Editorial semanal – Diesel e o risco de incêndio

Editorial semanal – Diesel e o risco de incêndio

A Petrobras anunciou novo aumento do diesel, que subiu nada menos do que assustadores 14,2% (!), e também da gasolina, com alta de 5,18%. No caso do diesel, é o segundo reajuste de preços em 39 dias, sendo que o último já havia imposto uma alta grande, de 8,9%.

A temida greve dos caminhoneiros apenas não estourou porque as massas dessa categoria estão divididas, agravante para o fato de estarem sem seus instrumentos elementares de luta reivindicativa e sequestradas por algumas lideranças vinculadas, direta ou indiretamente, ao paparrotão Bolsonaro, e muitas delas, ainda que lentamente, se desiludem.

Bolsonaro tenta livrar-se dessa desagradável responsabilidade pela nova alta nos combustíveis, a todo modo, em busca de amortecer ao máximo o inevitável desgaste que isso lhe causa em ano eleitoral. Para tanto tem procedido a demissões e mais demissões na diretoria da Petrobras, inclusive na presidência do monopólio petroleiro. Assim como tem falado sobre a privatização total da empresa para resolver a alta nos preços. Disparate, típico de quem não sabe o que está fazendo, pois que até o ultraliberal mais incapaz e imbecil reconhece que a privatização não tem nenhuma relação de causa-efeito, direta, sobre o preço dos combustíveis. Depois, Bolsonaro disparou contra Temer, por haver instituído a política de Preço em Paridade Internacional (PPI), mas nada disse sobre propor revogá-la – por certo, isso seria um tiro no próprio pé para sua relação com o imperialismo e os setores mais poderosos do capital financeiro, que o tacharia como populista. Essas são as dificuldades do seu contorcionismo eleitoreiro para fazer o impossível: agradar, ao mesmo tempo, o establishment e as massas populares.

Mas, as lorotas e as embromações de Bolsonaro têm ainda alcançado – temporariamente e apenas no fundamental – o que ele espera: não desnudar-se, completamente e agora, frente às massas, em especial os caminhoneiros, como alguém que de fato não quer mexer nos caros interesses de poucas dúzias de grandes magnatas do capital financeiro internacional. Agora mesmo, o seu ministro da Economia disse que pode criar auxílio para caminhoneiros e distribuir valor que ultrapassa R$ 1.000, pura ação de propaganda e que lança às cucuias o já há muito profanado “teto de gastos”, tão exigido pelo imperialismo. Ele torce e se contorce para conseguir manter essa máscara até, pelo menos, outubro.

Mas Bolsonaro não é o único a se contorcer. Depois de lançar ofertas aos pobres, Luiz Inácio volta a ser comedido. Recentemente, voltou atrás em sua promessa de revogar a “reforma trabalhista”. O desânimo e divisão já se faz ver mesmo nas estruturas de sua aristocracia sindical amarela, vejam só. Em breve o operário-padrão do FMI será também “mais brando” sobre a “reforma da previdência”.

A propósito, em Brasília, o objetivo imediato dos generais do Alto Comando das Forças Armadas (ACFA) é alcançado, com o passo atrás dado pelo presidente do TSE, ministro Edson Fachin. Depois de este ter um enlevo de falsa bravura, ao dizer que as Forças Armadas não deviam se meter nas eleições, causando enorme reboliço nos quartéis já bastante divididos pela pregação bolsonarista, eis que o “valente” ministro do TSE cede aos generais, lançando convite ao Ministério da Defesa para que técnicos do Exército se encontrem com os do TSE; Fachin também aceitou as sugestões das Forças Armadas, mas apenas para depois de 2022.

Para que fique claro: o Ministério da Defesa está sendo o porta-voz do ACFA, com sua posição golpista de direita (o golpe por dentro da institucionalidade e sem ruptura aberta e declarada, divergente de Bolsonaro), e busca pressionar o STF e o TSE a permitir-lhe ampliar seu protagonismo e tutela sobre todas as instituições do velho Estado sob o argumento – verdadeiro, mas parcial – de que isso serve a amenizar a divisão no seio das tropas e o crescimento da extrema-direita, dita por eles como fanáticos, dentre os quais está Bolsonaro. Assim tem trabalhado o ACFA durante todo esse tempo: utiliza-se da extrema-direita como ameaça, prometendo controlá-la se as demais instituições cederem espaço e reconhecerem a proeminência dos generais, golpistas dissimulados, na condução velada do sistema de governo. Mas, também é verdade que, à medida que o ACFA não logra ditar o rumo do país no nível necessário, crescentemente vai perdendo o controle da situação dentro da própria caserna, o que pode obrigá-los a enveredar no plano já desenhado por Bolsonaro e sua matula de provocar uma ruptura no curso das próximas eleições; enveredando nisso para manter a unidade da tropa.

A confluência de fatores – as profundíssimas crises econômica, política, social, institucional e militar – cria tal cenário, muito, muito perigoso para a manutenção da estabilidade da velha ordem de exploração e opressão. Que tremam e se digladiem os reacionários e seus lacaios. Sob o país corre um córrego de diesel e qualquer chispa pode fazer surgir grandes labaredas.

Ouça já o Editorial semanal de 24 de junho de 2022:

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