Em uma demonstração de ódio ao movimento camponês, os governadores de Goiás, Ronaldo Caiado (União), e de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo), ambos presidenciáveis para 2026, anunciaram no dia 31 de março a criação do movimento “Abril Verde” para se contrapor ao “Abril Vermelho” – período em que o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) organiza várias ocupações pelo Brasil.
O encontro ocorreu no festival latifundiário “Feira do Agronegócio Mineiro”, na cidade de Uberlândia. Em uma clara apologia ao latifúndio que tem promovido uma série de crimes pelo Brasil nos últimos meses, Zema pontuou que “nós queremos um Brasil que tenha Segurança Pública, que apoie o agro”. “Tanto Goiás quanto Minas Gerais têm uma preocupação gigantesca com a segurança pública. Temos tolerância zero com invasores de terra e queremos um abril verde, de produção.”
Durante o evento, os governadores prometeram elevar os gastos com armamentos e equipamentos de identificação facial, a fim de elevar a repressão ao movimento camponês. As promessas, bem como o lançamento do movimento reacionário, servirão de encorajamento para os bandos paramilitares de latifundiários e pistoleiros que promovem ondas de terror contrarrevolucionário no campo.
É o caso do movimento “Invasão Zero”, que nesta semana atacou camponeses do acampamento Gedeon José Duque, em Machadinho D’Oeste, no interior de Rondônia. Esse grupo também foi responsável pelo assassinato da liderança indígena Nega Pataxó, na Bahia, e por um ataque a camponeses de Jaqueira, interior de Pernambuco. Neste último, o bando foi repelido pela autodefesa organizada pelos posseiros.
Ao mesmo tempo, a aliança Caiado–Zema aponta para uma articulação em formação no campo dos reacionários, feita de maneira à parte dos planos de Jair Bolsonaro (PL) e outros bolsonaristas para 2026. Além do movimento reacionário “Abril Verde” – feito para tentar arrebatar uma parte do setor mais fiel à Bolsonaro, sobretudo do latifúndio –, Zema e Caiado têm se distanciado do chefete da extrema-direita. Eles não compareceram no último ato feito pelo capitão-do-mato no Rio de Janeiro, por exemplo.
Em outras palavras, é uma divisão no campo da extrema direita e uma má notícia para Jair Bolsonaro. Atualmente, o ex-presidente está envolvido na saia justa de saber que não poderá concorrer às eleições de 2026, mas não ter um aliado sólido para ser seu substituto – aliado que seja, ao mesmo tempo, consolidado para vencer o pleito e fiel o suficiente para não arrebatar a base fascista de Bolsonaro, deixando-lhe à margem.
Ou seja, por mais que a extrema direita esteja alardeando boas perspectivas para 2026, sustentada principalmente na crise de popularidade de Luiz Inácio (PT), o campo dos reacionários não deixa de estar cindido. Afinal, a reação de Caiado–Zema ao latifúndio é, também, uma expressão de desespero dos latifundiários de extrema direita frente ao avanço irrefreável da luta camponesa, indígena e quilombola no País, particularmente na forma de Revolução Agrária – conforme defendido por movimentos como a Liga dos Camponeses Pobres (LCP).