Walter Delgatti Netto, o “hacker da Lava Jato”, deu o seu depoimento à CPMI do 8 de janeiro. Revelador do plano golpista de Bolsonaro e da atuação permissiva do então comandante do Exército, Paulo Sérgio Nogueira, o depoimento une-se a outros fatos que, nesta semana, fecharam ainda mais o cerco a Jair Bolsonaro.
Delgatti afirmou que Bolsonaro e políticos do PL o orientaram a adulterar o código-fonte da urna eletrônica para que, em uma demonstração pública em 7 de setembro (um mês antes das eleições), fosse provado a possibilidade de fraude eleitoral. Era este o plano redentor do país, plano ao qual embarcou toda a extrema-direita e frente ao qual o Alto Comando, com receio de perder o controle sobre a tropa, atuou de forma permissiva e conciliatória, ajudando a criar toda a atmosfera de questionamento às urnas.
O que disse o ‘hacker’?
Em seu depoimento, Delgatti afirmou que a “ponte” com o ex-comandante Paulo Sérgio foi feita logo após Bolsonaro o receber no Palácio do Alvorada e ordenar ao general Marcelo Câmara (então assessor presidencial) levá-lo para o Ministério da Defesa.
Segundo Delgatti, o coronel reservista Marcelo Jesus (na época, estava há dois anos reformado) era quem intermediava a relação do hacker com Marco Antônio Freire Gomes, então comandante do Exército. Bolsonaro também o levou para falar diretamente com Paulo Sérgio Nogueira (então ministro da Defesa). O objetivo do encontro era discutir aspectos técnicos e informações que seriam adicionados ao relatório que os militares organizavam a partir da comissão de fiscalização eleitoral do TSE.
Militares subordinados ao então comandante do Exército, general Paulo Sérgio, teriam, então, memorizado partes do código-fonte das urnas para passar ao hacker.
Além de mudar o código-fonte e orientar os militares que questionavam as urnas, Delgatti também recebeu R$ 40 mil de Carla Zambelli para violar o sistema da Justiça Eleitoral e assumir a autoria de um suposto grampo “comprometedor” de Alexandre de Moraes. Tudo isso seria feito sob o compromisso dado diretamente por Bolsonaro de que, caso fosse preso, Bolsonaro daria um indulto presidencial para soltá-lo.
Walter Delgatti não apresentou nenhuma prova para as informações contidas no seu depoimento. Ele estava envolvido nos episódios da “Vaza Jato” em junho de 2019. Ali, ficou revelado que Sérgio Moro combinava sentenças e ações com o ex-procurador e coordenador da força-tarefa da Operação Lava Jato, Deltan Dallagnol. Trata-se de alguém que, por dinheiro (mais que por convicção), faz qualquer coisa – inclusive ser contratado por uma figura como Carla Zambelli, ser orientado por Valdemar Costa Neto e pelo genocida Bolsonaro, assim como mentir. Todo modo, é inequívoco – porque já foi comprovado – que o Delgatti esteve, de fato, com o ministro da Defesa e com o próprio ex-presidente; assim como, é certo que recebeu o montante combinado com Carla Zambelli.
Portanto, é inequívoco, também, que os generais da ativa sabiam – através de seu comandante – de toda a agitação e preparativos de ruptura institucional de Bolsonaro. Frente a isso, foram permissivos; temerosos que são de “dividir a tropa”, sempre que a extrema-direita “estica a corda”, buscam o máximo possível não chocar com ela, o que só a alimenta. Como a alimentou, no caso concreto. Os senhores generais da ativa, estes que hoje estão no Alto Comando, são portanto co-responsáveis por todo o desenlace da situação. Mas eles estão intocados.