O mundo sequer havia saído da última crise geral de superprodução relativa de mercadorias e valores e os sintomas de uma nova e mais astronômica crise se apresentaram no cenário econômico mundial. O fato irrefutável, e burdamente distorcido pelos monopólios de imprensa, é que no início de 2020 foram as medidas de enfrentamento ao alastramento da pandemia da Covid-19 – medidas impostas pelo imperialismo, como política de Estado a todos os países – que agravaram repentina e formidavelmente a crise como brutal recessão. E a situação é tal que a manipulação de indicativos econômicos por algumas agências imperialistas (FMI, Banco Mundial, OMC, etc,) não podem encobrir os sintomas de um verdadeiro tsunami econômico e financeiro que está por vir. É o que alertou o grande monopólio financeiro alemão Deutsche Bank, que emitiu previsões aterradoras. “Teremos uma grande recessão até o final do próximo ano, com aumento no desemprego de vários pontos percentuais”. Os mais “otimistas” não dão cenários melhores: segundo o monopólio financeiro Goldman Sachs, a economia ianque terá contração violenta de 35% dentro dos próximos dois anos. Os que falam, basta lembrar, são porta-vozes dos mais poderosos trustes imperialistas.
E mais, tal crise combina-se com o agravante político: a explosividade crescente das massas populares que se incrementa desde os últimos anos, bem como as guerras por novas partilhas, tal como a atual invasão à Ucrânia pelo imperialismo russo objetivando restabelecer seu domínio desse país, subtraído desde 2014 pelas maquinações dos imperialistas ianques e potências europeias.
A base dessa grande recessão a que novamente mergulhará o mundo tem relação com o superaquecimento da economia – isto é, uma superprodução relativa de capital por ora latente – que tem refletido em alta da inflação dado o aumento dos salários com o pleno emprego e, causa a parte, a guerra na Ucrânia, que elevou o preço de produção de toda a indústria e agricultura com a alta dos combustíveis e de fertilizantes. Buscando compensar tal efeito, a Reserva Federal norte-americana (FED, banco central ianque) está elevando a taxa de juros.
Segundo o Deutsche Bank, a alta dos juros, para ter efeito no combate à inflação, só neste ano deveria subir 5 ou 6%, o que sabidamente provocará o estalo da nova grande crise econômica e financeira agora latente. No USA, a inflação, que atingiu já 8,5% em março, está no pico mais alto dos últimos 41 anos. O poder de compra das massas trabalhadoras estadunidenses derrete, e cresce a agitação social. A alta do juros, nessa proporção, desembestará uma onda de inadimplências sucessivas, freio brusco da produção global e, também, enormes golpes no consumo das massas, agravamento da miséria e fome nos países oprimidos e também nos países imperialistas, em especial, no USA.
O grau avançado de decomposição do imperialismo em sua crise geral (à qual se somam e são partes as cíclicas crises de superprodução) segue lógica própria e inevitável. Como disse brilhantemente o grande Stalin ao tratar da crise de 1929, é uma crise que não conduz à recuperação plena da economia após a depressão e, portanto, não pode ser superada, que não pela destruição do sistema imperialista: “Estamos na presença de uma transição que vai do ponto mais baixo da decadência da indústria, do ponto da crise industrial mais profunda à depressão; uma depressão que sai do comum, pouco habitual, uma depressão de um tipo especial que não conduz a uma nova recuperação e ao desenvolvimento da indústria [tais como antes da época monopolista]” (Dois mundos, p. 10). Crise geral de decomposição que, ao aprofundar, conduz necessariamente a mais guerras de agressão às nações oprimidas, como parte das disputas interimperialistas por novas partilhas entre a superpotência hegemônica única USA e a superpotência atômica Rússia, em primeiro termo, mas também, ao mesmo tempo, entre cada uma dessas superpotências com as demais potências. O agravamento constante dessas contradições aponta para mais e mais guerras de agressão aos países oprimidos e para uma nova e terceira guerra mundial. Mas, assim como os acontecimentos atuais o demonstram, com a guerra de agressão pelo imperialismo russo à Ucrânia e a feroz resistência das massas do povo ucraniano aos invasores, a elevação das tensões bélicas mundiais e a tendência a ondas de rebeliões populares e de guerras revolucionárias são inevitáveis, tanto mais em períodos como estes, assim ensinam os fatos históricos dos últimos 150 anos.
No Brasil, como principal gleba do quintal do imperialismo ianque, tal crise, por ora latente, necessariamente já dá seus sinais como aprofundamento da crise geral do próprio capitalismo burocrático secularmente imposto ao país como condição semicolonial. A inflação, que já atinge nível dramático, piora sua tendência de crescimento a carreiras desenfreadas, com a prévia oficial medida pelo IBGE apontando crescimento de 1,73% acima da taxa de março (0,95%) para o IPCA-15 (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo 15). É a maior alta para o mês desde 1995. No ano, IPCA-15 acumula já alta de 4,31%; nos últimos 12 meses, a alta da inflação supera 12%.
A marcha da crise de decomposição do capitalismo burocrático no país aprofundará, agravada pelo reflexo direto da crise mundial por sua condição semicolonial, e arrastará junto de si a crise geral de decomposição do velho Estado latifundiário-burguês, cada vez mais empurrando para o centro da mesma aquele instrumento que sustenta toda a ordem de exploração e opressão: as Forças Armadas reacionárias, seu Alto Comando. Isso agravará e potencializará a ofensiva contrarrevolucionária preventiva em curso, que recorrerá ao terror para tentar aplastar as inevitáveis rebeliões populares. Porém, com as massas se vinculando, cada vez mais profunda e rapidamente, com o movimento revolucionário, irão crescentemente varrendo com as ilusões e falsas promessas da farsa eleitoral; nos embates violentos e diretos com seus opressores e exploradores, as massas populares ir-se-ão livrando, parte por parte, das misérias materiais e dos entorpecimentos espirituais de que padecem. Tudo aponta triunfalmente para grandes perspectivas de superação desta crise, pela via da Revolução Democrática, Agrária e Anti-imperialista, desde que o proletariado revolucionário saiba atuar em meio da tempestade, suportar as turbulências e manter o rumo.
Essa é a nova crise mundial e seus reflexos no país, seus tormentosos desdobramentos, prenúncios e partes integrantes duma nova época de tensões, erupções sociais, guerras de todo tipo e de revoluções vitoriosas em que está entrando a História Universal.
Ouça já o Editorial semanal de 03 de maio de 2022: