Repercutimos na íntegra a grave denúncia e as imagens que recebemos na Redação do jornal A Nova Democracia através de correio eletrônico enviado por colaboradores do estado do Pará.
“Camponês é assassinado no acampamento Vitória da União, região sul do Pará
No dia 26 de setembro do ano corrente, o camponês José Araújo dos Santos foi brutalmente assassinado no Acampamento Vitória da União, localizado na zona rural de Conceição do Araguaia, estado do Pará. Segundo testemunha, no momento do assassinato José se encontrava fora de seu barraco. Ao escutar disparo de arma de fogo, ela se dirigiu até o local onde José Araújo agonizava, vez que havia sido atingido pelo disparo. A investigação do homicídio será realizada pela Delegacia Especializada em Conflitos Agrários de Redenção (Deca – Pará).
Essa DECA, no começo do ano, realizou um processo de perseguição aos camponeses dessa área, tendo efetuado prisão e gerado vários inquéritos em segredo de justiça, dificultando a defesa dos camponeses. Três camponeses ficaram mais de um mês presos e as denúncias sequer são conhecidas em função do SEGREDO imposto.
Os camponeses defendem que as terras são públicas e que pertencem a um projeto de assentamento, sendo que o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) não efetuou assentamento das famílias. Roberto Mussa grilou as mesmas e se utiliza de meios escusos para manter sua posse.
Um dia antes do assassinato do Sr. José Araújo Santos, aconteceu, perante a Vara Agrária de Redenção, no Pará, uma audiência pública com a finalidade de se discutir o cumprimento da reintegração de posse do imóvel denominado Fazenda Safita, onde o Acampamento Vitória da União está localizado há mais de um ano. Nesta audiência, nem Incra, Instituto de Terras do Pará (Iterpa), município de Conceição do Araguaia ou qualquer órgão responsável pela política agrária estiveram presentes, e, mesmo assim, o cumprimento da reintegração de posse foi definido para o início de outubro.
Os camponeses que vivem no Acampamento Vitoria da União relatam que as ameaças sofridas se intensificaram nos últimos meses. O suposto proprietário Roberto Mussa sempre ameaçou as famílias, tendo tido outros episódios de violência no local, praticados pelos jagunços de Roberto, pela polícia e pelo próprio – tendo ele, em plena luz do dia, efetuado disparos de arma de fogo contra as famílias. Mesmo denunciado, nada foi feito pela Deca.
A omissão do Estado para com as famílias de camponeses que lutam por terra para plantar e viver tem contribuído para o acirramento dos conflitos no campo. Até o momento, nem Incra ou Iterpa sequer fizeram o cadastramento das pessoas que vivem no acampamento, podendo estas sofrer despejo em total discordância com as diretrizes garantidoras de direitos humanos. Ressalta-se que no acampamento vivem pessoas idosas, com deficiência e crianças.
O assassinato do Sr. José Araújo dos Santos reforça que a tão buscada paz no campo é realidade distante quando os envolvidos no conflito são camponeses, pobres e sem terra.”