Editorial semanal – A matemática da capitulação frente aos milicos reaças

Muito barulho foi feito quando Luiz Inácio demitiu, no dia 21, cerca de 80 militares que serviam no Planalto e o então comandante do Exército, Júlio César de Arruda, substituindo-o por Tomás Miguel Ribeiro Paiva.
Batalhão do Choque em frente ao palácio do planalto. Foto: Amanda Perobelli/Reuters

Editorial semanal – A matemática da capitulação frente aos milicos reaças

Muito barulho foi feito quando Luiz Inácio demitiu, no dia 21, cerca de 80 militares que serviam no Planalto e o então comandante do Exército, Júlio César de Arruda, substituindo-o por Tomás Miguel Ribeiro Paiva.

Muito barulho foi feito quando Luiz Inácio demitiu, no dia 21, cerca de 80 militares que serviam no Planalto e o então comandante do Exército, Júlio César de Arruda, substituindo-o por Tomás Miguel Ribeiro Paiva. Alguns, vertiginados pela crença cega na “estabilidade” da democracia burguesa e suas instituições carcomidas do País e de que o imperialismo ianque “não vai permitir um golpe”, chegaram a proclamar que inaugurava-se, ali, o efetivo “governo Lula”, sem tutela das Forças Armadas. Luiz Inácio proclamou que desconfiava das Forças Armadas, que queria um Gabinete de Segurança Institucional (GSI) sem aparelhamento de militares e fez joguinhos para a plateia de que não aceitaria ajudantes de ordens militares (para logo depois, tê-los), numa encenação de que não se submeteria ao “poder militar”, para tentar restringir a margem de manobra dos generais através de isolamento na opinião pública.

No dia 31, “surpreendendo” a um total de zero pessoas politicamente mais conscientes, Luiz Inácio nomeou 122 militares para o GSI. A matemática é clara: ao contrário de restringir a presença de milicos e, logo, sua influência no governo, o presidente da república as ampliou! Ato contínuo, a imprensa noticia que o petista deu aval para o Exército impedir a PM de Distrito Federal de atuar, na noite de 8 de janeiro, contra o acampamento, no Quartel General do Exército. O episódio, que envolveu manobras com tanques por parte da força armada para dissuadir a PM, foi aprovado por Luiz Inácio, diante das pressões dos generais. Como se sabe, essa manobra foi feita para que oficiais da ativa, da reserva e seus familiares pudessem sair do acampamento e não serem detidos.

Ora, o que isso revela? Que a encenação de um Luiz Inácio fortalecido, que faz e acontece com os militares, durou menos que uma bolha de sabão, uma vez que a pretensa força atribuída ao governo é uma quimera, ilusão. Os oportunistas e liberais não enxergam que a defesa dessa democracia burguesa corrupta e permissiva com todo tipo de violência contra o povo não o comove, ao contrário, provoca nele repulsa e, antes de tudo, desconfiança e raiva. Fingem não saber, mas sabem muito bem que em política a efetiva força são as massas, e não as notas de entidades e gabinetes, inócuas quando não têm respaldo material. Mas querem crer nisto e tentar enganar as massas a também acreditarem nesta fantasia.

Na medida que o governo tenta restringir o movimento golpista com acordos de gabinete e pronunciamentos grandiloquentes sobre a “democracia” – essa, desconhecida pelas grandes massas em sua vida diária –, só faz tornar-se inepto, enquanto a força real encontra-se crescentemente com os generais (hoje, as tropas e, agora, estão jogando para ganhar as massas, principalmente a pequena e média burguesias e contando com os evangélicos bolsonaristas no meio dos pobres). O governo tende à capitulação; afinal, como poderia ser doutro modo, se desde as eleições de 2018 fizeram silêncio em relação aos constantes pronunciamentos golpistas dos militares? Nem uma crítica sequer, só apaziguamento! Afinal, o que poderá fazer o governo da coalizão reacionária, onde exercem o poder os grandes burgueses e latifundiários serviçais do imperialismo? Se tivesse um mínimo de decência teria conclamado de imediato as massas às ruas em defesa das liberdades democráticas ameaçadas!

Enquanto isso, indígenas são mortos, como no caso horrendo e criminoso contra os yanomanis, e os camponeses são sistematicamente chacinados em sua justa luta pela terra. Na manhã do dia 28 de janeiro, policiais do Bope, da PM de Rondônia, atiraram em camponeses que subiam em um bote para atravessar um rio; os militares prenderam dois jovens, os arrastaram para lugar ermo, os torturaram, inclusive arrancando a língua de um deles, para logo executá-los a sangue frio. Os monopólios de imprensa, os ilustres políticos e instituições da Justiça, heróis da defesa desta democracia, fazem silêncio completo. Isto nada tem a ver com sua democracia, não é?

É preciso dizer ainda que a troca de generais no comando do Exército, feita por Luiz Inácio, não modifica absolutamente nada da natureza da força e, inclusive, não altera as suas pretensões golpistas, que são unanimidade entre o alto oficialato, cuja única divergência importante é quando, em qual momento e situação culminar o golpe militar de Estado. Basta ver que o agora louvado como “comandante legalista”, Tomás Miguel Ribeiro Paiva, foi o mesmo considerado como protagonista na redação do tuíte intimidatório de Villas-Bôas, contra o HC de Luiz Inácio, em 2018 – tuíte que, confessamente, foi escrito pelo ACFA para intervir na vida política nacional. Esse é o “general legalista”, o suprassumo da garantia da democracia no Brasil para o monopólio de imprensa e o oportunismo. Que maus lençóis lhes cobrem!

O ACFA está calculando e reformulando seus planos de intervenção militar todos os dias, procurando o timing para intervir, fomentando pequenas desestabilizações usando como bucha de canhão os “galinhas verdes” e, logo, firmando novos acordos com o governo em que sai fortalecido no papel de Poder Moderador; enquanto isso, vai buscando ganhar apoio do seu amo do Norte e respaldo na opinião pública para tentar esmagar o levantamento do povo no instante em que este se alce com sua justa ira.

Para deter o golpe em marcha, é impossível contar com a aristocracia oportunista, embriagada por décadas de convescotes em palacetes do velho Estado e de expectativas de reinarem por outras tantas. O mínimo consequente a fazer é apoiar-se nas massas, mobilizando-as por seus direitos mínimos pisoteados diuturnamente, através de greves, tomadas de terras, ocupação das universidades e escolas, numa torrente de protestos e lutas revolucionárias; sem uma gota de ilusão com a democracia dos ricaços.

Ao longo das últimas duas décadas, o jornal A Nova Democracia tem se sustentado nos leitores operários, camponeses, estudantes e na intelectualidade progressista. Assim tem mantido inalterada sua linha editorial radicalmente antagônica à imprensa reacionária e vendida aos interesses das classes dominantes e do imperialismo.
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