Indiciado pela PF por corrupção, lavagem de dinheiro e organização criminosa, Juscelino Filho, ministro das Comunicações de Luiz Inácio, clama por presunção de inocência. O processo legal, certamente, deve concedê-la: mas é pedir demais que o simples trabalhador brasileiro a conceda, pois a experiência permanente é de que político da burguesia acusado de corrupção só pode ser bandido mesmo, mesmo se provar o contrário. Ninguém pode culpar as massas por enxergar assim. E mais: os crimes teriam ocorrido com verbas federais destinadas à Codevasf, que tem sido o paraíso do “centrão” bolsonarista, agraciado pelo governo de turno.
Neste sentido, independente dos desdobramentos da acusação, a bomba cai sobre o governo, já fragilizado pelo inalterado estado de encarecimento geral no custo de vida para as massas de trabalhadores e pequenos proprietários e pela atitude covarde ante a greve dos professores e técnico-administrativos da Educação pública superior federal. Não podemos esquecer nunca que o bolsonarismo cresce na medida em que a falsa esquerda se desmoraliza: assim, novamente, o bolsonarismo agradece.
Enquanto os ratos fazem a festa com as verbas federais desde dentro do governo, Luiz Inácio esteve na Conferência da Organização Internacional do Trabalho pregar sobre a importância de dar valor aos trabalhadores – menos aos grevistas da Educação federal, pois estes, presume-se, não merece valor algum para o governo. Ele discursou, acenando à esquerda, e criticou a governança global, a desigualdade entre “países ricos e pobres” e tudo o mais. Foi aplaudido, é claro, inclusive pelos representantes das potências que criticou, como se apreciassem o show de malabarismo. No Brasil, a coisa é diferente.
O governo anda ainda pressionado, por um lado, pela oligarquia financeira internacional, que exige o cumprimento do novo “teto de gastos” (arcabouço fiscal) e, por outro, por setores das classes dominantes que vivem de isenções fiscais ou baixos impostos. O governo tentou aumentar arrecadação taxando alguns setores monopolistas locais, e produziu uma gritaria enorme. Recuou. Como não pode frustrar nenhum dos dois, o governo cai para cima das áreas sociais. Esse é o pano de fundo do desprezo do governo diante da greve da Educação federal. E o regime de austeridade fiscal só está começando: “[A agenda de corte de gastos…] está ganhando tração ao longo do tempo, cada vez maior”, disse Fernando Haddad (ou seria Paulo Guedes?). Até agora, essa tal agenda só tem sido contra as áreas sociais.
Essa elevação da temperatura política, agora, não é casual. A direita tradicional, que em 2022 entrou no barco do PT para se livrar de mais um governo da extrema-direita, o fez por cálculo circunstancial e conveniente: em 2026, pretende se livrar de Luiz Inácio, e com a inelegibilidade de Bolsonaro e a construção de um bolsonarismo “moderado”, cria-se o cenário ideal para afastar o oportunismo petista do governo e, ao mesmo tempo, neutralizar o extremismo de direita canalizando-o para o Tarcísio de Freitas. Com a política social-democrata oportunista, ainda mais sem reformas, tendo sido prometido o inverso, o governo atual apenas pavimenta e prepara a volta do bolsonarismo, ainda que encabeçado por um “moderado”. O movimento popular, reivindicativo, deve erguer alto o protesto popular, e aproveitar o momento de agitação política que se desenha para “puxar a corda” em seu favor, desmascarar a social-democracia oportunista como política burguesa para ludibriar aos trabalhadores e acumular forças para construir a via revolucionária.