Editorial semanal – Governo e Estado querem que Bolsonaro sangre

Após homologar sua delação premiada no dia 9 de setembro, o tenente-coronel do Exército reacionário, Mauro Cid, coloca Bolsonaro em situação ainda mais enrascada para se livrar de provas de seus crimes.

Editorial semanal – Governo e Estado querem que Bolsonaro sangre

Após homologar sua delação premiada no dia 9 de setembro, o tenente-coronel do Exército reacionário, Mauro Cid, coloca Bolsonaro em situação ainda mais enrascada para se livrar de provas de seus crimes.

Após homologar sua delação premiada no dia 9 de setembro, o tenente-coronel do Exército reacionário, Mauro Cid, coloca Bolsonaro em situação ainda mais enrascada para se livrar de provas de seus crimes. “Cid vai contar todos os fatos sobre Bolsonaro que lhe perguntarem”, disse seu advogado, Cezar Bittencourt – o mesmo que, em 2017, afirmou que as delações beneficiam “dedos-duros” e “delatores que traem seu companheiro em troca de redução de pena”. Ironia do destino, suas palavras de 2017 são ainda mais atuais para seu atual cliente. Para agravar a situação, no dia 12, o ex-candidato a vice general Braga Netto teve seu sigilo telefônico quebrado por investigação de corrupção na intervenção militar no Rio de Janeiro de 2018.

A família do capitão-do-mato, Bolsonaro, está em polvorosa. Segundo interlocutores ao monopólio de imprensa, ninguém do convívio de Bolsonaro sabe ao certo o que Cid dirá, e todo o seu entorno político está desesperado, com receio de serem lançados ao leão. Em culto religioso, a sua esposa – milagrosamente transformada em dirigente do PL – chorou, evocou o nome de deus em desespero, e aos berros disse que sua família estava sendo traída. Essa é a síntese da situação do horroroso clã Bolsonaro.

A tendência, todavia, segue sendo a de que não seja preso agora. A sangria de Bolsonaro, lenta e constante, interessa mais às forças em disputa do que sua prisão neste momento. Ao oportunismo, é útil ter um saco de pancada a bater sempre que surgirem críticas de seu próprio campo a seu governo; ao Alto Comando das Forças Armadas (ACFA), uma vez que a situação é esta, também interessa murchar a liderança bolsonarista nos quartéis e entre as vivandeiras de quartel para tentar reconquistá-las, desta vez sob seu mando absoluto; e à direita tradicional, quanto mais sangrar Bolsonaro, mais se abre a possibilidade de viabilizar a tal “terceira via” e poder descartar Luiz Inácio.

No centro da crise militar, o ACFA, busca dissociar-se o quanto mais rápido de Bolsonaro. Todavia, este e o ACFA são indissociáveis. Bolsonaro – e o bolsonarismo – é a elevação ao extremismo da premissa e da doutrina do ACFA; suas agitações e preparativos de ruptura institucional são elevação ao extremismo do plano de intervenção militar, que o próprio ACFA planificou a partir das revoltas populares de 2013, e pôs em marcha, a partir de 2015, com sua ofensiva contrarrevolucionária preventiva. Embora pretendam se aproveitar da sangria de Bolsonaro para se afirmar, a verdade é que o ACFA se coloca em situação muito delicada com sua coesão abalada, como ficam expostas nas contradições entre generais reservistas e da ativa; coesão abalada entre ACFA e o grosso das tropas (praças e baixa e média oficialidade, majoritariamente bolsonaristas); sem coesão com a base de civis bolsonaristas decepcionada com os “generais melancias”; e com a queimação das Forças na opinião pública. Não há muitas margens políticas para os generais golpistas manobrarem.

Essa é a situação atual da crise política e militar de pugna no seio das classes dominantes locais e no governo de turno da coalizão reacionária. As massas populares devem aproveitar a divisão entre seus exploradores e opressores para mobilizar forças em defesa de seus direitos e por verdadeira e nova democracia.

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Enquanto isso, no Chile, as ruas estão em ebulição pela passagem dos 50 anos do golpe militar de Augusto Pinochet, seguido por um regime dos mais sanguinários que se instauraram no subcontinente naqueles idos e que durou 17 anos. Gabriel Boric, presidente do país, se elegeu no influxo das extraordinárias Jornadas de 2019, manipulando-as para a via eleitoreira e de “nova constituição”. Passado um ano no governo, o cabeça da falsa esquerda oportunista do país tem que amargar uma contundente derrota: a nova constituinte dará, como resultado, uma constituição formulada sobretudo por uma coalizão da extrema-direita e a direita civil; uma constituição que manterá o essencial da “constituição pinochetista”, contra a qual tanto lutam as massas populares chilenas. É o desígnio histórico do oportunismo: vender a luta popular por um miserável prato de lentilhas.

Ao longo das últimas duas décadas, o jornal A Nova Democracia tem se sustentado nos leitores operários, camponeses, estudantes e na intelectualidade progressista. Assim tem mantido inalterada sua linha editorial radicalmente antagônica à imprensa reacionária e vendida aos interesses das classes dominantes e do imperialismo.
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