No dia 21 de setembro, veio à tona a publicação dos primeiros detalhes da delação premiada do tenente-coronel Mauro Cid, assessor pessoal de Jair Bolsonaro. Segundo o colunista do monopólio de imprensa do Uol, Aguirre Talento, Cid confirmou que Jair Bolsonaro se encontrou com comandantes militares das três forças, após o segundo turno das eleições de 2022, para consultar as possibilidades de um golpe total.
Em uma das reuniões que Cid alegou ter participado, Jair Bolsonaro teria recebido de seu ex-assessor Filipe Martins uma minuta para culminar o golpe militar de Estado. A minuta em questão, similar a encontrada na casa do ex-ministro da justiça Anderson Torres, constava com um passo a passo de oito pontos para culminar o golpe, prescrevia não somente o impedimento à posse de Luiz Inácio, mas a própria prisão de determinados desafetos do ultrarreacionário Jair Bolsonaro.
Segundo o Uol, Mauro Cid também confirmou em delação que o então comandante da Marinha, Almir Garnier, havia colocado suas tropas à disposição do capitão do mato. Segundo coluna de Bela Megale, d’O Globo, o comandante do Exército reacionário, nesta ocasião em particular, afirmou que não embarcaria na trama golpista.
Em recente pronunciamento, o atual Ministro da Defesa José Múcio, em conformidade com os planos do ACFA de desvencilhar sua imagem de Bolsonaro, atribui o plano de golpe aos militares que estão na reserva e que os que hoje compõem a ativa nada tem a ver com esse episódio, denominando como “atitudes isoladas” de alguns militares.
Tais “atitudes isoladas”, porém, indicam que o ACFA não embarcou na aventura golpista única e exclusivamente por não considerarem aquele o melhor cenário para tal. A crise militar e política pujante, tal como fundamenta o Editorial Semanal de AND, tornam as contradições existentes hoje mais visíveis do que nunca entre o ACFA com as baixas patentes; entre os próprios generais da ativa e da reserva; entre generais e a base civil da extrema-direita, decepcionada com estes por não terem embarcado na aventura golpista.
De todo modo, isto não isenta o ACFA de responsabilidade pelos episódios que o País viveu. A ocorrência destas e outras reuniões, como a articulada pelo general Walter Braga Netto que de fato instou o ACFA a discutir se era o momento certo ou não de dar um golpe de Estado total, se deu em um momento onde os acampamentos nas portas dos quartéis ganhavam vulto, com apoio escancarado de generais da reserva e da ativa, estes últimos que, aliás, não demonstraram menor interesse em desmontá-los.
O depoimento de Mauro Cid, que hoje vem à tona, não traz nenhum elemento novo. Mas confirma que se tratou de uma cortina de fumaça feita pelo monopólio de imprensa e os intitulados defensores da “democracia” toda repercussão em torno dos casos de falsificação de cartões de vacinação e do esquema de camelotagem de jóias de luxo feitos pela família Bolsonaro e cia. Estes reacionários não ousam levar a sério o problema maior de uma ruptura institucional orquestrada por militares do ACFA que não apenas não foi derrotada, como nem sequer foi inteiramente revelada, ainda.