Um dos grandes sustentáculos do sistema capitalista são os bancos. Seus lucros formidáveis e astronômicos demonstram isto e provém, obviamente, dos pequenos clientes e poupadores. A maioria deles que ganha baixos salários e luta para sobreviver a um cipoal de problemas e injustiças. Em uma sociedade que necessita ser passada a limpo.
As pessoas, clientes ou não, que se arvoram a ir aos bancos no horário de abertura, enfrentam filas quilométricas. E, bem mais tarde – já adentradas, sentadas em locais desconfortáveis à espera de que, finalmente, a senha apareça no painel -, é que começam a reclamar. Umas em voz alta, algumas, timidamente, e outras simplesmente cochilam.
Muitas pessoas tomam tranquilizante antes de ir aos bancos. Outras fazem meditação ou até ioga. Há gente que entra em parafuso caso tenha de conversar com a gerência. O poder de persuasão de um/uma gerente é incontestável e desafia qualquer argumento.
Se tiver alguma dúvida ou reclamação, cliente, esqueça. Os funcionários e as funcionárias, andando prá lá e prá cá, não podem atendê-los porque o importante é transitar e pretender ser atenciosos, amáveis e distribuir sorrisos. Alguns até pedem desculpas pela demora do atendimento. Defendem seus empregos. Outros emburram à simples menção de ‘poderia, por favor, me dar uma informação…’. Os clientes são tratados como perfeitos incômodos. A menos que tenham uma sólida e gorda conta bancária.
A senhora de cabelo encaracolado reclama que não pediu e não concorda com determinada oferta do banco e que está sendo descontada. O operário, esperando há uma hora, estando na hora do almoço, se despede. Já não dá mais, precisa voltar ao trabalho. Pergunta se alguém quer sua senha. O casal de idosos aguarda há hora e meia. Reclama que muita gente já lhes passou à frente. O estudante afirma que está guardando lugar para a mãe que está vindo do médico. Alguém reclama do ar condicionado. Um gaiato, tentando ser bem-humorado, arrisca: “Se, pelo menos tivesse um cafezinho, uma água…”.
O tempo passa, nada acontece aos que aguardam. A porta giratória circula e uma leva de clientes entra esbaforida. Uma moça fica presa na porta. Os vigilantes se irritam. Já é hora de almoço e alguns caixas se levantam para sair.