Editorial semanal – A morte anunciada desta farsa eleitoral

Editorial semanal – A morte anunciada desta farsa eleitoral

A crise de decomposição do velho Estado dá fortes sinais de que se aprofundará por saltos como tendência irreversível a curto prazo. De tal sorte que a farsa eleitoral, como instrumento de “renovar” a legitimidade do sistema de Poder e seu sistema político, como também de amenizar a crise e resolver as contradições no seio das classes dominantes, não cumprirá, nesse ano, nenhuma de suas duas funções.

Para os de baixo, a farsa eleitoral tem a função de ludibriar a consciência das massas, aparentar a elas que ao fim e ao cabo são justas todas as medidas de ataques aos seus direitos uma vez que tais medidas foram sufragadas pela maioria; seriam, portanto, legítimas. Todavia, o grau de repulsa das massas populares para com o processo eleitoral – e, através dele, para com toda a velha democracia – é elevadíssimo. A violenta falsa polarização entre falsa esquerda versus “fascismo”, junto às propagandas pela participação eleitoral envolvendo até mesmo celebridades de Hollywood destinadas aos jovens e outras mais às mulheres, embora tenham arrastado cerca de dois milhões a tirar o título de eleitor, não têm surtido o efeito necessário para legitimar o círculo de ferro da ditadura disfarçada de democracia imperante em nossa pátria.

E isso se deve a que a velha democracia em nosso país deixou de ser o que outrora foi: uma máscara eficaz para encobrir a verdadeira ditadura de grandes burgueses e latifundiários serviçais do imperialismo, principalmente ianque, que opera desimpedida no país. Deixou de ser porque se esgotou, ao longo de três decênios e meio, ao revelar perante todos que os supostos direitos que vieram junto à constituição de 1988 não só eram fictícios e retóricos, como também irrealizáveis nos marcos do sistema de exploração e opressão. A contradição entre o enunciado democrático e a realidade de padecimentos e sofrimentos mil fizeram despedaçar a máscara. Hoje, a farsa eleitoral como essência da velha democracia não pode cumprir seus desígnios para renovar a legitimidade da velha ordem. Ela não contempla, não conquista mais as massas populares, ainda que sob terríveis ameaças de que sem ela as coisas seriam piores.

Porém, para a reação, a situação é ainda pior. A farsa eleitoral, uma vez que não tem poder de chancelar com contundência um resultado já que não conta nem com o entusiasmo do eleitorado e nem mesmo com participação de uma grande parcela dele, não pode, nessa sua edição, debelar as contradições no seio das classes dominantes. Ainda mais quando o Presidente da República e candidato à reeleição declara em alto e bom som que “só Deus o tira da Presidência” e que está disposto a “ir à guerra”.

Mesmo no STF, encastelados que se acham seus ministros como fariseus da constituição e blá blá blá, já se veiculam opiniões temerosas. Um deles, cuja figura não vale a pena mencionar, afirmou que “nesse ano ninguém morrerá de tédio” e que “a constituição por si só não garante que não haverá turbulências”; outros já disseram que “as Forças Armadas reacionárias estão sendo orientadas a atacar a democracia”.

É claro que este ano será definidor dos destinos do país para os próximos, mas muito menos pelo resultado da farsa eleitoral. Apenas os tolos e os patetas acreditam que os rumos do país para os próximos anos serão definidos pelo resultado das eleições; apenas eles podem afirmar sem sombra de dúvidas que as Forças Armadas reacionárias respeitarão o resultado das urnas. As eleições reacionárias são apenas as circunstâncias, mas a disputa definidora mesma se realiza às margens delas, ainda que influenciada por elas.

Tudo depende se Bolsonaro conseguirá precipitar uma ruptura, isto é, se ele conseguirá arrastar o Alto Comando das Forças Armadas para isso; depende se o Alto Comando das Forças Armadas conseguirá manter o controle das tropas – já bastante propensas à ruptura, com ou sem Bolsonaro – para seguir seu plano de golpe de Estado contrarrevolucionário acionado e conduzido por dentro da institucionalidade, e não em total e declarado choque com ela; de como marchará a economia e a situação internacional, mais como possibilidades de agravar a crise do que atenuá-la. Mas, principalmente, os rumos do país para os próximos anos serão definidos pelas massas politicamente mais ativas: qual postura tomarão diante da farsa eleitoral, se se deixarão ludibriar ou se rechaçarão esse engodo e qual a qualidade desse rechaço; se elas intervirão com independência na situação política, com qual grau de mobilização, nível de organização e com quais formas de luta farão seus embates na situação atual; com qual programa e se contarão ou não com uma vanguarda capacitada para imprimir direção revolucionária aos acontecimentos vindouros.

Para o proletariado revolucionário e demais massas populares politicamente mais ativas, está, portanto, posto o problema. Uma grande e vigorosa campanha nacional de boicote eleitoral, a começar desde agora, sem perder tempo; mobilizar, politizar e organizar as massas populares, primeiro, nas áreas e zonas onde estão mais propensas, e logo ampliar a agitação para desmascarar completamente o caráter e natureza de classe desse velho Estado latifundiário-burocrático corroído desde as entranhas pela corrupção e violência genocida contra o povo e de todos os seus representantes, assim como a necessidade de um tipo específico de Revolução; a necessidade de intervir, agora, contundentemente em defesa dos seus interesses imediatos e ligá-los à necessidade de uma luta cruenta, única que garantirá permanentemente não somente seus interesses imediatos atuais, senão que os ampliará, e garantirá mesmo seus interesses histórico-universais, uma democracia nova, uma vida nova. Essa é a única forma de dar um enfrentamento implacável ao golpismo, que, permanentemente conspira e arregimenta forças para, de uma forma ou de outra, se impor sobre a velha democracia moribunda, seja cedo ou um pouco mais tarde. A questão é: quanto maior for a firmeza da resistência dos movimentos revolucionários das massas populares, mais frágil será a reação e poderá ser derrotada, arrancando vitórias para a Revolução Democrática, Agrária e Anti-imperialista.

Ouça já o Editorial semanal de 06 de junho de 2022:

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