Na manhã desta segunda-feira (16/09) os brasilienses acordaram com o céu e as ruas tomados por fumaça. Escolas públicas foram autorizadas a cancelarem as aulas, pois não bastasse o calor e a baixa umidade que tem causado danos à saúde dos habitantes do DF, com a fumaça o nível de poluentes no ar está cinco vezes maior que o valor de referência anual da Organização Mundial da Saúde (OMS).
A Universidade de Brasília (UnB) também cancelou o expediente presencial, orientando que a comunidade acadêmica procure abrigo em locais seguros, distante das áreas afetadas pelas queimadas. Em um vídeo registrado por estudante, é possível ver a fumaça por todo o campus.
As chamas que já tomam 700 hectares do Parque Nacional de Brasília se iniciaram no domingo próximo à Estrada Parque indústria e Abastecimento (Epia), entre a Granja do Torto e a Água Mineral. O incêndio chegou perto do reservatório de Santa Maria, o segundo maior do Distrito Federal, responsável por abastecer o Plano Piloto, a área central de Brasília. Considerando a área atingida nas imediações do parque, o total se aproxima dos 1,2 mil hectares.
Incêndios também foram provocados próximos às comunidades indígenas localizadas no Noroeste, área de Brasília com maior especulação imobiliária.
O DF se encontra no Cerrado, bioma já reconhecido como um dos maiores polos do latifúndio de monocultura do mundo. É no Cerrado que se encontram latifúndios produtores de algodão, sorgo, soja, milho, feijão, cana-de-açúcar, além da pecuária extensiva de baixa tecnologia.
Conforme estudo realizado pela Mapbiomas, o Cerrado perdeu 27% de sua vegetação nativa nos últimos 39 anos, o que representa 38 milhões de hectares. Ao longo desse período, o bioma teve 88 milhões de hectares atingidos pelo fogo, o que causou a perda de 9,5 milhões de hectares.
De acordo com informações do Instituto Nacional de Pesquisa Espaciais (Inpe), só até o dia 12 de setembro, o estado de Goiás registrou 2.408 focos de incêndio. Sete dos 20 municípios considerados os maiores produtores de grãos e agropecuária de Goiás estão entre as cidades com a maior incidência de incêndios no estado. Entre 1º de janeiro e 9 de setembro deste ano, o DF teve 245 focos de incêndios florestais. É o maior número em 14 anos, segundo o Inpe.
Como já noticiado por essa tribuna, há vários motivos para o latifúndio incendiar áreas florestais ou mesmo parte da produção. A primeira é que é uma forma de abrir uma área de mata fechada de forma rápida, ainda mais se o interesse for usá-la para pasto. Outra, quando o incêndio queima parte da produção, é tirar parte dos produtos do mercado para aumentar o preço das mercadorias.
Em meio a isso, Luiz Inácio critica formalmente os incêndios, chamando de “criminosos”, enquanto seu governo busca “garantir que os produtores tenham acesso ao crédito necessário para recuperar suas áreas e voltar a produzir”. O ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, anunciou um programa de crédito exclusivo para garantir ajuda aos “produtores rurais” afetados pelos incêndios. O programa faz parte da linha de crédito Renova Agro, pertencendo ao Plano Safra.
“A recuperação das áreas atingidas é o foco do programa, e os recursos podem ser usados para recuperar pastagens, lavouras e áreas degradadas. O valor máximo financiado é de até R$ 5 milhões por ano”, detalhou Guilherme Campos, secretário de Política Agrícola do Ministério da Agricultura, em entrevista ao canal latifundista Canal Rural.