Editorial semanal – Dois programas reacionários em contenda

Editorial semanal – Dois programas reacionários em contenda

O governo tem feito críticas ao Banco Central pelo estabelecimento de uma taxa de juros de 13,75%, com uma meta de inflação de 3,25%. O Banco Central, por sua vez, tem argumentado que a alta taxa de juros se deve à alta da inflação e às incertezas do “mercado” – este ente, onipresente e onipotente, que governa de fato a economia do País, fazendo as personagens da política como meros fantoches.

Primeiro, é um triste signo de humilhação nacional que o Banco Central do País seja “independente”. A suposta “independência” é, em realidade, subserviência explícita ao capital financeiro internacional, principalmente o ianque, que detém hegemonia e que, por pressão, exerce sua vontade. As supostas políticas econômicas “técnicas” que o BC impõe ao País são os ditames do capital financeiro, que conduzem à sangria sem precedentes das riquezas nacionais e destruição da produção nacional. Por que razão o governo, dito comprometido com esses temas caros à Nação, não se lhe modifica isso?

O “mercado”, a oligarquia financeira, tem um programa para a política econômica do País: cortar tudo quanto seja gasto público para garantir o pagamento sem limites da dívida pública, que hoje já abocanha ao menos 50% do Orçamento da União. A ordem é para que faça, ainda que seja necessário sucatear a Educação pública, desmontar o SUS, liquidar com a pesquisa científica nacional e destruir a Previdência e os direitos laborais – como já tem sido feito, pelas ordens do imperialismo, principalmente no que se refere aos dois últimos. Os juros altos são uma exigência do imperialismo, enquanto o governo não aplicar as “políticas de austeridade”, mais alinhada à fração compradora da grande burguesia local.

Frente a isso, o governo, sem coesão interna, eleito por apenas um terço do eleitorado e fustigado dia sim, outro também pelos generais golpistas e tutores da Nação, vê em sério risco sua frágil situação em caso de manter os juros altos. Luiz Inácio precisa entregar resultados prometidos na campanha eleitoral, o que demanda baixar os juros para aplicar seu “desenvolvimentismo”, mais alinhado à fração burocrática da grande burguesia.

Essa é a contradição em jogo, uma disputa no seio das classes dominantes locais sobre qual programa aplicar para tentar impulsionar o capitalismo burocrático, para o que necessita sacar a economia da grave crise a que se arrasta desde 2015, balançando-se sobre o terremoto que seu estado de decomposição provoca. Contradição que já cria atritos dentro do próprio governo, que conta praticamente com duas equipes econômicas, paralelas e em choque: uma encabeçada por Mercadante, presidente do BNDES e alinhado à fração burocrática; e outra por Fernando Haddad e Simone Tebet, mais alinhados à fração compradora, que buscam conter os ímpetos de Lula.

Mas a verdade é que Luiz Inácio, em seus apelos por baixar a taxa de juros porque isso compromete a crescimento econômico, não propugna nenhum programa progressista consequente. Sua proposta é a surrada receita do “desenvolvimentismo” (embrulhado com palavreado “popular”), com financiamento aos monopólios da grande burguesia para obras com dinheiro público e ao agronegócio para gerar receita, visando alavancar o capitalismo burocrático e reativar a economia com base em nível superior de exploração e opressão dos trabalhadores, e seguir pagando a dívida, favorecendo o açambarcamento da economia pelo capital imperialista e, o mais importante, tendo como centro o latifúndio. Isso nada tem de progressista – tanto que seu principal expoente, na história recente do Brasil, foi o general ultrarreacionário Ernesto Geisel durante o regime militar fascista.

Em entrevista recente à CNN norte-americana, durante visita a Biden em palácio, Luiz Inácio disse: “Como pode o Brasil, maior produtor de proteína animal do mundo, as pessoas passarem fome? Como se explica isso?”. E aqui entramos no cerne da questão, no âmago das desgraças nacionais, que Luiz Inácio finge não conhecer. As toneladas de proteína animal produzidas pelo Brasil são obras do latifúndio, que as exporta às custas de monopolizar as terras agricultáveis e se apoderarem da imensa parte dos créditos para agricultura, desfrutam de isenções fiscais e incentivos os mais benevolentes; já aos camponeses pequenos e médios, que realmente produzem a cesta básica – principal alavancador da inflação e da carestia –, ficam as piores terras e em quantidade insuficiente, as piores condições de crédito e a ausência de incentivos. Essa política gera a inflação da cesta básica, que todos os governos contemporâneos do País têm incentivado, inclusive o atual, quem chamou o agronegócio de aliado estratégico e prometeu-lhe investimento pesado. Se se quer resolver o problema da inflação, por que não se modifica isso?

As causas das mazelas nacionais são estruturais. Apenas uma transformação profunda da estrutura fundiária, o caminho da revolução agrária pela aliança operário-camponesa pode arrancá-las.

Ao longo das últimas duas décadas, o jornal A Nova Democracia tem se sustentado nos leitores operários, camponeses, estudantes e na intelectualidade progressista. Assim tem mantido inalterada sua linha editorial radicalmente antagônica à imprensa reacionária e vendida aos interesses das classes dominantes e do imperialismo.
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