Organizações da área da saúde e movimentos sociais do Distrito Federal (DF) promoveram um ato em defesa do Sistema Único de Saúde (SUS) e contra a privatização da saúde, em Brasília. A manifestação ocorreu na terça-feira (25/2), dentro da Câmara Legislativa do Distrito Federal (CLDF).

A mobilização foi uma resposta à indicação do atual presidente do Instituto de Gestão Estratégica de Saúde do Distrito Federal (Iges-DF), Juracy Lacerda, ao cargo de secretário de saúde do DF. O nome do gestor foi apresentado pelo governador Ibaneis Rocha (MDB) nesta quinta-feira (20/2) ao anunciar a saída da secretária de Saúde, Lucilene Florêncio, que estava no comando da pasta desde o início de 2022.

O Conselho Regional de Psicologia do Distrito Federal (CRP-DF) destacou em rede social que a saúde pública do DF vem sendo sucateada desde o primeiro governo de Ibaneis Rocha. O Sindicato dos Médicos do Distrito Federal (SindMédicos-DF) destacou em nota que “essa troca apenas escancara a estratégia do governo: sucatear o serviço público para justificar a entrega da saúde ao setor privado. O famoso ‘precarizar para privatizar’”

No ato da saúde, os manifestantes demonstraram sua discordância com as privatizações que vêm ocorrendo na saúde do DF. Levaram diversas faixas e cartazes que denunciavam o Iges-DF e gritavam palavras de ordem de “Fora Ibaneis” e “Abaixo as privatizações”. Acompanhavam o ato ainda defensores da causa contra a escala 6×1 do DF, representados por sindicalistas do PCBR e estudantes do Coletivo de Base – Honestino Guimarães (CB-HG). Os estudantes levantaram uma faixa escrita “Contra a escala 6×1! Greve Geral de Resistência Nacional!” e colocaram uma bandeira da Palestina junto às faixas em defesa da saúde.

Ao correspondente local de AND, os estudantes denunciaram ainda a tentativa da Polícia Legislativa da CLDF de criminalizar a bandeira palestina.

“Eles vieram em cima de um companheiro, questionando se a bandeira era do Hamas. Tentaram levar ele isoladamente para uma sala com a desculpa de ‘identificá-lo’. Me disseram ainda que aquela bandeira era proibida na CLDF. Porém, quando apareceram testemunhas por perto para ver o que estava acontecendo, os policiais mudaram a história, mentiram para o deputado Fábio Félix e para a representante do CRP que estavam lá, dizendo que só queriam saber que bandeira era aquela. Ainda tentaram barrar a nossa saída, se não nos identificassem. Mas eu aproveitei as pessoas em volta e perguntei se estávamos proibidos de sair. Quando disseram ‘não’, eu aproveitei a deixa e chamei todo mundo para sairmos em conjunto. Deixamos os policiais falando sozinhos”, relata o estudante.

O Coletivo de Base – Honestino Guimarães (CB-HG) publicou, através de seu Instagram, uma nota de denúncia sobre o ocorrido.

Desde o início do ano, Ibaneis prepara maiores privatizações para a saúde

O Governo do Distrito Federal (GDF), a mando do governador Ibaneis, iniciou 2025 abrindo um processo de consulta pública para um projeto de concessão da rede de diagnóstico de imagens para a iniciativa privada, buscando aprovação pública para seu projeto privatista. Também no início do ano, a Secretária de Saúde do Distrito Federal (SES-DF) anunciou que vai privatizar a contratação de serviços de pediatria na rede pública de saúde do DF. 

O SindMédicos-DF soltou uma nota questionando a medida. O sindicato alerta que, em julho do ano passado, o déficit de pediatras na rede pública era de 170 profissionais. Naquele momento, havia 441 pediatras ativos no quadro da secretaria. Hoje, 425 pediatras permanecem na rede, o que eleva o déficit para 186 profissionais. “E a solução proposta pelo GDF? Contratar serviços privados para cobrir parte desse déficit, aumentando o número de pediatras em apenas 117”.

A secretária de Saúde, Lucilene Florêncio, argumenta que a Rede de Atenção no DF é “robusta”, porém a demanda do ​Sistema Único de Saúde​ (SUS​) é crescente.

“O governo faz isso sob falsos pretextos: ele alega que há falta de pediatras no mercado. No entanto, o Conselho Regional de Medicina do DF registra 1.798 pediatras ativos”, relata a secretária.

Em maio de 2024, uma crise na saúde do DF foi exposta após a morte de crianças na rede pública de saúde por não receberem assistência adequada. O caso foi noticiado por AND em “Caos da saúde pública no Distrito Federal levou três crianças a óbito em um mês”. 

Em 2024, segundo dados obtidos pelo monopólio de imprensa através da Lei de Acesso à Informação (LAI), 468 crianças de 0 a 14 anos morreram na rede pública e privada de saúde do DF, de janeiro a agosto. Foram 345 mortes em 19 UPAs e hospitais públicos e 123 em unidades de rede privada. Em média, uma criança morreu por dia na rede pública de saúde do DF, que concentra 73% das mortes.

As privatizações da saúde vêm sendo promovidas há muito tempo pelo governador Ibaneis Rocha, como também já noticiado por AND em DF: Escancarado o caos privatista da saúde do Distrito Federal. Cada vez mais se preparam atos contra estes ataques que vêm sendo promovidos.