Podemos dizer, sem receio de errar, que as mulheres, em todo o planeta, têm sido o eixo central, o fator chave das contendas e lutas por resistência e libertação. Sua resiliência e força têm-se evidenciado em toda parte, embora não sejam alardeadas como aos homens. Sua invisibilidade é notória.
Durante as mais de sete décadas de agressão e ocupação da Palestina pelos nazi-sionistas, a coragem e determinação das mulheres em manter seus lares e trabalhos seguros, – operando dentro dos limites aceitáveis pela vida -, foram de incríveis esforço e criatividade. A Palestina é hoje um país fisicamente dilacerado, Gaza em escombros, mas as mulheres continuam sua faina contínua e permanentemente. O que as impulsiona além dos cuidados familiares é sua ideologia, a defesa de sua terra.
Enfrentando a morte, destruição, o deslocamento, é digno de nota e louvor o fato de que as mulheres, em meio a tanta devastação, demonstrem tamanha energia e humanidade em sua luta pela sobrevivência. Com a vida nomádica, fugindo do bombardeio, da escassez de alimentos e de água potável, morando em acampamentos inadequados, sem um mínimo de conforto para elas e suas famílias, nós nos questionamos como conseguem fazê-lo. E o mais terrível: sofrendo a dor do assassinato e morte de seus familiares, filhos, filhas, pais, mães, irmãos, irmãs, amigos e amigas e maridos. Milhares delas se tornaram viúvas e passaram a acrescentar às suas tarefas aquelas de provedoras e protetoras de seus familiares. Tarefa árdua de tentar protegê-los e mantê-los unidos. E vivos.
A guerra de Israel contra Gaza tem sido descrita como uma ‘guerra contra as mulheres’. Mas principalmente ‘uma guerra contra as crianças’. Duas mulheres são mortas a cada hora. A cada dez minutos uma criança palestina é assassinada. O Estado terrorista de Israel está, há um ano, massacrando as crianças palestinas com o beneplácito do silêncio ocidental. São ameaçadas pela poliomielite e outras doenças já erradicadas; além de que os sionistas continuam a usar a fome e a água como armas de guerra. Uma guerra que não esconde sua intenção primeira: a limpeza étnica e a usurpação de suas terras.
Como espinha dorsal política, as mulheres não iniciaram sua luta pela autodeterminação no 7 de outubro passado. Sempre foram o alicerce da vida palestina. A guerra em Gaza não tem poupado ninguém com a falta de alimento, doenças, exaustão e morte. Cerca de 1 milhão de mulheres adultas e jovens foram despojadas de suas moradias, de seus trabalhos e de seus pertences. E de sua cidadania.
Escutar suas vozes e apelos é condição fundamental para que lutemos contra o genocídio palestino e a limpeza étnica em curso. Além de denunciá-los temos de compreender que não são apenas uma questão de números, mas de intencionalidade, uma política de ataque contra os fundamentos da vida humana, isto é, política relacionada à terra, aos corpos humanos, à produção e reprodução da vida dos palestinos e palestinas.
E nos ater também ao fato de que a luta pelos direitos das mulheres palestinas está intimamente associada à luta pela libertação do povo palestino. Seu papel silencioso na resistência, sua engenhosidade, como guardiãs de sua cultura, contra o apagamento de sua identidade, a favor da reserva ideológica de seu povo, não podem ser menosprezados, nem desconsiderados, nem minimizados.