Para Luiz Felipe Reis e Renato Livera
O trabalhador não pode nem deve sentir nostalgia:
Suas mãos são sua pátria.
Roberto Bolaño
1
Renato Bolaño Livera parece testar a paciência do público como método, princípio e um pitaco de ironia – signo sinal do atletismo afetivo a recobrir o jogo de cena1, um espaço de afecções compartidas, mas em disputa, palmo a palmo, por vezes de golpe, a comunidade inconfessável do teatro avançando de brusco em assalto ao bom juízo e costumes de comportados incautos2.
É que entre os arremedos de frases, palavras soltas, exercícios guturais presentes no ensaio que antecede ao espetáculo lhe sai esta frase nada gratuita, esgotar a paciência do público, esgotar a paciência do público, esgotar a paciência do público – como se fosse um estribilho mordaz, um pedaço de sentença com farpas nas beiradas da palavra, o sarcasmo em cacos de vidro, um refrão de pontas afiadas, espécie de aguilhão a lancetar cansaço e conformidade; esgotar a paciência do público, esgotar sua parcimônia, alguma desfaçatez, a paciência esgotar com ela, esgotar o que for represa com seus limites demarcados em fita crepe, a fabulação dos contratos e acordos de civilidade, a fila indiana dos pagantes com ingressos ‘impressos’ na tela onipresente do celular aceso que grita – cristal líquido onde toca a trama cultural aquilatada num cabedal de poses plásticas, arranjar desarranjar com tudo, esgotar talvez que seja o termo esgotar; retratos palavras sob medida, silêncios de ocasião, esgotar a paciência a liturgia cênica esgota esboroa a fragilidade ‘ótima’ de princípios, o teatro casa a dentro como numa gira de bacantes, teatro projétil onde será começa onde será termina o DESERTO; teatro como parede de gestos frágeis, voláteis, teatro como placa multifacetada em uma rajada sonora, imagens projetadas numa tela de afronta para onde os olhos derrapam…
Renato Livera espera sentado, talvez acenda o cigarro, talvez limpe a lente dos óculos, talvez estenda as mãos a ver se os dedos ainda servem de algo, se eles acenam primaveras – um laudo ao revés como a seiva de um tempo que resta, talvez rabisque linhas de eletroencefalograma num quadro de giz, ele se levanta, avança e recua, por vezes o palco se estreita – tem um jato de luz que aturde, noutras vezes, o palco adormece de um filete, um naco mínimo por onde escoa a sombra que ainda há no homem que escreve – ele segue até a poltrona da entrevista que lhe aguarda a vez e a hora, há uma entrevista no texto e no arquivo de som, uma entrevista que espera a deixa do desenho de luz, ele recua num trincado de pernas o corpo enseja a dança un buitre mirando la cordillera o salto a alavanca enganchada no braço esticado.
Roberto Livera se desprega da máscara – que houve? –, Livera desestabiliza numa torção de quadril esta mistura de nomes em nó de marujo, a teia fragilíssima da representação precária que escapa por todos os lados, e é de tal forma isto que àquele que olha parece enxergar um pedaço de personagem casado na armação dos óculos, a mão esticada, a mão que gira em contra plano as lentes que enxergam o mundo, é Bolaño o que se desata na partitura do braço em arco estirado, e eis que então será o contraponto: o gesto de vesti-lo na miopia do rosto de leitor, o ato de retomá-lo no corpo expressivo da cena, é Bolaño voltando, se achegando, se plantando ao dorso de Livera, como se o tomasse pelas costas, como se lhe segurasse os cabelos de arreio em direção ao DESERTO – teatro carregado em fragmentos com síntese suspensa onde o abismo está suposto – afinal está fora de causa terminar bem, afinal o abismo reclama a presença urgentíssima de uma ausência que se fará definitiva, afinal o abismo tem os lábios de Lisa, o abismo traz consigo velhas fotografias de Lisa, afinal o abismo faz a prova dos nove na travessia em caminhão, o pai ao volante, a mãe tramando os cuidados com a respiração dos filhos, afinal o abismo serão os livros deixados em espólio às estantes da biblioteca de Lautaro e Alexandra, e Bolaño Livera irá dançar os passos alados do condor quando olha para baixo e se precipita. A partir de agora é imperativo que a cordilheira lhe seja paisagem e destinação.
Mas voltemos até onde a paciência era esgotada, voltemos até onde o ritornelo nos arremessa seu mantra, esgotar a paciência do público, esgotar a paciência, esgotar o público, esgotar. Renato Livera quiçá catapultasse aos improvisos, num solavanco, o salto o abismo; seu corpo de ator serpenteia em invocação. Ele provoca quem sabe isto?! – esgotar a paciência do público, esgotar a atadura circular disposta à altura do tórax, miná-lo desde dentro lá onde a água brota germina, semilla cosecha, despregar o cinto a cinta de segurança as leis de trânsito do tempo e da cidade ecoando ainda ali, os fluxos de gentes em seu ir e vir aplanado, a turbulência dos modos do agora, sua cartografia amesquinhada ao repertório da falange dos miseráveis, este aviltamento de vestes civis e empresariais, a impiedosa tirania contumaz do capital e seus jogos de saqueio, a forquilha na atenção hiper saturada, a presilha as multas as bulas de fármacos à cabeça, o código terrorista das trocas aceleradas as tiras da razão instrumental a blitzkrieg das curadorias, as algemas da conformidade que se alargam3, voláteis por vezes como quando na hora das palmas – que duram que custam que encerram, esgotar a paciência do público, cortar com adagas os hiatos inultrapassáveis, o gargarejo o proscênio, espécie de duelo sinuoso entre recuo e salto; entre a retidão e a queda-deriva; entre os olhos que enxergam largo e sua impaciente voracidade em devorar imagens; entre gestos prescritos a um acordo de cavalheiros e o exercício sem timão e ao delírio, quem sabe isto, será para lá que nos leva os modos ‘incívicos’ do ator-personagem? Esgotar e esgotar e esgotar a paciência, exigir por ocupação os direitos à impaciência que também há de ter os seus direitos…
Destaco também este trecho da fala do ator Renato Livera no programa Painel Questão de Crítica: “(…) essa coisa do ator de estar em cena e ter essa coisa da vitalidade, é que eu acredito muito nessa potencialidade que o ser humano tem de se relacionar seja lá com o que for, se relacionar e estar aberto para estas relações, e quando a gente está aberto a isto a gente abre possibilidades para que as coisas aconteçam de maneira diferente, que elas não sejam direcionadas para uma coisa limitada, porque acho que esta é a nossa grande contradição hoje, a gente vive num sistema que te limita a viver o que ele determina, a gente fala do capitalismo, a gente fala de políticas autoritárias, tudo isto é uma limitação ao humano para que ele não possa existir na sua totalidade (…)”. Cf. Link de acesso: https://www.youtube.com/watch?v=FX73h8pCcO
É que talvez Roberto Livera Bolaño convoque a disponibilidade de todos para ingressos em zonas turvas, cinzentas, aziagas, afinal é do DESERTO o de que se trata, DESERTO costurado tecido ajambrado pelo olhar arguto de Luiz Felipe Reis, e Renato Roberto examina a disposição de entrega do público ao que precipita, ao que esfacela lugares-comuns, ao que circunscreve mapas-múndi, ao que atormenta o tracejado imaginado de fronteiras, ao que des-escreve zonas de conforto assépticas – será ele constata averigua preludia certa passividade atada do espectador pregado imantado ‘irrevolto’ a sua poltrona de vime/vida que se basta em olhar à distância, o queixo de ferro empinado, as pingadeiras dos ombros de autômatos em acordar protocolos de não me toques, de não me venhas com invectivas, do não me ouses atravessar os muros da cidade sitiada que já e já lhe exijo os documentos4 – porque de algum modo todo lugar no mundo é Viena5 e Mário Santiago parece sussurrar algo aRenato Bolaño Livera, ator atuador escritor encarnado em atletismo viril, ele esgarça os limites no que esgota a paciência do público, no que afronta os regimes da atenção corriqueira.
– ‘Boa noite, vocês estão bem? Agora deve ser quase dezenove e trinta, certamente que muitos de vocês ainda não jantaram, devem estar famintos, eu queria dizer a vocês que vieram assistir a essa conferência que o conferencista não vem, eu queria dizer a vocês que ele não vem porque está muito doente, e que ele fora convidado a fazer uma conferencia sobre a literatura e o exílio, que ele recebera uma carta convite escrita em inglês e acontece que ele não sabe falar nem ler em inglês e o que ele pode entender é que se tratava de uma conferencia sobre literatura e exílio, ou seria sobre literatura e doença, não sei, não lembro, mas pouco importa, o que importa é que já são mais de dezenove horas e vocês devem estar com fome porque aqui alguns de vocês não devem sequer ter comido um algo qualquer antes de vir assistir a uma conferência que simplesmente não vai acontecer mais porque o conferencista, que não sabe inglês, está tomado de uma doença terminal e não pode vir’6.
2
Luiz Felipe Reis conta que depositou tudo o que compõe o espetáculo DESERTO entre dois trechos da conferência de Roberto Bolaño chamada Literatura + enfermidade = enfermidade – fragmentos de entrevistas, de ensaios, de notas, de pedaços de outras conferências, de pronunciamentos em cerimônias de premiações, de cartas, de trechos de livros, algum pedaço de poema, uma data cheia de frases soltas como se fora um aforismo arranjado a um diário7. Mas não é só desta carga distinta de palavras que DESERTO se conforma. Na tela recuada ao fundo do cenário, imagens são projetadas numa avalanche sonora que cresce e cresce e estanca – imagens capturadas em simultâneo, imagens de arquivo documentais em vídeo, imagens-movimento e fotografias still, imagens com textura ficcional, todas em p/b para acentuar certo dispositivo que precipite a dissimetria em vertigem, dissimetria na que se (nos) desequilibra Renato Livera e Roberto Bolaño, condenados a seguirem juntos como num traçado ilusionista composto de paralelas que se bifurcam e se ‘des-juntam’.
Porque ora o ator se veste da enfermidade movediça – próxima demais, o corpo extenuado, inteiramente íntimo, um diagnóstico estampado numa data cheia de dentes postiços aferrados na parede da memória que insiste, um diagnóstico carrossel na que despenca em queda livre o corpo daquele que vai morrer e que, por isso, e tão somente por isso, escreve e escreve a palavra potente e definitiva, palavra inadiável, palavra que se duplica em tarefa e trabalho como que a um dever de contar e de ‘reexistir’.
Noutra hora, ele, o ator se liberta, se libera, se despresilha, se desprega, ele(s), Renato Roberto, se aparta(m) como a um trabalho de testemunho em que se se trata de evitar a proximidade que obnubile e aturde. E Renato se faz inteiro Livera – como se se restringisse a transparência fina e alva do contar o de que fora – a vida que se esvai de pé, a travessia do DESERTO na que os olhos acostumados aos ventos e às variações térmicas enxergam longe e profundo, DESERTO de naufrágios e de alcoviteiros, DESERTO de sargaço e sal e rapinagem, DESERTO de marés revoltas e tormentas que escorregam, DESERTO de tragédias caídas por sobre a cabeça dos passantes e atravessadores, DESERTO a que esteve vivendo inteiro, imenso e imerso, Roberto Bolaño.
Mas voltemos ao junto do corpo expressivo – o corpo-cena quando lhe chega a notícia de sua morte anunciada. É que começa ali a morte falada, morte cheia de prognósticos, morte vestida de um branco ambulatorial, morte com prescrições para o bom uso das horas que restam; a morte como se fora uma data que dispara o tiro de largada, e ela principia, ela começa a andar, os primeiros passos da morte, ela engatinha na tua direção, uma data na história, uma data na parede, um start de espetáculo, um recorte no tempo, uma fatia de presente servida a uma bandeja de medicamentos, 1992 é como um clique na bobina que despeja sobre nós o anúncio do fim. Anúncio prévio, mas anúncio saturado. É que tão logo chega, é que já chega a morte premente que passeia (até nós) como a um passaporte que vence em breve e não há recuo e não há réplica, e não há nem mesmo a prescrição do exílio a uma Viena que quem sabe sirva de salva, mas não há, deixemos claro que não há, que não há saídas de emergência, que não há portas como fundo falso, que não há um estalo de dedo que volte os ponteiros do desejo, que não há um verbo mágico que faça do mundo os lábios de Lisa, que não há maçaneta de cobre a esgarçar as portas da revolução que chega, que não há estantes de biblioteca que giram num volteio de cenário, não há não há, o que há é o império sedicioso e infame de uma diagnóstico, e sequer que salvaria a ilusão fílmica sintetizada no escamoteio de apostas a um tabuleiro de xadrez. Ingmar Bergman não serve ao Bolaño que vai morrer. Morte que vai chegando em pés de pluma que espetam como num jogo sujo, as fragilidades do efêmero talvez que (nos) comecem pelos baixios, pelas zonas tórridas nas que o sangue deveria ser filtrado, nas que as toxinas deveriam ser eliminadas, mas que nada, agora todos as curvas e retas da cidade atendem por uma disfunção hepática. Luiz Felipe Reis resolveu tomar para si este trajeto, seu DESERTO nos lança a esta tempestade afetiva.
É desde aí que Roberto Bolaño escreve:
“Escrever sobre a doença, sobretudo sobre si mesmo quando se está gravemente doente, pode ser um suplício. Escrever sobre a doença quando além de gravemente enfermo, se é hipocondríaco, é um ato de masoquismo ou de desespero. Porém também pode ser um ato libertador. Exercer, durante uns minutos, a tirania da enfermidade, como essas idosas que se encontra nas salas de espera dos ambulatórios e que se dedicam a contar a parte clínica ou médica ou farmacológica de sua vida, em vez de contar a parte política de sua vida ou a parte sexual ou a parte laboral, é uma tentação, uma tentação diabólica, porém uma tentação ao fim e ao cabo (…)”8.
3
Na entrevista com Luiz Felipe Reis, sugeri que avançássemos em direção a uma cartografia do DESERTO desbordando distintas claves de leitura e interpretação: A) Tomar a seu espetáculo teatral como matéria e mote. Seria seu intento o de repovoar de sentido e de gravidade tais zonas limítrofes? B) Tomar o ofício de escritura de Roberto Bolaño como espécie de contraforça ao instituído no campo literário. E é desde aí que nos surge certa imagem do DESERTO como tierra de nadie, terra morta, terra onde não há nada. DESERTO como desterro espacial, temporal, subjetivo para onde são lançados os que soçobram ou, à contrapelo, DESERTO como espaço de deriva no que transitam os que recusam as regras do jogo que absorve e aplana sob a tirania totalitária da codificação sistêmica. DESERTO como contraponto à trampa cultural literária, ao jogo, ao protocolo, às sinecuras e prebendas.
Luiz Felipe Reis destaca que mais do que propriamente povoar o deserto, o que estava em jogo era procurar pensar e observar com acuidade o processo de desertificação que a gente vive. Nos seus termos:
“Toda a aventura colonial capitalista que pressupunha uma espécie de rotina de deslocamento objetivando domínio, invasão, subjugação, extração, extenuação, exaustão dos territórios e dos corpos vivos que estavam em cada um destes territórios. A gente vê esse processo invadindo todos os corpos, inclusive os nossos, todos, as subjetividades todas, nas que se repete essa mesma dinâmica de invadir, perfurar, explorar, exaurir, extrair, minerar – o que são os algoritmos senão a mineração dos dados para extrair petróleo e para extrair dados dos imaginários humanos. É um processo simultâneo que opera no corpo, na pele e no corpo da terra, e no corpo, na pele da subjetividade de todos. E tal processo vem sendo intensificado nas duas vias. São dois processos de desertificação simultâneos que me chamam atenção no contemporâneo desta sociedade de capitalismo tardio neoliberal. E é incrível [o rebatimento disto] na explosão do sistema psíquico e na extenuação dos elementos fundamentais à manutenção da vida. É isto que chamo de processo de desertificação.
Já no caso de Bolaño, sua forma de pensar o deserto, diz respeito a sua condição de escritor exilado e alijado dos círculos, das rodas literárias, das grandes editoras que é a realidade de Bolaño durante a vida toda até o ano de 1998 quando ele consegue lançar ‘Os Detetives selvagens’ pela Anagrama. Em um livro de poemas seu chamado ‘A Universidade desconhecida’, ele enumera a quantidade de ‘não’ que ele recebeu das editoras ao longo de sua vida. E ele seguiu migrando sem conseguir estar em ‘um lugar’ que, no caso dele, não era um país, ou um território, esse lugar era o lugar do escritor, do poeta. (…) E Bolaño tratará de duplicar a aposta sabendo que vai ser derrotado. Mas ele não esperava a redenção, a salvação, a glória, ele diz que a partir do instante em que ele ingressou na literatura, quando ele decidiu ler e escrever, ele sabia que seria um ‘exilado’. A relação dele com o exílio vai por aí. Uma espécie de exílio voluntário diferente do exílio mais propriamente político porque passaram outros escritores e artistas chilenos da geração de Bolaño”9.
Sigamos por um instante a pista indicada por Luiz Felipe Reis, o livro de poemas de Roberto Bolaño, “A Universidade desconhecida”, que é de publicação póstuma, todavia os herdeiros do escritor salientam, em nota que abre o volume, que tal edição corresponde precisamente ao manuscrito encontrado nos arquivos do escritor datado de 1993. O poema Minha carreira literária, escrito em outubro de 1990,é o poema mencionado por Luiz Felipe Reis – poema que foi incluído no livro em separado.
Eis o poema de Bolaño:
“Recusas da Anagrama, Grijalbo, Planeta, com toda certeza também da Alfaguara, Mondadori.
Um não Muchnik, Seix Barral, Destino…
Todas as editoras… Todos os leitores…
Todos os gerentes de vendas…
Debaixo da ponte, enquanto chove, uma oportunidade de ouro
para olhar para mim mesmo:
como uma cobra no Polo Norte, mas escrevendo.
Escrevendo poesia no país dos imbecis.
Escrevendo até que a noite caia
com um estrondo de mil demônios.
Os demônios que hão de levar-me ao inferno,
mas escrevendo10
Eis o dispositivo encetado por Roberto Bolaño – a ocupação do DESERTO, o trânsito de pegadas firmes por sua vastidão desmarcada, a tarefa de repovoá-lo com outros signos, uma nova escritura que desequilibre a sintaxe e revolva sentidos comuns; usar e abusar de outros nomes e funções reivindicadas, trazidas de pronto ao corpo da cena que grita e afirma a exigência daquele que escreve no ato perigoso de criar; escrever apesar de, escrever uma vez que, escrever contra os que, escrever em direção a.
Escrever debaixo da ponte enquanto chove, escrever apesar dos silêncios da crítica guardados às sete chaves, escrever a despeito dos espaços viciados de circulação literária, seus sistemas de troca simbólica e de capital cultural – a senha dos grupelhos, a sanha dos imbecis que tagarelam num bailado de poses com seus sapatos combinando com a cor dos cabelos ou das bolsas; escrever contra os suplementos, os superávits, as bolsas e prêmios da Real Academia e similares a girar de mão em mão como numa feira de amigos [que quase se odeiam, e se disputam, e se cobrem de abraços ocasionais], o toma-lá-dá-cá das citações e referências, os encontros aos bastidores, o friccionar das antologias de que Bolaño diz que não há de se esperar que se faça parte porque talvez viesse a envergonhar o fato de se estar fazendo parte11.
Bolaño dirá que as críticas negativas que recebeu são as suas medalhas de combate em brigas não simuladas. Forma de assumir o reverso do jogo de espelhos em que a imagem e semelhança são exatamente o que pode constranger àqueles que não querem se intoxicar com os galardões e as vozes insossas das academias de letras que primam pela imortalidade do curtume que cheira às memórias amargas de seu passado de couro e arrivismo. E é neste sentido que se há de evitar os infaustos seminários internacionais com suas horas de voo, salas refrigeradas de aeroportos, uma drágea para dormir, outra drágea para acordar, uma terceira drágea para se aguentar de pé com um sorriso amarelo na carantonha que ameaça despencar corredeira abaixo.
Luiz Felipe Reis sintetiza de forma precisa:
“A vitória do poeta é perder de pé. O que importa não é sobreviver a qualquer custo, o que importa é que permanecemos de pé. Que não nos tornamos covardes, cínicos ou canibais. Um poeta, um escritor, ele sabe que vai perder a batalha, mas ele segue para a batalha sabendo que vai perder, que a derrota é certa, ele não espera vencer, a vitória dele é perder de pé, é não desistir, é não ‘des-existir’, é não deixar que as regras do mundo produzam a minha ‘des-existência’. É olhar o abismo e se lançar de olhos abertos e atacar, atacar, atacar. Não é vencer, vencer, vencer. Não se trata disso, se trata de atacar sem parar. Esta é a condição trágica do poeta: saber que não se tem domínio e poder com relação as forças que produzem vida e morte. E se lançar nesse deserto. Atravessar o deserto escrevendo poemas. O deserto como sendo o lugar onde nascem os poemas, a aridez do mundo que convoca a uma ação”12
Escrever com o filho nas pernas, escrever com uma das mãos, com a outra trocar as fraldas com caca do filho que está sentado em suas pernas; escrever com a pressa daqueles que esperam um fígado que não irá chegar aos milagres de um transplante; e já nada que nos serve a performance ao hospital em que a luz branquíssima estoura o quadro, estoura a cena, desmarca partituras de gestos; escrever a despeito dos corvos que nos olham o fígado que ainda se tem – um fígado com musgos na sua parede, um fígado de não causar inveja ao próximo copo; escrever porque dói não seguir adiante quando tudo parece conspirar em contra, escrever quando os lobos pardos ladram uivam assopram as boas novas do mercado de ações editoriais.
São palavras de Bolaño:
“O mundo da literatura está tomado de oportunistas. Há pouco me chamaram de cortesão. Jamais em minha vida recebi ajuda de ninguém. Nenhum Estado, nem o chileno, nem outro qualquer me auxiliou em nada. Nenhum mecenas me serviu para qualquer coisa. Cortesão de quem? – e foi dessa forma que me chamou gente que postula benesses culturais, gente que postula cargos, enfim, gente cortesã. Cortesões me acusam de cortesão, de que tipo de esquizofrenia se padece?!”13.
Escrever até que a noite caia com um estrondo de mil demônios. Escrever em meio aos destroços, um pedaço de carvão empunhado pelos dedos em pinça e escrever como quem rabisca, como quem se arrisca até que o laudo derradeiro ingresse com os pés na porta. Escrever para não morrer e, a um só tempo, escrever porque se morre14. Escrever como se se tratasse de um esticar de cordas – assopra daqui, assopra dali um sopro quente tornado, escrever como a um gesto de trazer para dentro o que se manteve sempre à distância. Escrever o que não pode ser escrito, o que não convém que o seja, escrever como contrapoder e a contrapelo.
Escrever como se fora a assunção do jogo de amarelinhas, o pular de casas à revelia, o fazer-se brincante quando parece que se trata de algo imenso sério que nos custa a força e o sorriso últimos. Escrever porque se cansou de outros ofícios terrestres: vigilante noturno em um camping de Barcelona, lavador de pratos, gari, ou porque se descobriu que se era suficientemente inepto para continuar roubando livros em livrarias15. Todavia, escrever não como se fora um distintivo, um lugar-palanque, uma plataforma de soberba.
Escrever sobre o que queima, a partir desta queima – êxtase e horror. Fazer ingressar na toada da escrita o intolerável que não se deixa nomear. Que escapa por todos os lados do pergaminho ou da tela ou dos registros do ver do ouvir do contar. Escrever como quem testemunha e avança e avança a este ataque. Escrever como se fora atacar e atacar e atacar as bases e modos do saqueio ignóbil dos monopólios e empresas transnacionais. Escrever para denunciar a superexploração das relações de trabalho decorrente da assinatura, em 17 de dezembro de 1992, do Tratado de Livre Comércio da América do Norte (NAFTA) entre os governos dos Estados Unidos, Canadá e México – claro está que em condições imensamente desiguais e desfavoráveis no que tange aos interesses deste último. Escrever para denunciar os efeitos das drásticas políticas neoliberais lançadas sobre as classes trabalhadoras oprimidas pelo aviltamento crescente das relações de produção e o aprofundamento das terríveis mazelas sociais decorrentes dos altíssimos índices de vulnerabilidade econômico e social16.
Luiz Felipe Reis faz uso de seus instrumentos mágicos de imantar e engatilhar atenções, de destacar como quem entoa mais alto o coro cênico. É que agora, em Roberto Bolaño, é que agora, em DESERTO, se tratará da escrita à pele dos fatos, da evocação dos que foram dizimados ou desertificados, dos que ficaram pelo caminho – tragados de todo à solvência de uma ‘dívida infinita’ que lhes tomou de assalto em paralisia. É que agora a escrita se volta em direção aos que não param de ser mortos, aos que não deixam de ser massacrados pelo saqueio contumaz promovido pelas relações capitalistas de extorsão. Escrever sobre o assassinado massivo de mulheres nas regiões fronteiriças entre México e Estados Unidos, ou mais precisamente na Ciudad Juárezpara onde migram enorme contingente de desempregados que serão tragados pelas maquiladoras, empresas que se utilizam de um regime de trabalho extorsivo, sem quaisquer direitos e proteção social, e cujo produto será encaminhado ao exterior com enorme taxa de lucro17.
Luiz Felipe Reis escreve na tela ao fundo do palco de seu DESERTO, os nomes, Roberto Bolaño emprega tintas fortes, todos os nomes, quase todos de tantos, de várias mulheres, de mulheres comuns que ninguém conhece, de mulheres tão comuns que todos conhecemos, de mulheres que tem a cara que nós temos, o rosto vário de nossos povos de América Latina, mulheres incrivelmente comuns a ponto de serem arrastadas anônimas e infames pelo rolo compressor do extermínio, Luiz Felipe Reis assume inúmeros nomes, as evoca em grita, como se descessem dos montes todos os nomes, e fossem ganhando espaços onde a ausência evocava desaparecimentos forçados, silêncios que materializam a desertificação:
“Beatriz Concepción Roldán, ferimento por facão, um rasgo do umbigo ao seio. Esperanza Gómez, estrangulada num terreno baldio. Hematomas no queixo, no olho esquerdo, nas pernas e costelas. Estuprada na vagina e no ânus. Luisa Vázquez, estrangulada com um fio de TV. 16 anos, pele branca, e grávida de cinco meses. Lorenza González, golpes de faca no rosto e no abdômen. Isabel Urrea, um tiro na testa. Isabel Cansino, corpo e rosto arrebentados. Guadalupe Rojas, ferimentos de arma de fogo. Assassinada pelo namorado. Emília Mena, estuprada, esfaqueada e queimada num lixão clandestino. Michele Sánchez Castillo, golpes de barra de ferro no tórax e no rosto. Fratura mortal no crânio. Marisa Hernández Silva, violentada e estrangulada. Seio esquerdo mutilado. Seio direito sem o mamilo arrancado a mordidas”18.
Consumação da força política tomada em poesia, DESERTO ousa tocar no que deveria estar fora de cena, no que deveria enrubescer até que o rosto que trazemos agarrado ao pescoço explodisse; DESERTO traz para a cena, para o palco o obsceno, e o escancara, e o empezinha, e o varre para o lixo da história. Roberto Bolaño dá cartas a essa sinfonia trágica que sobreleva. Renato Livera se transmuta em intercessor ótimo, preciso, pontualíssimo.
Deixemos a palavra que encerra ao poema Amanhecer de Roberto Bolaño:
Acredite, estou no meio do meu quarto esperando que chova.
Estou sozinho. Não ligo se vou terminar ou não meu poema. Espero a chuva,
tomando café e vendo pela janela uma bela paisagem de pátios internos,
com roupas penduradas e quietas, silenciosas roupas de mármore na cidade,
onde não existe vento e só se ouve ao longe o zumbido de uma tevê em cores,
observada por uma família que também, a essa hora, toma café reunida ao redor
de uma mesa: acredite: as mesas de plástico amarelo se desdobram até a linha do horizonte,
e além: lá nos subúrbios onde se constroem prédios de apartamentos,
e um garoto de 16 anos sentado sobre tijolos vermelhos contempla o movimento das máquinas.
O céu na hora do garoto é um enorme parafuso oco com que a brisa brinca.
E o garoto brinca com ideias. Com ideias e cenas estáticas.
A imobilidade é uma neblina transparente e dura que sai de seus olhos.
Acredite: não é o amor que vai vir,
mas a beleza com sua estola de auroras mortas”19.
Este texto expressa a opinião do autor.
Notas:
1 – Sacamos do dramaturgo e ator francês Antonin Artaud a expressão ‘atletismo afetivo’. Vejamos o que diz Artaud: “Em relação ao ator, é preciso admitir a existência de uma espécie de musculatura afetiva que corresponda a localizações físicas dos sentimentos. O ator é como um verdadeiro atleta físico, mas com a seguinte correção surpreendente, que ao organismo do atleta corresponde um organismo afetivo análogo e que é paralelo ao outro, que é como o duplo do outro embora não atue no mesmo plano. O ator é como um atleta do coração. (…) Assim, pela acuidade aguçada da respiração o ator cava sua personalidade. A respiração que alimenta a vida permite galgar as etapas degrau por degrau. E um ator pode repenetrar num sentimento que ele não tem sob a condição de combinar judiciosamente seus efeitos (…). Para refazer a cadeia, a antiga cadeia na qual o espectador procurava no espetáculo sua própria realidade, é preciso permitir que esse espectador se identifique com o espetáculo, respiração a respiração e tempo a tempo. Não basta que essa magia do espetáculo acorrente o espectador, ela não o aprisionará se não souber onde prendê-lo. Basta de magias ocasionais, de uma poesia que não tem a ciência a sustentá-la. No teatro, daqui para frente poesia e ciência devem identificar-se. Toda emoção tem bases orgânicas”. IN: ARTAUD, A.O Teatro e seu duplo. São Paulo: Editora Max Limonad, 1987 (p.162,166,170-171).
2- Utilizo-me de um trecho do livro de Maurice Blanchot, La Comunidad inconfesable, para aludir aos ‘efeitos’ resultantes do ‘jorro cênico’, espécie de liturgia espectral que ‘age’ sobre o público/povo presente a um espetáculo-rito teatral. Blanchot alude ao cortejo dos mortos de Charonne, no dia 17 de outubro de 1961, quando do massacre de argelinos pelos agentes do imperialismo colonial francês, e a multidão imóvel, silenciosa, cuja importância seria impossível de ser contabilizada, ou de equivaler a uma cifra. Nos termos de Blanchot: “Creio que houve então uma forma de comunidade, diferente daquela cujo caráter cremos ser possível definir, um desses momentos em que comunismo e comunidade se juntam e aceitam ignorar que se realizaram a despeito de que possam vir a se perder de imediato. Não é necessário que dure, não há de fazer parte de qualquer duração, qualquer que seja. Isso se entendeu neste dia excepcional: ninguém teve que dar uma ordem de dispersão. Nos separamos pela mesma necessidade de que nos havíamos juntado ao que era inumerável. Nos separamos instantaneamente, sem que restasse qualquer coisa, sem que se formassem sequelas nostálgicas pelas quais se altera a manifestação verdadeira pretendendo preservá-la em grupos de combate. O povo não é assim. Está aí, já não está aí, ignora as estruturas que poderiam estabilizá-lo. Presença e ausência, senão confundidas, pelo menos se intercambiam virtualmente. E isto é o que é temido pelos detentores de um poder que não os reconhece: ao não se deixar apreender, ao ser tanto a dissolução do fato social como a obstinação que se devota a reinventá-lo com uma soberania que a lei não pode circunscrever, pois que ela a recusa a se manter como seu fundamento”. IN: BLANCHOT, M. La Comunidad inconfesable. Madrid: Arena Libros, 2002 (p.58-59).
3- Vejamos este trecho da excelente entrevista do sociólogo Ricardo Antunes por Maria Carolina Santos: “A resiliência é trabalhar todo o possível para a empresa. Qual é o resultado da resiliência? É o burnout, é a depressão, é o assédio, é o sofrimento. E muitas vezes, o suicídio. Um bom exemplo do que é o capitalismo é o Japão. A sociedade japonesa é uma das que tem mais suicídios no mundo. Porque até os gerentes de cada um dos intermediários acham que se a empresa faliu ou está indo mal, a culpa é deles. Ficam trabalhando na empresa até morrer. Quando a Telefrance, na França, foi privatizada, aconteceram mais de 50 suicídios lá dentro. Porque a privatização hoje avança para quebrar direitos da classe trabalhadora. Uma classe trabalhadora sem direitos é uma classe trabalhadora empurrada para o sofrimento, para a depressão, para o burnout, para o assédio, para o suicídio e para a morte”. Cf. Link de acesso: https://outraspalavras.net/outrasmidias/como-evitar-a-sociedade-dos-escravos-digitais/
Destaco também este trecho da fala do ator Renato Livera no programa Painel Questão de Crítica: “(…) essa coisa do ator de estar em cena e ter essa coisa da vitalidade, é que eu acredito muito nessa potencialidade que o ser humano tem de se relacionar seja lá com o que for, se relacionar e estar aberto para estas relações, e quando a gente está aberto a isto a gente abre possibilidades para que as coisas aconteçam de maneira diferente, que elas não sejam direcionadas para uma coisa limitada, porque acho que esta é a nossa grande contradição hoje, a gente vive num sistema que te limita a viver o que ele determina, a gente fala do capitalismo, a gente fala de políticas autoritárias, tudo isto é uma limitação ao humano para que ele não possa existir na sua totalidade (…)”. Cf. Link de acesso: https://www.youtube.com/watch?v=FX73h8pCcO
4 – Vez mais, nos remontamos a Antonin Artaud, em um de seus textos reunidos em O Teatro e seu duplo, aqui nos referimos a conferência ministrada na Sorbonne, em 1933, chamada ‘O Teatro e a peste’, vejamos o que diz Artaud: “O teatro convida o espírito para um delírio que exalta suas energias; e para terminar é possível observar que do ponto de vista humano a ação do teatro como a da peste, é benfazeja pois, levando os homens a se verem como são, faz cair a máscara, põe a descoberto a mentira, a tibieza, a baixeza, o engodo; a ação do teatro sacode a inércia asfixiante da matéria que atinge os dados mais claros dos sentidos; e revelando para as coletividades seu próprio poder obscuro, sua força oculta, ele as convida a assumir diante do destino uma atitude heroica e superior que, sem isso, elas nunca assumiriam. E a questão que agora se coloca é saber se neste mundo que derrapa, que se suicida sem perceber, é possível achar um punhado de homens capazes de impor esta noção superior do teatro…”. IN: ARTAUD, A. O Teatro e seu duplo, op.cit, p.44-45.
5 – Roberto Bolaño em sua conferência Literatura e exílio, no dia 03 de abril de 2000, durante o simpósio ‘Europa e América Latina: literatura, migração e identidade’, organizado pela Sociedade Austríaca para a Literatura, afirma: “Convém dizer desde já que é um prazer estar com vocês aqui na renomada e famosa Viena. Para mim, Viena tem muito a ver com literatura e com a vida de algumas pessoas muito queridas que entenderam o exílio como às vezes eu mesmo o entendo, isto é, como vida ou atitude perante a vida. Em 1978, ou talvez 1979, o poeta mexicano Mario Santiago, vindo de Israel, passou uns dias nesta cidade. Segundo ele mesmo me contou, um dia a polícia o deteve e logo ele foi expulso. A ordem de expulsão determinava que ele não poderia voltar à Áustria até 1984. (…) Podemos falar ou retomar o possível discurso do exílio e do desterro: o Ministério do Interior austríaco ou a polícia austríaca ou a Previdência austríaca emite uma ordem de expulsão e mediante essa ordem manda meu amigo Mario Santiago para o limbo, para a terra de ninguém, o que em inglês se chama no man’s land, que francamente fica melhor em espanhol, pois em espanhol tierra de nadie significa exatamente isso, terra erma, terra morta, terra onde não há nada (…)”. Link de acesso: https://iedamagri.wordpress.com/wp-content/uploads/2014/07/literatura-e-exilio-roberto-bolano-portugues.pdf
6 – Texto ‘mesclado’ de trechos da peça DESERTO, escrita e dirigida por Luiz Felipe Reis. Com atuação de Renato Livera. Produzida pela Cia.Polifônica – criada em 2014 por Luiz Felipe Reis e Julia Lund. As fotografias que nos foram gentilmente cedidas pela produção do espetáculo são de Renato Mangolin – exceção feita a foto 2 e 4. Destaco ainda que a foto 2 é de minha autoria e a foto 4 foi sacada da internet,
7 – Cf. Entrevista com Luiz Felipe Reis por André Queiroz, em 12 de setembro de 2024. Luiz Felipe Reis acrescenta que também se utilizou de trechos de poemas de Nicanor Parra, um dos poetas preferidos de Roberto Bolaño. Grifo nosso.
8 – BOLAÑO, R. ´Literatura + enfermidad = enfermidad’. IN: El Gaucho insufrible. Cf. Link de acesso: https://edisciplinas.usp.br/pluginfile.php/5013848/mod_resource/content/1/Literatura%2BEnfermedad.pdf .
9 – Entrevista com Luiz Felipe Reis por André Queiroz.
10 – Cf. BOLAÑO, R. A Universidade desconhecida. Edição bilingue. Tradução de Josely Vianna Baptista. São Paulo: Companhia das Letras, 2021 (p.7).
11 – Nos termos de Bolaño: “A Real Academia é uma caverna de crânios privilegiados. Não está lá Juan Marsé, não está Juan Goytisolo, não está Eduardo Mendoza nem Javier Marías, não está lá Olvido García Valdez, não me lembro se Alvaro Pombo está (provavelmente se estiver se trata de um equívoco), mas está Pérez Reverte. Bom, Paulo Coelho também está na Academia Brasileira”. IN: Roberto Bolaño entrevistado por Mônica Maristain. Grandes Entrevistas. Revista Playboy, México, em 2003 (p.4). Cf. Link de acesso: https://www.tirodeletra.com.br/entrevistas/RobertoBolano.htm
12 – Entrevista com Luiz Felipe Reis por André Queiroz. Grifo nosso.
13 – Cf. Entrevista de Roberto Bolaño, em 2001, ao programa Off the record cultural, conduzido por Fernando Villagrán. Link de acesso: https://www.youtube.com/watch?v=Ml3XNIIAm2o
14 – Vejamos este trecho de Maurice Blanchot: “Qualquer obra é obra das circunstâncias: isto quer dizer simplesmente que essa obra teve início, que começou no tempo e que esse momento do tempo faz parte da obra, já que sem ele, ela só teria sido um problema insuperável, nada mais do que a impossibilidade de escrever”. IN: BLANCHOT, M. “A Literatura e o direito à morte”, no livro A PARTE DO FOGO. Rio de Janeiro: Rocco, 1997 (p.295).
15 – Cf. Roberto Bolaño: la belleza de pensar. Entrevista de Roberto Bolaño por Cristian Warken. Eis este trecho de Bolaño: “Sou muito tímido e naquela época era mais tímido ainda. Eu via como meus amigos roubavam livros e suas bibliotecas iam crescendo, menos a minha. E então, decidi ingressar no grêmio dos ladrões e, a princípio me saí bem, depois tive duas ou três ‘quedas’ e deixei de roubar. Me deixava nervoso, porém me parece muito bom que o façam. Roubar livros não é um delito. Se começa comprando livros, depois roubando-os e por fim, os lendo”.
Link de acesso: https://www.youtube.com/watch?v=4opmK0SO-J8
16 – Cf. o artigo escrito por Aram Cavalcanti e Patrícia Ferreira Guimarães: “Os impactos do NAFTA na economia mexicana nos anos 1990”. Link de acesso: https://dspace.unila.edu.br/server/api/core/bitstreams/7d12f14b-9765-4ce3-996d-1458f87ab9c9/content
17 – Cf. o documentário Maquiladora, dirigido por Miguel Gaggiotti, em 2020. Link de acesso: https://www.youtube.com/watch?v=p4yYieBmz8c
18 – Cf. texto do espetáculo DESERTO, de Luiz Felipe Reis.
19 – BOLAÑO, R. A Universidade desconhecida. Op.cit. (p.21).