021), indígenas de toda a região são ameaçados pelo avanço do latifúndio e mega-empreendimentos extrativistas, assim como camponeses seguem sem terra. Os 20 mil garimpeiros que deixaram as terras Yanomamis nos últimos meses uniram-se aos mais de 500 mil camponeses sem terra na região Amazônica.

O velho Estado, que impulsiona o latifúndio e não atende às demandas dos povos do campo, atende também aos planos do imperialismo ianque (Estados Unidos, USA) ao militarizar toda a região: o reacionário Exército Brasileiro anunciou mais um treinamento conjunto com centenas de tropas ianques (do Estados Unidos, USA) na Amazônia brasileira. A operação, apelidada CORE 23, vai ocorrer entre novembro e outubro de 2023.

Ao longo das últimas duas décadas, o jornal A Nova Democracia tem se sustentado nos leitores operários, camponeses, estudantes e na intelectualidade progressista. Assim tem mantido inalterada sua linha editorial radicalmente antagônica à imprensa reacionária e vendida aos interesses das classes dominantes e do imperialismo.
Agora, mais do que nunca, AND precisa do seu apoio. Assine o nosso Catarse, de acordo com sua possibilidade, e receba em troca recompensas e vantagens exclusivas.

Quero apoiar mensalmente!

Temas relacionados:

Matérias recentes: