As ruínas de um hospital em Kunduz, após um ataque aéreo ianque bombardear a região, em outubro de 2015, e matar 42 pessoas. Foto: Victor J. Blue / New York Times
O Bureau of Investigative Journalism (TBIJ), ou “Bureau de Jornalismo Investigativo”, em inglês, realizou um levantamento de dez ataques aéreos efetuados pelas forças de invasão ianques e seus aliados contra residências de civis no Afeganistão entre os anos de 2018 e 2019. Segundo eles, o objetivo era “encontrar as histórias por trás das estatísticas”, em uma colaboração com o monopólio de imprensa Al Jazeera e a agência Bellingcat. Apenas nessa pequena amostra de bombardeios analisada, 115 civis foram mortos, dos quais mais de 70 eram crianças.
O TBIJ atenta que esses números representam apenas uma pequena fração dos milhares de bombardeios ianques registrados, mas que representam juntas “características e resultados semelhantes; um padrão que se repete”. Tal “padrão” reflete o cenário de terror e genocídio imposto pelo imperialismo ianque e pelas forças do seu governo títere no país ao povo do Afeganistão, ocupado por tropas do Estados Unidos (USA) desde 2001.
Segundo o relatório, não há explicação oficial para quatro dos dez ataques investigados pelo TBIJ, enquanto o restante foi justificado pelo imperialismo ianque como “autodefesa”. Em alguns dos casos, a equipe confirmou assassinatos de civis que o Estado ianque não havia admitido até então.
ESCANCARA AS MENTIRAS E O TERROR DO IMPERIALISMO
Além de trazer à tona as histórias invisibilizadas das vítimas deixadas pela guerra de agressão imperialista no país, o trabalho do TBIJ também aponta que os números e relatórios divulgados pelo USA sobre a guerra são completamente infundados. Isso porque a inteligência ianque se recusa a visitar os sítios dos ataques, antes ou depois deles aconteceram, e a entrevistar as testemunhas oculares.
Em um relatório anual que foi divulgado pelo Departamento de Defesa ianque no início de maio sobre mortes de civis em todas as zonas de guerra ativas do USA, os militares alegaram que apenas 132 civis foram mortos por suas operações no Afeganistão, Iraque, Somália, Iêmen, Síria e Líbia em todo o ano de 2019. O relatório relativo à 2018 calculou 120 mortes de civis naquele ano.
Esses números são absolutamente dissimulados, uma vez que, só nos primeiros seis meses de 2019, observatórios de direitos humanos estimam ter morrido entre 416 a 1.030 civis no Iraque e na Síria em decorrência a ataques realizados pela coalizão militar encabeçada pelo imperialismo ianque. Ou seja, apenas em um semestre e apenas nesses dois países teriam sido assassinados 22 vezes mais civis do que em todo o ano de 2019, considerando-se os números disponibilizados pelo Pentágono.
Já no caso do Afeganistão, a “Organização das Nações Unidas” (ONU) atribuiu à conta do imperialismo ianque e seus lacaios um total de 559 civis mortos no seu relatório anual sobre danos civis de 2019, o que representou um aumento de 18% em relação ao ano anterior. No ano passado, o Exército ianque confirmou apenas um quinto das mortes de civis atribuídas a ele pela Missão de Assistência das Nações Unidas no Afeganistão (UNAMA).
Essa situação tampouco era diferente durante o governo do “democrata” Barack Obama. De acordo com o The Intercept, em 2012 foi relatado que os militares ianques rotulavam qualquer “homem em idade militar” que era morto durante as agressões lançadas pelo imperialismo ianque no Afeganistão como militantes do Talibã, por padrão.
A pesquisadora sênior do Humans Rights Watch no Afeganistão, Patricia Gossman, denunciou ainda que “o USA não conduz investigações no terreno há muitos anos, por isso conta com imagens visuais e de satélite que simplesmente não são 100% confiáveis. Essas imagens não podem detectar quem está dentro de um edifício”.
Oficiais militares de alto escalão do Exército ianque já falaram também sobre o quão limitada a imagem pode ser, e compararam imagens de drones com olhar através de um “canudo de refrigerante”.
É evidente que tais agências, a maioria delas ligada ao imperialismo ianque, atuam mascarando a ação terrorista das suas intervenções militares, políticas e econômicas ao redor do globo, mas nem assim conseguem acobertar completamente o rastro de destruição e miséria que ele deixa por onde passa.
O resultado do projeto do TBIJ pode ser lido na íntegra aqui.