Juventude Combatente denuncia crime do Exército no muro do Panteão onde se encontra enterrado o genocida Duque de Caxias durante manifestação da Greve Nacional da Educação no Rio de Janeiro, 15/05/19. Foto: Mídia 1508.
Editorial da edição nº 223 do jornal A Nova Democracia (2ª quinzena de maio e 1ª de junho de 2019), que chegará nas bancas ainda esta semana.
No Editorial da edição 222 do AND, no qual analisamos a ofensiva da reação ao aplicar um golpe militar preventivo ao inevitável aumento do protesto popular, mostramos as divergências entre direita hegemônica no Alto Comando das Forças Armadas (ACFA) e a extrema direita, encabeçada por Bolsonaro. Nele indicamos que a luta no campo da reação se delineava para o antagonismo:
“Na situação presente, a extrema-direita, particularmente na figura de Bolsonaro, detém o cargo de Presidente da República, bases no Senado e Câmara, apoio popular (embora em declínio), bases de ativistas fascistas civis e nas tropas policiais e militares ao longo do país, além de apoio de setores do imperialismo ianque e do sionismo. A direita hegemônica nas Forças Armadas detém o poder militar – tanto por força de ser seu Alto Comando, quanto pelos vínculos com as classes dominantes locais e de subjugação nacional com as principais estruturas do imperialismo ianque –, e tem o apoio de grande parte das forças políticas de direita e centro no país, além do apoio da maioria dos governos no continente”.
No espaço de um mês, o antagonismo ficou mais evidente diante da verdadeira baixaria no debate público com as ofensas disparadas pelo guru bolsonarista Olavo de Carvalho, coadjuvado pelos filhos do presidente, e as respostas dos generais.
É importante notar que o anticomunismo de ambos os lados que operam a ofensiva contrarrevolucionária preventiva não tem a força de consolidar sua união, pois ambos buscam a direção do processo e a consequente submissão do contendente.
Bolsonaro, desde quando era candidato e não acreditava em sua eleição, levantava a bandeira de ser contra tudo que está aí, incluindo o legislativo e o judiciário, e qualificando as eleições como uma fraude. Provavelmente, articulava um golpe de Estado, pois afirmava que não aceitaria outro eleito que não fosse ele mesmo. Para tanto, contava com as redes sociais montadas ao estilo Trump, baseadas em reprodutores de fake news. Contava ainda como seu capital os 30 anos de atividade parlamentar fazendo a defesa do regime militar fascista e seus algozes. Para lograr sua carreira de deputado, arregimentou votos na defesa exclusiva dos interesses corporativos das tropas das forças armadas, da polícia federal e das polícias militares, além de que sempre descaradamente defendeu as criminosas “milícias” do Rio de Janeiro.
Já para o ACFA, a luz vermelha do perigo de rebelião acendeu com as revoltas populares de 2013/14, que repudiaram todos os partidos oficiais e principalmente os da “frente popular eleitoreira” e suas organizações de manipulação e empulhação do povo. Os generais, em conluio com o Departamento de Estado do USA, planificaram o golpe de Estado militar contrarrevolucionário para prevenir-se do levantamento geral das massas populares e o desataram com a Operação “Lava Jato”. Para o imperialismo ianque e seus lacaios não havia mais como sustentar e manter a velha ordem de exploração e opressão sem restringir e centralizar ao máximo o poder político no Executivo, mantendo as demais instituições republicanas em funcionamento assessório e servil.
Em um dado momento da campanha eleitoral, tendo a “Lava-jato” afastado Luiz Inácio da disputa e a candidatura de Alckmin fazendo água, o plano golpista conspirou para suspender as eleições e impor a intervenção militar. O malsucedido atentado a Bolsonaro o fez vítima garantindo a sua eleição apenas navegando nas redes sociais com os seus repassadores de fakes.
Restou ao ACFA empalmar o governo para tutelá-lo, através da imposição dos generais do “grupo do Haiti” nos principais postos de decisão do Palácio do Planalto. Porém, tão logo tomou posse, Bolsonaro e seu guru iniciaram a reação a essa tutela, na disputa pela direção do golpe por impor seu regime militar fascista. Disputa que nestes cinco meses de governo só se agudizou.
Ainda de acordo com nosso Editorial, “a ofensiva contrarrevolucionária preventiva foi desencadeada pela necessidade premente de enfrentar e dar solução às três tarefas reacionárias pela salvação e preservação do sistema de exploração e opressão semicolonial/semifeudal, em crise de decomposição. São as tarefas de: 1) Tirar o país da crise e impulsionar seu capitalismo burocrático; 2) Reestruturar o velho Estado para impor o regime político correspondente e necessário a manter a velha ordem; e 3) Conjurar o perigo de Revolução através da restrição máxima da liberdade de organização e manifestação das massas, do incremento das leis de criminalização do protesto popular, do endurecimento penal e da escalada da ação violenta dos órgãos de repressão do Estado com a intervenção das Forças Armadas, além da descaracterização e demonização das organizações classistas combativas das massas populares. E se a Revolução se desencadeia, tratar de esmagá-la a ferro, sangue e fogo o mais rápido possível”.
A disputa na cabeça da contrarrevolução é por qual regime estabelecer para levar essas três tarefas a termo. A agonia do sistema político do “toma lá, dá cá” ameaça a velha ordem, seu velho Estado e a dominação imperialista, principalmente ianque. O ACFA quer reformá-lo dentro da ordem constitucional, mas Bolsonaro é obstinado em que só com o regime militar pode salvar o sistema de exploração e opressão.
Como se vê, esse antagonismo não poderá se manter por muito tempo, porém não se vislumbra solução pacífica. É bastante improvável que o ACFA recue seus generais palacianos para os quartéis. Por isso passaram a fazer silêncio ante os ataques do guru e filhos de Bolsonaro. Passaram à tática de cozinhar Bolsonaro em banho-maria, a fim de desgastá-lo ao máximo, a ponto de neutralizar a maior parte de suas bases de sustentação nos quartéis.
Por sua vez, Bolsonaro, com suas medidas demagógicas, como acabar com multas e radares de trânsito, liberar a posse de armas, corrigir o imposto de renda e coisas parecidas, tenta manter sua base com apelos populistas.
Nas condições da grave crise do país, em que se delineia iminente crise militar com tal disputa no seio da reação, o mais provável é um desfecho sangrento. Isto porque o ACFA não pode impedir Bolsonaro sem que se levantem fortes reações nos quartéis e tampouco Bolsonaro poderá impor seu regime sem reação militar.
O agravamento desta contradição, ainda que um se imponha rápido sobre o outro, vença quem vencer, só fomentará a crise militar da velha ordem e o impulsionamento da situação revolucionária do país. As massas só têm o caminho da luta para defender seus direitos pisoteados e suas duras conquistas arrancadas, como a “reforma trabalhista”, os cortes na educação, a calamidade da saúde pública e o roubo da “reforma da Previdência”. E esse caminho só pode ser o de elevar sua mobilização em grandes rebeliões. Da greve geral de resistência às batalhas de rua e destas aos levantamentos camponeses. Somente a Revolução de Nova Democracia poderá salvar o país da ruína e dominação imperialista ianque e construir o Brasil Novo, verdadeiramente democrático, popular e independente.