Após reunirem-se para tentar sanar o novo episódio da crise institucional, os “três poderes” dessa republiqueta apenas mudaram a fachada para manter a roubalheira do erário. Na reunião houve “trocas de farpas”, dizem os monopólios de imprensa, mas pelo resultado, prevaleceu o conluio criminoso. E propagandeiam que, agora, acabaram as “emendas Pix”, emendas parlamentares obrigatórias que eram impossíveis de rastrear os beneficiários e quais fim tiveram.
Esse foi o maior roubo da história de dinheiro público promovido pelas ratazanas do Congresso Nacional. Faz parecerem trombadinhas os protagonistas do escândalo dos “anões do orçamento”. O assalto aos cofres à luz do dia com garantia de anonimato, iniciado no governo de Bolsonaro como “Orçamento Secreto” e aprofundado no atual governo do PT e sua frente ampla com a direita liberal, ainda prossegue, mas com uma outra forma: agora, a verba é teoricamente rastreável e deve se vincular com os planos do PAC. O superfaturamento e o esquema de compra de votos com obras matematicamente calculadas para o período eleitoral seguem correndo soltos, é claro. E mais: as verbas individuais e de bancadas, enchendo as burras do “centrão” latifundiário e bolsonarista no Congresso, aumentarão, o que, para todos os efeitos, garantirão – com todo o dinheiro já manipulado até aqui – a construção de um grande curral eleitoral, que dará aos bolsonaristas do “centrão” uma vitória retumbante nas eleições municipais, como atestam até mesmo os analistas da falsa esquerda. Esse foi o acordo, costurado pelo STF, Congresso Nacional e governo federal.
O orçamento da União segue, portanto, sobretudo nas mãos do Congresso, antro onde se refugiam os maiores ladrões da república, cuja metade é parte da chamada Bancada Ruralista e admiradores febris de Bolsonaro – embora divirjam da forma bolsonarista de resolver a crise política agora, a consumação do golpe de Estado. Os amigos de Bolsonaro seguem mandando no dinheiro público e o surrupiando: para que mesmo ocorreram eleições em 2022?
Talvez, para agraciá-los e mostrar toda sua subserviência, Luiz Inácio forneceu o maior Plano Safra da história, para o biênio 2024-2025, que atingirá R$ 400 bilhões. Esse montante, em apoio a uma atividade econômica monopolista, de monocultura e agroexportadora, que não paga de imposto nem um centavo sequer na exportação de grãos, é demonstração de completa sabujice desse governo que se jacta de progressista e escárnio indecente de nosso povo empobrecido. Toda a pasta de Educação, desde ensino superior ao ensino básico, pagamento de pessoal, construções de unidades etc. terá, em 2024, R$ 180 bilhões, sem mencionar os cortes – isso não supera 45% do montante do Plano Safra; o orçamento para toda a Saúde pública, inclusive pagamento de pessoal, contará com R$ 231 bilhões, o que é menos de 58% do valor do Plano Safra. (Um parêntese: para completar, o ministro da Fazenda de Luiz Inácio, Fernando Haddad, em recente entrevista, ainda disse que, é sim, necessário cortar de programas e áreas sociais, “não para tirar de quem precisa”, mas para “corrigir distorções”. Ora, senhores, não há distorção maior do que essa bajulação ao agronegócio, sem par na história recente, que chega a deixar Bolsonaro com ciúmes!).
Por isso, Luiz Inácio não pode se posicionar em defesa das massas pobres no campo, que enfrentam os bandos de paramilitares do latifúndio. Segundo estudos da CPT, em 2023, já sob governo do oportunismo, o Brasil superou a marca histórica de conflitos agrários, que só foram tão volumosos no ano de 1986, ainda na passagem do regime militar à “redemocratização”, superando períodos macabros como o ano de 1995 (Resistência Camponesa de Santa Elina, em Corumbiara-RO) e de 1996 (Resistência Camponesa da Macaxeira, em Eldorado dos Carajás-PA). O que esse governo tem feito em proveito das massas camponesas, mesmo tendo lhes prometido o céu? Agora mesmo, no Maranhão e em Pernambuco, os camponeses estão em luta e enfrentando pistoleiros e forças policiais que, inclusive, têm feito prisões, ameaçado de morte e torturado camponeses, por exemplo, em Itinga do Maranhão. Enquanto os latifundiários e seus capangas com farda ou sem, disparam sobre as massas alardeando sua “invasão zero”, sobre isto, houve sequer alguma nota dos oportunistas e seu governo? E o genocídio contra o povo Guarani-Kaiowá, o que foi feito em proveito deste povo?
Não é por acaso o silêncio, que beira a cumplicidade: é uma posição efetiva, de apoio, à ditadura do agronegócio, nova roupagem do latifúndio, que mantém o povo na servidão e sem terra. É neste terreno que os democratas devem se atentar e agir em solidariedade: é aqui onde as massas têm se organizado, onde os camponeses têm promovido organização de grupos de autodefesa armada, para resistir à guerra civil contrarrevolucionária promovida pelo bolsonarismo latifundista e por convertê-la em guerra camponesa pela Revolução Agrária, que reverberará na cidade com elevação do protesto popular de resistência.