RONDÔNIA
No dia 9 de agosto, um ato organizado pelo Centro Brasileiro de Solidariedade aos Povos (Cebraspo), Associação Brasileira dos Advogados do Povo (Abrapo), Diretório Central dos Estudantes (DCE/Unir) e Executiva Estadual Rondoniense de Estudantes de Pedagogia (ExROPe), reuniu dezenas de pessoas nas escadarias da Universidade Federal de Rondônia (Unir) Centro para celebrar os 26 anos da Heroica Batalha de Santa Elina e denunciar os crimes do velho Estado.
Ato em celebração aos 26 anos da Heroica Resistencia Camponesa de Corumbiara aconteceu em frente Unir Centro em Rondônia. Foto: Comitê de apoio ao AND – Porto Velho/RO
Com cerca de duas horas de duração, o evento contou com a participação de representantes de organizações estudantis e classistas, professores, advogados, representantes de Grupos de Pesquisa da Universidade Federal de Rondônia (Unir) e do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Rondônia (IFRO).
Compuseram a mesa de debate André Karipuna, cacique do Povo indígena Karipuna; a advogada Lenir Corrêa, da Abrapo; Vera Lúcia Gabriel da Cimi/RO; Profª Drª Marcele Regina Nogueira Pereira, Reitora da UNIR; Valdirene Oliveira, Ouvidora Geral Externa da DPE/RO; o Prof. Dr. Marco Antônio Domingues Teixeira do GEPPIAA/Unir; Amanda Michalski, pesquisadora GTGA/Unir; o Prof. Dr Luís Fernando Novoa Garzon do Departamento de Ciências Sociais/UNIR; o Prof. Dr. Afonso Chagas, do departamento de Ciências Sociais/Unir; o prof. Me Uilian Nogueira Lima do NEABI/IFRO e o Prof. Me. Márcio Martins, representando o HISTEDBR/Unir.
Mural expõe fotos históricas da luta camponesa em Santa Elina. Foto: Comitê de apoio ao AND – Porto Velho/RO
Na abertura do ato, a representante do Cebraspo afirmou: “O heroísmo dos camponeses de Santa Elina deve ser sempre celebrado, ainda mais em um momento tão difícil como o de agora, quando o Brasil e o mundo atravessam a terrível pandemia do coronavírus. São tempos difíceis onde já morreram mais de meio milhão de pessoas, onde a fome, o desemprego e a carestia assombra os lares do povo trabalhador, dos pequenos e médios comerciantes”. E seguiu dizendo: “Por isso, mais do que nunca, precisamos celebrar a Resistência de Corumbiara, porque aquela batalha nos serve de exemplo de que nada é impossível quando as massas decididas se organizam em luta. Se os camponeses resistiram àquela tentativa de massacre, se tiveram força para prosseguir a luta, se tiveram organização para retomar e cortar as terras de Santa Elina, isso nos mostra que também poderemos nos defender dessa pandemia e resistir à crise econômica que já atinge o campo e as cidades de nosso país!”.
A representante da Abrapo destacou que os latifundiários quiseram impor uma derrota em 1995, mas em 2008 e 2010 os camponeses reocuparam a fazenda Santa Elina e garantiram a posse da terra. A luta dos camponeses de Santa Elina, segue agora, com a reocupação em 2020 na última parte da antiga fazenda Santa Elina, hoje fazenda N. S. Aparecida.
Faixa conclamando “Abaixo governo militar e genocida de Bolsonaro” ornamentou o ato. Foto: Comitê de apoio ao AND – Porto Velho/RO
O cacique Karipuna denunciou as inúmeras ações de latifundiários, madeireiros e especuladores contra o território indígena de seu povo e de outros territórios. Denunciou ainda, todas as medidas de ataque aos direitos dos povos indígenas do governo Bolsonaro.
Valdirene, da Ouvidoria da DPE/RO, destacou que devemos ser sementes de resistência. “Acredito e defendo a organização popular. Só vejo mudança para um país mais justo, a partir da organização popular. Corumbiara e todas as vidas tombadas nesse percurso, devem nos trazer a memória dessa luta. Não iremos esquecer dos nossos algozes. Há omissão do Estado brasileiro na morte de inúmeras lideranças populares na cidade e no campo, como o Ari Uru-eu-wau-wau, que ainda há impunidade”, disse a democrata. Valdirene, ainda, denunciou a criminalização dos movimentos sociais e suas lideranças, bem como a impunidade em relação à indenização das vítimas da fazenda Santa Elina.
A representante do Conselho Indigenista Missionário (Cimi) denunciou que a história se repete desde 1500, quando povos indígenas foram expulsos de seus territórios. “São histórias de massacres, mas também de resistências. Hoje, com o atual governo genocida, que favorece a expansão do agronegócio que representa para os posseiros, indígenas e quilombolas. O povo da terra indígena Omerê, o povo Kanoé, continua resistindo naquela região, mesmo depois de todas ações na tentativa de dizimá-los. Muitos povos estão nas cidades, em contexto urbano, porque foram expulsos de suas terras.”.
Ato em celebração aos 26 anos da Heroica Resistencia Camponesa de Corumbiara contou com a participação de diversos democratas. Foto: Comitê de apoio ao AND – Porto Velho/RO
O professor Luís Novoa defendeu a necessidade da universidade se comprometer com as lutas populares, num momento em que há a escalada de criminalização e massacres no campo. O professor Marco Teixeira denunciou a criminalização contra as populações quilombolas, os massacres ocorridos contra os Karipuna desde a construção da Estrada de Ferro Madeira-Mamoré (EFMM) e os processos de resistência na atualidade. A pesquisadora Amanda afirmou que não há mais perspectiva quanto a políticas de reforma agrária realizadas pelo Estado, mas que a única forma de haver distribuição de terras é a partir da mobilização das organizações populares e a unidade das lutas.
A reitora da Unir, destacou que atos simbólicos como o que ocorreu em Porto Velho, são extremamente necessários, para manter o espírito desta Universidade que é pública, vivo. “Nós não podemos perder a oportunidade para saudar a memória daqueles que nos antecederam, principalmente os em luta!”, afirmou a reitora.
Diversas intervenções também denunciaram a prisão de quatro jovens no acampamento Manoel Ribeiro, às acusações infundadas contra eles e a luta em torno de sua libertação. Foram prestadas homenagens a diversos camponeses assassinados, não só em Rondônia, mas em outras regiões do país, como em Eldorado dos Carajás (1996) e Pau D’arco (2017), ambos no Pará. Além de faixas levadas ao ato, também foram expostos registros fotográficos da luta camponesa em Rondônia e uma intervenção artística realizada pelos professores do Departamento de Artes da Unir e do Teatro Ruante que declamaram as poesias A Flor de Corumbiara, A Pedagogia dos Aços e A heroicidade está em nós.
Cartaz exige liberdade aos quatro jovens camponeses presos políticos do Acampamento Manoel Ribeiro. Foto: Comitê de apoio ao AND – Porto Velho/RO
No encerramento, foram lembrados os nomes dos camponeses mortos em Corumbiara, onde os presentes respondiam: Presentes na luta! Com palavras de ordem da luta pela terra, pela liberdade dos presos políticos, entre outras, conclamou-se a necessidade de unificar as lutas e denunciar as atrocidades cometidas pelo latifúndio e pelo velho Estado, que age através da criminalização capitaneada em Rondônia pelo governador Marcos Rocha e o Hélio Pachá, o carniceiro de Santa Elina, que comandou pistoleiros e a PM no ataque ocorrido em 1995.
Os participantes declararam Honra e glória aos heróis de Corumbiara: Sérgio Rodrigues Gomes, Vanessa dos Santos Silva, Manoel Ribeiro (Nelinho), Maria Bonita, Ari Pinheiro dos Santos, Alcindo Correia da Silva, Ênio Rocha Borges, Ercílio Oliveira Campos, José Marcondes da Silva, Nelci Ferreira, Odilon Feliciano, Oliveira Inácio Dutra, Jesus Ribeiro de Souza e Darli Martins Pereira!
“Viva a Heroica Resistencia Camponesa de Corumbiara!”, exclama faixa estendida no ato. Foto: Comitê de apoio ao AND – Porto Velho/RO
MINAS GERAIS
O 9 de agosto de 1995, foi saudado em um vibrante ato convocado pela Liga Operária, realizado na sede do Sindicato dos Trabalhadores da Construção de Belo Horizonte e região (Marreta), na capital de Minas Gerais.
A atividade, que resguardou os protocolos de segurança sanitária, contou com a presença de representantes da diretoria do Marreta, do Sindicato dos Trabalhadores nas Empresas de Correios e Telégrafos de Minas Gerais, da Luta Popular pelo Socialismo, Associação Brasileira dos Advogados do Povo (Abrapo), Movimento Estudantil Popular Revolucionário (MEPR), Movimento Feminino Popular (MFP), Movimento Classista dos Trabalhadores em Educação (Moclate), Frente Revolucionária de Defesa dos Direitos do Povo (FRDDP) e Comitê de Defesa Sanitária da Vila Bandeira Vermelha, entre outros, que ouviram atentamente as intervenções, principalmente a do representante da Coordenação Nacional da Liga dos Camponeses Pobres (LCP).
Com punhos erguidos democratas celebram os 26 anos da Heroica Resistencia Camponesa de Corumbiara. Foto: Comitê de apoio ao AND – Belo horizonte/MG
O ato teve início com os convidados se colocando de pé, para entoarem o hino do proletariado de todo mundo, A Internacional. A canção conclama os explorados e oprimidos a se colocarem de pé, para varrerem a exploração e opressão, e a sepultarem de vez a barbárie do imperialismo, fase terminal do capitalismo.
Em seguida, foram realizadas as intervenções de cada entidade, que fizeram suas saudações à justa e Heroica Resistência dos Camponeses de Corumbiara, exaltando a combatividade frente a patranha tramada pelo então, governo Valdir Raupp/MDB, contando com a traição covarde de seus aliados PT/ PCdoB, ambos a serviço do latifúndio em 1995 e que segue até os dias de hoje com os governos que o sucedeu, onde foram premiados os algozes de Corumbiara, como é o caso do coronel da Polícia Militar (PM) José Hélio Cysneiros Pachá e o atual governador coronel PM Marcos Rocha/Sem Partido.
O representante da Comissão Nacional da LCP, após saudar os presentes, destacou que a batalha de Corumbiara foi um divisor de águas, não só entre os dois caminhos no movimento camponês brasileiro (o da luta e o da conciliação), mas também à luta do proletariado e do povo brasileiro pela sua emancipação e a realização da Revolução de Nova Democracia.
A LCP homenageou os camponeses assassinados em Corumbiara levantando o nome do companheiro Sérgio Ribeiro, e também todos os que levantaram e seguem levantando esta bandeira até os dias de hoje, representados pelos nomes dos dirigentes camponeses e revolucionários Cleomar Rodrigues e Renato Nathan.
Imagens dos dirigentes camponeses Cleomar Rodrigues, Renato Nathan e Sula são erguidas. Foto: Comitê de apoio ao AND – Belo horizonte/MG
Em nome da comissão, demonstrou como o Acampamento Manoel Ribeiro, com sua resistência derrotou o governo genocida do Alto Comando das Forças Armadas (ACFA), com o capitão-do-mato à cabeça nos dias de hoje, que levantou amplo apoio dos lutadores e democratas nacional e internacional, mostrando a justeza e a consagração do caminho que permitirá ao povo derrotar a guerra em curso, declarada pelo genocida governo militar de Bolsonaro desde os primeiros dias de seu “governo” contra indígenas, camponeses e quilombolas.
Segundo o representante, o governo latifundista e vende-pátria de Bolsonaro, tenta com sua horda de fascistas reacionários intimidar a luta pela terra, mas a resposta das massas em luta pela terra, tanto camponeses, quanto indígenas e quilombolas, tem crescido e não se afogarão com o sangue dos lutadores do povo, pelo contrário, só aumentará o ódio de classe e ampliará ainda mais o apoio a essa justa luta.
Durante a atividade os crimes do velho Estado foram denunciados. Foto: Comitê de apoio ao AND – Belo horizonte/MG
Também foi denunciado pelo representante da Abrapo a trama no processo dos quatro ativistas presos por apoiarem a luta no Acampamento Manoel Ribeiro em Rondônia (última gleba da antiga fazenda Santa Elina), prisão realizada com provas forjadas pela polícia e aceita pela “justiça”, que mantém em cárcere os jovens: Ezequiel, Luís Carlos, Estefane e Ricardo, negando o “Habeas corpus” – alegando que os mesmos deveriam permanecer presos, porque os camponeses deixaram na fazenda, uma faixa com os dizeres: “Voltaremos mais fortes e decididos!” . Isso, de acordo com o democrata, demonstra o caráter desse judiciário, que serve aos latifundiários e grande burguesas e a esse governo militar genocida de Bolsonaro, que textualmente decretou a organização dos camponeses a LCP como “terrorista”.
O MFP interviu no ato e recitou o poema Os homens da terra, de Vinicius de Moraes. Outra bela homenagem aos camponeses foi feita com o entoar da canção Levanta o povo, composta pelo dirigente camponês cantor e compositor Zé Bentão, cantada por Maria Filomena acompanhada pela juventude. Em seguida, todos se colocaram de pé novamente para entoarem o hino da luta pela terra: Conquistar a Terra. Encerrando o ato combativo, ecoaram na casa dos trabalhadores da construção civil de BH, o Marreta, as palavras de ordem: Viva a aliança operário e camponesa!, Viva os 26 anos da heroica resistência de Corumbiara!, Viva o Acampamento Manoel Ribeiro!, Liberdade para Ezequiel, Estefane, Luis Carlos e Ricardo!, Viva a Revolução Agrária!, Conquistar a terra! Destruir o latifúndio! e Abaixo o imperialismo!.
Cartaz exige liberdade aos quatro jovens camponeses presos políticos do Acampamento Manoel Ribeiro. Foto: Comitê de apoio ao AND – Belo Horizonte/MG
PARANÁ
Na cidade de Curitiba, no dia 9 de agosto, data que marca os 26 anos da Heroica Resistência Camponesa de Corumbiara foi encontrada uma pichação assinada pela Frente Revolucionária de Defesa dos Direitos do Povo (FRDDP) traz a consigna: Viva a Heróica Batalha de Santa Elina! Morte ao Latifúndio!
Pichação encontrada nas rua de Curitiba. Foto: Banco de dados AND
OUTRAS CELEBRAÇÕES AINDA ACONTECERÃO NOS PRÓXIMOS DIAS
Organizações e entidades democráticas iniciaram no dia 09/08, uma série de importantes eventos sobre a luta pela terra no Brasil. Estes são parte do Seminário: 26 anos da histórica resistência camponesa de Corumbiara, da batalha de Santa Elina ao Acampamento Manoel Ribeiro, tratará de um dos temas mais relevantes da atualidade que surgem como expressão da mais avançada luta popular onde se contrapõem às forças reacionárias da velha ordem contra as massas camponesas em busca de sua terra.
O evento é organizado por diversas entidades democráticas como Executiva Rondoniense de Pedagogia (ExROPe), Associação Brasileira de Advogados do Povos (Abrapo), Centro Brasileiro de Solidariedade aos Povos (Cebraspo), Grupo de Pesquisa História, Sociedade e Educação no Brasil (HistedBr/Unir) e Diretório Central dos Estudantes (DCE Unir).
A atividade busca apresentar uma retomada histórica do fatídico episódio ocorrido em 09 de Agosto de 1995, que manchou de sangue as mãos do estado de Rondônia na época, conhecido como a Heroica Resistência de Corumbiara.
As atividades ocorrerão nos dias 16, 23 e 30/08 com transmissão online via plataforma Youtube às 19h da Amazônia e às 20h de Brasília com duração de 1h30m.
A inscrição para o evento deve ser feita através do link: https://docs.google.com/forms/d/1EzSLfc41XyXs6ctgySXzFv_PuII1D2eMAGaXTeruuhE/edit
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