Depois de entrevista de Luiz Inácio, Haddad anuncia que fará cortes na semana que vem

O governo de Luiz Inácio está vinculado profundamente com os objetivos econômicos das classes dominantes.
Luiz Inácio e Fernando Haddad em evento público. Foto: Agência Brasil/EBC

Depois de entrevista de Luiz Inácio, Haddad anuncia que fará cortes na semana que vem

O governo de Luiz Inácio está vinculado profundamente com os objetivos econômicos das classes dominantes.

Fernando Haddad, ministro da Economia, afirmou que haverá bloqueio e cortes no Orçamento assim que o Relatório de Avaliação de Receitas e Despesas for divulgado, na próxima segunda-feira, 22 de julho. Referindo-se ao crescimento da despesa diante do novo teto de gastos, Haddad afirmou que  “passados os 2,5%, tem que haver contrapartidas de bloqueio, e contingenciamento no caso de receita”.

Fernando Haddad afirmou que ainda não teve reunião com Lula para discutir sobre os cortes: “Não houve reunião com o presidente sobre o Orçamento de 2024 ainda. A reunião que nós fizemos duas semanas atrás foi sobre o Orçamento de 2025. Nós não levamos um número para ele”, afirmou Haddad. Antes de serem anunciados os cortes, uma reunião com Luiz Inácio é esperada.

O objetivo dos cortes, que são tratados como bloqueios e contingenciamentos, é atingir a meta de “déficit fiscal zero”.

Anteriormente, Haddad já havia sinalizado, após aval de Luiz Inácio, para um corte de R$ 25,9 bilhões em programas dos ministérios. Contudo, não foi anunciado quais serão os alvos.

A declaração veio no mesmo dia em que Luiz Inácio, em entrevista à Record, afirmou que “não é obrigado a estabelecer uma meta e cumpri-la”.

As demagogias do presidente reacionário

Em entrevista à Record, Luiz Inácio deu declarações que, na aparência, chocam com o discurso de seu ministro da Economia.

Ele afirmou que não vê problema em haver 0,1% ou 0,2% de déficit fiscal defendeu que, se houver “coisas mais importantes para serem feitas” pode não cumprir a meta fiscal: “Você não é obrigado a estabelecer uma meta e cumpri-la se você tiver coisas mais importantes para fazer. Este país é muito grande, este país é muito poderoso. O que é pequeno é a cabeça dos dirigentes e a cabeça de alguns especuladores”.

O presidente reacionário, porém, não citou em nenhum momento a revogação das contrarreformas que foi uma das suas bandeiras na campanha eleitoreira de 2022. Também não se referiu a nenhuma medida concreta que tenha realizado ou plano que seu governo possui para chocar-se com os “dirigentes e especuladores de cabeça pequena”. Ele se limitou a falar que o que importa ao país é que “a economia esteja crescendo, que o emprego esteja crescendo, que o salário esteja crescendo”.

Em outro momento da entrevista, Luiz Inácio defendeu abertamente o novo teto fiscal de seu governo. “Farei o necessário para cumprir o arcabouço fiscal”, afirmou. Sobre o fato de que o arcabouço fiscal esteja diretamente vinculado à meta de “déficit zero”, e de que o crescimento da economia brasileira represente o maior enriquecimento de latifundiários, grandes burgueses e “dirigentes e especuladores de cabeça pequena” – novamente –, nenhuma palavra.

Sobre os cortes, afirmou: “Primeiro, eu tenho que estar convencido de se há necessidade ou não de cortar”. Luiz Inácio também fez questão de destacar que possui “divergência histórica” com “o pessoal do mercado”.

Haddad, contudo, afirmou que a fala não pode ser “descontextualizada”, numa tentativa de evitar impactos da fala de Luiz Inácio.

Além disso, Luiz Inácio também falou que em seu governo “há mais verbas para a Educação”, calando sobre a proposta não atendida dos trabalhadores da educação, cuja greve encerrou-se no último mês sem o atendimento das reivindicações. Luiz Inácio também gabou-se dos governos anteriores, citando seu acordo com o Fundo Monetário Internacional (FMI). Defendendo-se das acusações de interferência no Banco Central, lembrou que em seu primeiro governo Henrique Meirelles foi nomeado para a presidência do BC e tinha grande liberdade.

Mais do mesmo

De fato, a declaração de Haddad de que o governo fará cortes para cumprir as regras fiscais representa um compromisso com as classes dominantes. Para além de sinalizações políticas, o governo precisa cumprir o compromisso firmado desde as eleições (quando o PT assumiu uma chapa de “frente ampla” reacionária com setores da direita liberal). E isto é o que vem acontecendo mês após mês. Como afirmou o editorial do AND de 12/07/24, “O Bolsonarismo moderado sai à frente”: 

“E agora mesmo, o presidente não tem cumprido nenhuma promessa importante de campanha feita às bases do movimento popular, como reforma agrária, revogação do Novo Ensino Médio,  reversão das perdas de direitos trabalhistas, o fim da trava fiscal, a recuperação da Educação superior, nada!, e sim sendo bastante obediente aos ditames do ‘mercado’.”

Se, no discurso, há momentos que ensaiam choques – e realmente são somente aparências pois, como se vê, a cada declaração pública, o mandatário se esforça para dar, em suas palavras, “estabilidade e previsibilidade” ao regime de exploração – entre as classes dominantes e Luiz Inácio, na prática, o governo está vinculado profundamente com os objetivos econômicos destes.

Por outro lado, para não se ver alvo de uma avalanche de críticas dos trabalhadores, o governo também precisa da demagogia de Luiz Inácio. Ela é fundamental para prender a aprovação popular em torno de 35% e mitigar a tendência registrada nas últimas pesquisas de alta da desaprovação.

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