Editorial semanal – Lançar massas contra massas

Editorial semanal – Lançar massas contra massas

O assassinato do camponês Benedito Cardoso dos Santos (42 anos), na madrugada do dia 08/09, por um colega de trabalho bolsonarista após uma discussão sobre as eleições, é mais um trágico episódio de violência política reacionária. O crime ocorreu horas após o ato eleitoral de 7 de setembro. Durante a discussão, ambos os camponeses trocaram socos e, na sequência, Rafael Silva de Oliveira (24 anos) apunhalou 15 vezes o colega, e tentou decapitá-lo em seguida usando um machado.

É o segundo crime de sangue por motivações políticas eleitorais que ganha repercussão. Por detrás desses, que vêm a público, escondem-se muitas outras cenas de violência entre as massas em virtude da disputa eleitoral, cujos desfechos não são tão sérios a ponto de ganharem destaques nos plantões policiais e noticiários.

O agravamento da violência política no curso dessas eleições – que só fará crescer, e tanto mais crescerá ao término da mesma – tem duas razões fundamentais. A primeira, é a pregação diuturna de Bolsonaro por consumar o golpe militar; a segunda, é a morte da velha democracia insepulta.

Aproveitando-se da falência histórica e política desse “Estado democrático de direito” aqui vigente, e sabendo que o melhor cenário para ele triunfar em seu plano é o caos, Bolsonaro desacredita tudo e a todos. E ganha adeptos nas massas, porque os últimos 30 anos da “nova república” têm sido, mesmo, tempos de enganos e desilusões. Se as enganaram por tanto tempo e de tantas formas, a uma parcela das massas (30% do eleitorado, precisamente) não parece absurdo que o fanfarrão tenha razão sobre as pesquisas eleitorais, sobre o TSE, STF etc., ainda que saibam – crescentemente – que ele é um mafioso, corrupto e sanguinário, mais preocupado com a preservação e enriquecimento do seu clã do que com as “nobres causas” patrióticas. Bolsonaro, claro, tenta tirar proveito não apenas eleitoral. Em função de aprofundar a instabilidade institucional, porém sem poder dizer abertamente, ele prega por meias palavras a incitação à violência política, e torce para que esse setor das massas que lhe ouve entenda seu recado. Bolsonaro se defronta com muita dificuldade em subverter a hierarquia e sublevar os quartéis, já que diante da forte pressão do núcleo do establishment as tropas tendem a se enquadrar na posição hegemônica do Alto Comando. Busca então insuflar as massas que lhe seguem a atos violentos no meio do povo para intimidar os contrários e provocar distúrbios de massas contra massas, sabendo que a desordem torna o Alto Comando mais suscetível à ideia de intervenção militar completa. Como tanto Bolsonaro, quanto Luiz Inácio, e outros, têm seguidores entre as massas do povo, é fato que tais casos crescerão.

O oportunismo, diante disso, dá uma “aula” de covardia. Fazendo-se de vítima, busca arregimentar votos sobre os cadáveres. A candidatura de Luiz Inácio sabe bem que essas eleições são um jogo perigoso; para ganhar a qualquer custo e manter a estabilidade dessa velha ordem, se submete à tutela dos generais e ao avanço de maior intervenção militar (a quem, a propósito, está destinada a tarefa de fazer uma contagem paralela de votos); submete-se ao programa de governo da Fiesp e da Febraban, tutores desse “Estado Democrático de Direito”. Uma vez vencido o pleito, será um governo de crises.

Aos democratas sinceros e revolucionários, defensores intransigentes das liberdades democráticas aspiradas pelo povo e de suma importância para preparar as grandes lutas pela transformação total do país, cabe demonstrar que essa velha democracia vigente lhe as negam, não pôde e nem pode assegurá-las; que ao contrário, esse simulacro de democracia só pode ser – como tem sido – o veículo por meio do qual todos os direitos democráticos e o próprio marco constitucional estão sendo retalhados, restringidos e gradualmente eliminados, tanto mais rápido quanto mais se agravam a crise geral do imperialismo e do capitalismo burocrático do país, e de seu velho Estado e sistema político agônico. A atual edição da farsa eleitoral só pode cumprir essa função: legitimar a maior intervenção militar. Só quem pode parar essa marcha de obscurantismo e reação é a luta por impor a Revolução Democrática, Agrária e Anti-imperialista.

Ao longo das últimas duas décadas, o jornal A Nova Democracia tem se sustentado nos leitores operários, camponeses, estudantes e na intelectualidade progressista. Assim tem mantido inalterada sua linha editorial radicalmente antagônica à imprensa reacionária e vendida aos interesses das classes dominantes e do imperialismo.
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