Cúpula militar tenta se esconder atrás de um Bolsonaro ‘esturricado’

Presidente Jair Bolsonaro na cerimonia em comemoração do Dia do Exercito, no QG do Exercito. Sergio Lima/Poder360 19.abr.2022

Cúpula militar tenta se esconder atrás de um Bolsonaro ‘esturricado’

Em política, se diz que alguém está sendo “fritado” quando este é alvo de uma série de revelações ou atos desmoralizantes, com fins de enfraquecê-lo. Bolsonaro, hoje, não é um homem “fritado”: ele está “esturricado”.

Ninguém mais pode aludir à ideia de que Bolsonaro não tenha trabalhado obstinadamente por culminar o golpe de Estado no País. A delação de Mauro Cid – seu ajudante-de-ordens – é apenas mais uma evidência. Antes, tivera as conversas resgatadas, de novembro e dezembro do ano passado, entre Mauro Cid e vários militares da ativa e “milicianos”, nas quais a pauta permanente era: como viabilizar a ruptura institucional? 

Basta que recordemos de Ailton Barros, “01 de Bolsonaro”, autor da seguinte afirmação: “Tem que continuar pressionando o Freire Gomes [então comandante do Exército] para que ele faça o que tem que fazer. Esse Alto Comando de merda que não quer fazer as p…, é preciso convencer o comandante da Brigada de Operações Especiais de Goiânia a prender o Alexandre de Moraes. Vamos organizar, desenvolver, instruir e equipar 1.500 homens”.

Quem não se lembra do então subchefe do Estado-maior do Exército, coronel Jean Lawand, autor da frase: “Cid, o homem tem que dar a ordem. Se a cúpula do Exército Brasileiro não está com ele, da divisão para baixo, está. Cidão, pelo amor de Deus, cara. Ele dê a ordem, que o povo está com ele. Acaba o Exército Brasileiro se esses caras não cumprirem a ordem do Comandante Supremo”.

Portanto, a recente declaração de Bolsonaro, de que a delação do seu “dedo-duro de ordens” é uma completa mentira não se sustenta. Bolsonaro sempre foi isso: um agitador do regime militar fascista que, alçado à presidência, não deixou de sê-lo, porém com holofote.

Todavia, a verdade é que o Alto Comando das Forças Armadas (ACFA) está tentando se proteger atrás do “esturricado” Bolsonaro. Querem passar a imagem de um Exército chefiado por homens honrados, que não encamparam a ruptura. Mas, por que razão mesmo o comandante do Exército daquele momento, general Gomes Freire, esteve reunido com Bolsonaro por mais de duas vezes para discutir se era o momento de desferir uma ruptura institucional? Por que razão o Alto Comando do Exército reuniu-se, em novembro, para discutir, novamente, se era o momento de intervir? Se o Exército é encabeçado por homens assim tão legalistas, por que razão a cúpula do Exército, de novembro até 8 de janeiro de 2023, defendeu os acampamentos na frente dos quartéis, cuja pauta central era “Intervenção federal”, como movimentos democráticos? Por que razão o serviço de inteligência do Exército não fez nada para evitar a bolsonarada de 8 de janeiro, mesmo sabendo da crise iminente? São tantos porquês, mas todos têm uma resposta: natureza golpista.

A diferença de Bolsonaro e do Alto Comando das Forças Armadas – a instituição e seus integrantes – é de método, e não de natureza. A extrema-direita bolsonarista quer a ruptura institucional agora e já; a direita hegemônica no ACFA quer alcançar os mesmos objetivos de aumentar a exploração, reestruturar o velho Estado e militarizar o País, porém o máximo possível através da estabilidade, legitimidade e legalidade (ou aparência de legalidade), pois isso conduzem seu golpe de Estado gradual através de esquartejar a constituição vigente mediante chantagens, coações e tutela para acumular poder de fato (como o fazem, desde 2015, de forma crescentemente explícita), e quanto à ruptura aberta, só fazê-la se e quando houver legitimidade perante o imperialismo e a opinião pública doméstica, a qual tentam cultivar como instituição que encarna a Nação e a defende. 

Bolsonaro e as “galinhas verdes” que o seguem foram, objetivamente, bucha de canhão. É preciso apontar à cabeça da serpente golpista, hoje protegida pelos monopólios de imprensa e agraciada pelo atual governo: a cúpula militar.

Ao longo das últimas duas décadas, o jornal A Nova Democracia tem se sustentado nos leitores operários, camponeses, estudantes e na intelectualidade progressista. Assim tem mantido inalterada sua linha editorial radicalmente antagônica à imprensa reacionária e vendida aos interesses das classes dominantes e do imperialismo.
Agora, mais do que nunca, AND precisa do seu apoio. Assine o nosso Catarse, de acordo com sua possibilidade, e receba em troca recompensas e vantagens exclusivas.

Quero apoiar mensalmente!

Temas relacionados:

Matérias recentes: