Editorial semanal – Cédula do apaziguamento e covardia do oportunismo eleitoreiro

Editorial semanal – Cédula do apaziguamento e covardia do oportunismo eleitoreiro

O ministro da Defesa Paulo Sérgio Nogueira propôs, em 15/07, diante do Congresso, votações paralelas: dentro de uma determinada proporção, junto às urnas eletrônicas, instalar urnas para voto impresso. O objetivo proclamado pelo general da reserva é dar mais credibilidade à farsa eleitoral. Risível, a proposta provocou cólera até mesmo nos editoriais dos monopólios de imprensa. Não houve quem a apoiasse nos círculos mais poderosos da reação, a não ser de parte dos bolsonaristas.

Primeiro, as urnas eletrônicas são tão manipuláveis quanto as cédulas de papel, desde que alguém com poder para tanto queira manipulá-las. Qualquer tecnologia que se queira infalível está fadada ao fracasso. São sempre homens e mulheres que manejam as tecnologias – sejam eletrônicas, sejam mais rudimentares. Não há tecnologia ou meio de se fazer limpa a farsa eleitoral.

Segundo, as eleições são sempre uma farsa, não pela forma como se realizam, mas porque são simetricamente concebidas e executadas dentro do sistema de exploração e opressão, e contam com a artilharia e bombardeio ideológicos mais intensos dos meios de propagação de mentiras e meias verdades para as amplas massas. Um projeto que interessa às mais legítimas aspirações do povo só pode ganhar espaço entre as massas e executar-se à medida que, parte por parte, gradualmente e aos saltos, elas o assumam e o imponham através da força organizada.

A falsa esquerda oportunista eleitoreira, intimidada, arvora a defesa da urna eletrônica e da farsa eleitoral como se fossem a defesa do próprio interesse das massas populares. Com isso arrastam os setores menos vigilantes de intelectuais, democratas e elementos progressistas, infundindo o conto de que tirar Bolsonaro da Presidência do país pelas eleições é a salvação da Pátria. É preciso, nestes momentos, dizer e reafirmar o óbvio: neste sistema político agonizante as eleições são uma farsa.

No mais, as iniciativas de gorilas de pijama, ambíguas sempre diante da agitação bolsonarista, é uma mostra bastante eloquente dos apuros pelo que passam. Não querem – porque desastroso seria – se chocar com a ordem institucional agora; no entanto, não podem deixar com Bolsonaro o monopólio da insatisfação com o atual regime político, sob o risco severo de perder o controle da situação diante das tropas das três forças, além das auxiliares (policiais militares). Dessa contradição nascem declarações toscas como essa. Os generais, que querem estabelecer seu “projeto de nação” por uma via o máximo possível “lenta, gradual e segura”, sem outra saída, vão cada vez mais sendo arrastados para o centro da crise institucional. A crise militar passa cada vez mais ao centro da crise de decomposição do velho Estado.

Mas, que razão têm os generais de se indignar com a imoralidade geral que reina sobre a Nação, se parte dela são? Não são eles mesmos os mantenedores e aperfeiçoadores dessa imoralidade? Pois são eles que a ferro, fogo e sangue esmagaram, desde o século XIX, todas as iniciativas democrático-revolucionárias do povo para alcançar a verdadeira república democrática. Não foi por acaso o seu patrono e idolatrado Duque de Caxias o principal carrasco em muitas delas? São, sim, os mesmos que, secularmente, se lambuzam de todos os privilégios de casta que parasitam a Nação, enfermidade que só existe em países carentes de uma Revolução Democrática triunfante.

O antídoto para as ameaças golpistas em curso e em prol do estabelecimento de regimes de concentração máxima do Poder no Executivo – seja a da “ruptura bolsonarista”, seja a do “Projeto de Nação” perseguida pelo Alto Comando das Forças Armadas – não é e nunca poderia ser essa corrupta farsa eleitoral realizada com o máximo respeito aos sepulcros caiados reverenciados como sacrossantas instituições. Só é possível derrotar a ofensiva contrarrevolucionária preventiva, em curso há sete anos, através de levantar as massas numa crescente e poderosa torrente do protesto popular, em defesa dos direitos imediatos pisoteados dos mais de 100 milhões de brasileiros e brasileiras afundados na miséria, na fome e no abandono de dezenas de milhões destes; assim, desmascarando toda a reação, desvelando a natureza dos agitadores do golpe e seus matizes, dos seus apaziguadores liberais e dos oportunistas, que diante deles se acovardam. Nisso cumpre grande papel realizar um vigoroso boicote ativo à farsa eleitoral, por meio de ações revolucionárias pelas massas mais avançadas. Hoje, se não se pretende isso, só se pretende iludir o povo e a Nação.

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