Após nove dias da notícia do furto das armas do Arsenal de Guerra de São Paulo, em Barueri, 8 das 21 armas desaparecidas do arsenal foram encontradas em um automóvel próximo à favela Gardênia Azul, na Zona Oeste do Rio de Janeiro, durante uma operação policial. As armas desviadas estavam sendo negociadas entre militares do Exército reacionário e grupos paramilitares que exercem controle sob diversas favelas da cidade. A apreensão, reveladora do envolvimento dos militares com os grupos que atuam nas comunidades, ocorreu ao mesmo tempo em que o governo busca enviar as Forças Armadas reacionárias para o Rio de Janeiro a fim de “reforçar” a “segurança pública”.
Segundo as investigações, as armas foram encomendadas dos militares por grupos envolvidos com comércio ilegal de drogas, sinal do contato direto entre os grupos que atuam nas favelas e os militares reacionários. Antes de chegar na Gardênia Azul, o carro passou pelas favelas do Complexo da Penha, Nova Holanda, Rocinha e Gardênia Azul, o que revela que possivelmente as armas foram vendidas em cada uma dessas favelas antes da interceptação..
Nos últimos 11 dias, a Nova Holanda, no Complexo da Maré, está sendo alvo de uma feroz megaoperação policial que visa “apreender fuzis”. A operação já assassinou pelo menos um morador e cometeu diversas violações contra os moradores, como ameaças e invasões de casa. As operações foram intensificadas no Complexo da Maré após a veiculação de vídeos em que mostravam jovens do comércio ilegal em uma sessão de “treinamento” e armas de uso exclusivo do Exército reacionário na comunidade. Na época, não houve nenhuma investigação para apurar como o armamento chegou na comunidade.
Fica ainda mais revelado, agora, que enquanto os moradores sofrem cotidianamente pela violação de direitos pelas tropas da PM, os militares reacionários e demais ricaços envolvidos no comércio ilegal de armas seguem impunes – ou sujeitos a penas leves – em seu negócio lucrativo.
Impunidade e recompensa
Na tentativa de aliviar o crime das próprias tropas, Exército divulgou que as armas “desaparecidas” estavam categorizadas como “inservíveis”, e seriam encaminhadas para manutenção no momento que desapareceram. Entretanto, os policiais que realizaram a apreensão das armas afirmam que elas estavam em plenas condições de uso, o que reforça que as armas foram desviadas pelo próprio Exército para serem negociadas com os grupos paramilitares.
Até agora, a punições aos reacionários limitou-se à exoneração do diretor do arsenal, Rivelino Barata de Sousa Batista. Outros dois militares estão sob suspeita de terem participado do esquema.
Mesmo assim, segundo o colunista d’O Globo, Merval Pereira, o governo federal busca convocar as Forças Armadas reacionárias para operar no Rio de Janeiro. As informações do jornal monopolista revelam que a ideia está sendo costurada pelo ministério da Justiça, de Flávio Dino, e da Defesa, de José Múcio. Dino afirmou ainda que os militares não irão “subir os morros”, indicando que as operações serão restritas às estradas e entradas das favelas. Ora, as operações nas estradas buscam, geralmente, fiscalizar o translado de armas e drogas das fontes para os destinos finais. Como é possível que se ache, seriamente, que os militares, conhecidos por seu histórico de envolvimento no tráfico de drogas e armas, resolverão alguma questão deste tipo? Ao fim e ao cabo, servirão somente para aumentar a militarização da cidade e as violações contra os direitos do povo.
Mais um dos vários casos
Isso porque o recente caso revelado não é o único que aponta ao Exército reacionário como a principal fonte de armas – e até drogas, em outros casos – para os grupos que diz combater, e contra os quais se utiliza do máximo de brutalidade (contra os envolvidos e não envolvidos) quando é acionado para operar contra.
Em 2018, o sargento do Exército Renato Borges Maciel foi preso em flagrante com 60 armas, drogas, carregadores e munições na Via Dutra, no Rio de Janeiro, e com a placa de seu carro adulterada. Uma investigação do Ministério Público, MP, revelou que o mesmo transportava armas para grupos paramilitares da cidade. No ano anterior, o sargento Carlos Alberto de Almeida foi preso ao transportar armas para a favela da Coréia, em Senador Camará, Zona Oeste da cidade. O sujeito era conhecido como “maior armeiro das facções do Rio de Janeiro”.