De jornalistas a poetas, Israel incrementa perseguição à verdade

De jornalistas a poetas, Israel incrementa perseguição à verdade

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O Hamas – movimento que integra as forças de Resistência Nacional na Palestina – denunciou no dia 30 de julho, por meio de uma nota, a prisão de quatro jornalistas palestinos na Cisjordânia ocupada. No comunicado, o movimento declara que “a continuação da prisão de jornalistas é a prova de que a ocupação israelense teme que a imprensa revele o sofrimento do povo palestino”. Por registrarem os acontecimentos, os jornalistas vêm sendo acusados de forma generalizada de incitarem a violência.

No início do mês passado, um relatório emitido por um comitê de escritores e jornalistas árabes destacou que do dia 30 de março (início da Grande Marcha do Retorno) até a data da publicação das informações, pelo menos 181 jornalistas haviam sido atingidos por tiros disparados pelas tropas sionistas somente em Gaza. O relatório detalhou ainda que as lesões variam sempre de “moderada” a “letal” e que um terço dos atingidos tiveram de amputar alguma parte do corpo. Outros 110 jornalistas foram atacados em lutas corporais ou com gás lacrimogêneo, ocasionando queimaduras e fraturas graves. Ao todo, mais de 155 pessoas foram mortas e cerca de 17 mil ficaram feridas.


Jornalista palestino ferido por tropas israelenses na fronteira sul de Gaza 

A Grande Marcha ao Retorno é uma grande peregrinação das massas palestinas, que dura semanas ou meses, até os territórios que historicamente foram tomados pelos sionistas. Em 1976, a expropriação de territórios que iam da Galileia ao Deserto de Neguev foi sucedida pela construção de assentamentos exclusivos para judeus. Milhares de palestinos perderam suas casas e terras. Em meio ao anúncio das expropriações, ocorreram uma série de manifestações, nas quais seis palestinos foram assassinados pelas tropas invasoras no dia 30 de março, além de centenas de feridos e detidos. Anualmente, a partir desta data (que ficou conhecida como “Dia da Terra”), ocorre a Grande Marcha.

Poesia proibida

Um dia após ao comunicado do Hamas, Israel elevou sua perseguição a um novo patamar ao condenar a poetisa palestina Dareen Tatour a 5 meses de prisão simplesmente por publicar em redes sociais poemas de resistência e de denúncia aos crimes sionistas. Tatour já havia sido levada ao cárcere em 2015, quando publicou o poema “Resista, meu povo, resista a eles” e fez algumas postagens conclamando seu povo a proteger a mesquita de Al-Aqsa, localizada em Jerusalém, onde recentemente ocorreram massacres israelenses. Após algum tempo detida, foi levada à prisão “domiciliar” prolongada e se encontrava nesta situação desde janeiro de 2016. Dareen Tatour também foi acusada de incitação à violência.

A casa onde Tatour permaneceu presa teve de ser alugada pelo seu irmão, no subúrbio de Tel Aviv. Até mesmo visitas médicas eram previamente analisadas por policiais, que sempre estavam com ao menos um representante dentro da casa e poderiam simplesmente negar o atendimento, como chegou a acontecer quando a mesma fraturou o pé.

A poetisa palestina gera a ira das bestas israelenses não por acaso: ela escreve poesias desde os 7 anos de idade e, assim como seus conterrâneos presos citados no início desta nota, também é jornalista e fotógrafa, tendo inclusive produzido um pequeno documentário sobre as vilas despovoadas a força há 70 anos, durante o Nakba.


Dareen Tatour e seus cadernos de poemas 

O Nakba, ou al-Nakba, que significa “A Catástrofe”, é como os palestinos chamam o processo que sacramentou a fundação do Estado de Israel após a partilha do então Mandato Britânico da Palestina, proposta pelo Conselho de Segurança da ONU em 1947. Com a abdicação da administração do Mandato por parte da Inglaterra em maio de 1948, no mesmo mês é declarada a fundação do Estado de Israel, que desembocou numa guerra que se estenderia até 1949. Nesse processo, mais de 760 mil palestinos foram expulsos de suas vilas, tiveram suas terras arrasadas e despovoadas para dar lugar ao Estado sionista, que ainda avançaria nos territórios muito além até mesmo do que a resolução da ONU havia proposto.

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