No dia 19 de abril, cerca de 300 famílias camponesas organizadas pela Frente Nacional de Luta Campo e Cidade (FNL), em frente ao Palácio do Buriti realizaram um protesto contra a ação de despejo truculento executada por militares no acampamento Florestan Fernandes na região de Sobradinho, localizado a 24 km de Brasília, no Distrito Federal (DF). Durante os protestos, os camponeses entoavam as palavras de ordem: “Essa luta é nossa, essa luta é do povo, é só lutando que constrói um Brasil novo!”.
Centenas de famílias protestam contra despejo arbitrário no DF. Foto: FNL
O despejo
No dia 07/04, foi executada uma truculenta ação de despejo por militares sob o comando de Alexandre Bittencourt, subsecretário de operação do DF, que a fez sem apresentar nenhuma documentação. Durante o despejo, utilizando tratores, os militares destruíram as moradias das famílias assim como toda a estrutura do acampamento.
Segundo as denúncias dos camponeses, têm sido comuns os ataques contra os movimentos populares do campo e da cidade. Os trabalhadores afirmam que também tem sido frequente a regularização de áreas griladas por latifundiários. Estes contam com apoio do velho Estado, tendo à frente da Secretaria de Assuntos Fundiários do Ministério da Agricultura, o chefe do órgão reacionário da União Democrática Ruralista (UDR), Nabhan Garcia, conhecido pelos camponeses por grilar terras e usar pistoleiros para atacar trabalhadores.
O movimento FNL afirma que o acampamento Florestan Fernandes não findou mesmo com os ataques da polícia e as políticas covardes e reacionárias aplicadas contra o povo. O movimento ainda declarou que seguirão se unindo, organizando e lutando pelo legítimo direito à moradia, terra e trabalho e que não recuaram para mudar a realidade dos trabalhadores de Brasília que pagam altos aluguéis e vivem na miséria. No estado, cerca de 120 mil pessoas vivem sem moradia.
O acampamento Florestan Fernandes
Cerca de 300 famílias camponesas ocupam uma área de 150 hectares de terras reivindicadas pelo latifúndio. Trata-se de fato de terras públicas destinadas à Companhia Imobiliária de Brasília (Terracap), empresa pública do governo do Distrito Federal, criada em 12 de dezembro de 1972 durante o regime militar fascista, sob gerenciamento de Médici. De acordo com a empresa, a Terracap atua no ramo de “alienação de unidades imobiliárias derivadas de regularização fundiária”.
Segundo as denúncias dos camponeses, a área ocupada era um latifúndio que servia aos interesses de grileiros da região, que não produziam, nem moravam, mas queriam ditar a finalidade daquelas terras.
A resistência contra os ataques do latifúndio
As famílias resistiram a várias tentativas de intimidações. Em um dos ataques, um camponês que no momento trabalhava na portaria do acampamento foi sequestrado e solto na estrada próximo ao município de Colorado.
Em outro ataque, trabalhadores foram ameaçados por quatro pistoleiros. Um deles, de acordo com as denúncias dos camponeses, era conhecido pelo nome de Ivan que este seria o responsável pela venda de lotes de dois hectares de terras públicas por R$ 150.000,00.
Uma das várias tentativas de intimidações dos camponeses foi registrada em vídeo no qual os grileiros ameaçam os acampados. Durante o vídeo, um camponês denuncia a grilagem de terra afirmando que os documentos apresentados pelos supostos proprietários não são válidos e que a terra é pública. Colocando os homens para correr, em voz altiva, ele disse: “Vocês não tem nada aqui! A terra não está tendo nenhum fim social. Não tem produção nenhuma, só capim. E essa cerca não quer dizer nada!”. O camponês ainda acusou os homens pelo desmatamento do cerrado.