No dia 26 de maio, cerca de 300 famílias camponesas foram despejadas do acampamento Florestan Fernandes que fica localizado no Distrito Federal. A ação truculenta foi promovida por agentes do velho Estado, policiais militares, em benefício do latifundiário Pedro Alves Ferreira.
Para executar a ação de despejo foram utilizadas dezenas de maquinários e agentes militares reacionários. Imagens da expulsão foram registradas em vídeo por um camponês. Durante a gravação, o trabalhador disse: “O aparato que está aqui é grande e dá para derrubar uma cidade todinha”. Em meio ao despejo, com o uso de tratores, os militares destruíram as moradias das famílias assim como toda a estrutura do acampamento.
Em um outro vídeo é possível ver que um camponês, que realizava uma gravação para denunciar a truculência dos agentes da polícia, foi repreendido de maneira injustificável pelos agentes. Um policial ao perceber a gravação, disse: “Você vai sair daqui agora!”. Quando questionado pelo camponês, outro policial ameaça: “Você quer ir para delegacia? Quer ir preso? Por desobediência?”.
Uma camponesa declarou: “Mais uma vez acontecendo despejo, famílias chorando desesperadas sem ter para onde ir. Isso é o que o governo tem para oferecer, trator, polícia e caminhão para levar nossas coisas.”.
A Frente Nacional de Luta Campo e Cidade (FNL) em nota denunciou: “Um Estado a serviço da grilagem, do latifúndio e que impõe o sofrimento ao povo, a polícia age como jagunço dos ricos, ataca mulheres, crianças e idosos, o arbítrio e a violência não tem limite e tem como única finalidade garantir o privilégio dos poderosos”. A FNL declarou: “Somente a luta do povo, com muito união e organização poderá dar um basta a este tempo, Florestan resistirá!”.
Ação de despejo truculenta destrói moradias de famílias camponesas. Foto: FNL/DF
Camponeses não se intimidam com sucessivos despejos
As famílias do acampamento Florestan Fernandes já haviam sido despejadas em outra ação ilegal que ocorreu no dia 07/04, sob o comando de Alexandre Bittencourt, subsecretário de operação do DF. O subsecretário efetuou o despejo sem apresentar nenhuma documentação que validasse judicialmente a ação. No entanto, as famílias camponesas se organizaram e voltaram a ocupar a área. Destemidas, resistiram no acampamento.
Segundo a FNL, dias antes do mais recente despejo, em 15/05, as famílias camponesas do Acampamento Florestan Fernandes cuidavam de seus barracos, plantando e fortalecendo o sonho da conquista de um pedaço de terra para viver, quando um oficial de justiça chegou para entregar uma ordem de reintegração de posse, expedida pelo Juiz da Vara de Meio Ambiente, Desenvolvimento Urbano e Fundiário do DF, Carlos Maroja, em favor de Pedro Alves Ferreira.
DF: Camponeses sofrem despejo executado por PM
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— A Nova Democracia (@jornaland) June 27, 2022
O Mandado de Citação Coletiva reconhece que a área é pública, mas atende um documento de cessão de uso feito em cartório, em 2008. A terra que abriga centenas de pessoas seria cedida ao latifúndio.
O documento dava o prazo de 15 dias para as famílias saírem da área. Segundo denúncias dos camponeses, o mandado atende aos interesses dos especuladores da Capital Federal, que grilam terras públicas, formam condomínios de luxos, sem serem incomodados e depois são legalizados pela Câmara Distrital, ação recorrente na região.
A área do acampamento Florestan Fernandes: Terras públicas
A área do acampamento está localizado em terras públicas destinadas à Companhia Imobiliária de Brasília (Terracap), empresa pública do governo do Distrito Federal, criada em 12 de dezembro de 1972 durante o regime militar-fascista, sob gerenciamento de Médici. De acordo com a empresa, a Terracap atua no ramo de “alienação de unidades imobiliárias derivadas de regularização fundiária”.
Segundo as denúncias dos camponeses, a área ocupada era um latifúndio que servia aos interesses de grandes grileiros da região, que não produziam, nem moravam, mas queriam ditar a finalidade daquelas terras.
Aumento das ocupações em todo Brasil
Diante do aprofundamento da crise do capitalismo burocrático no país, os trabalhadores em todo país não se deixam desanimar e seguem lutando pelos direitos. Apenas nos quatro primeiros meses de 2022, cresceu o número de tomadas de terras por todo país em relação ao mesmo período do ano anterior. O AND apurou que houveram 16 ocupações e retomadas de terra pelo país envolvendo mais de 3,3 mil famílias camponesas, indígenas e quilombolas. Os dados indicam que ao menos 13,7 mil pessoas se lançaram às tomadas e retomadas.
Fica evidente com o crescimento do número de ocupações e de famílias envolvidas nas tomadas. Mesmo o latifúndio e seus lacaios aplicando uma ferrenha repressão e cometendo os mais desprezíveis crimes, a rebelião no campo se impõe e o povo segue lutando, resistindo e ocupando com disposição dobrada. Isso demonstra que a questão agrária e a luta pela terra são questões centrais na situação nacional, mobilizando milhares de massas camponesas.