Na abertura dos trabalhos na Câmara dos Deputados, no dia 5 de fevereiro, o chefe do Legislativo, Arthur Lira, foi duro com Luiz Inácio: “O orçamento não é e nem pode ser de autoria exclusiva do Executivo e muito menos de uma burocracia técnica”, decretou o presidente de fato do País. Ato com que ratificou o que todos sabemos: temos um governo de direita e, mesmo assim, um presidente acuado. É Lira que manda no País, a despeito do falastrão que ocupa o Palácio do Planalto.
Luiz Inácio se encontra em situação difícil: elegeu-se sob a promessa de garantir “picanha e cerveja” para o povo – numa alusão de ascensão dos pobres à “classe média” –, pela minoria do eleitorado em condições de voto num pleito disputadíssimo, no qual um terço da população boicotou as eleições em desprezo à falsa polarização e pouco menos de um terço votou no oponente Bolsonaro. Passados 13 meses, a economia segue estagnada, numa situação mundial adversa e cada vez mais se escancara que o presidente de fato não é ele.
O que tem restado ao Luiz Inácio é contribuir para que Bolsonaro não perca relevância política (e conta, em seu apoio, com as operações da Polícia Federal sempre magnificamente cobertas pelo monopólio de imprensa, que desta vez “descobriram” o que o próprio Bolsonaro já havia afirmado publicamente: que ele conta com um aparato de inteligência particular e conspirou por desfechar o golpe militar). Aparentemente paradoxal, essa é a condição para Luiz Inácio manter coesa sua base social nos movimentos populares amestrados e na opinião pública democrática iludida. Não a toa, dia sim, outro não, Luiz Inácio faz referências e comparativos e revive a falsa polarização com Bolsonaro: neste particular, o petista faz o mesmo que Bolsonaro fazia ao se apoiar no antipetismo como plataforma de coesão de sua base social com parcelas da opinião pública. Ao fim e ao cabo, Luiz Inácio e o PT apenas laboram para reanimar o bolsonarismo, na opinião pública e fortalecer a relevância política e até eleitoral do clã Bolsonaro, seu concorrente preferido para assegurar em 2026 seu 4o mandato presidencial, pelo que nada fizeram e nada fazem para punir o golpismo que irradiou desde a caserna e culminou na segunda bolsonarada – agora, novamente escancarado, com as operações da PF. A baderna do 8 de janeiro foi tão só um recado de advertência sobre quem de fato manda no País, enviado pelo do Alto Comando das Forças Armadas ao governo recém-empossado. Até aqui e como sempre, o governo só conciliou com os generais golpistas, que seguem em funções de comando e agraciados com vultosas verbas do PAC. O PT e Luiz Inácio, uma vez mais, jogam perigosamente com a sorte da Nação.
Porém, de fato, a realidade é que o mesmo grupo político que definiu todas as políticas fundamentais do governo Bolsonaro, através do controle do Orçamento e de postos no governo, segue com o mesmíssimo poder de mando no governo atual. O mesmo, sem tirar e nem pôr. Seguem mandando a “bancada ruralista” da Frente Parlamentar Agropecuária e outros tantos energúmenos dispostos às maiores baixezas para reproduzir-se nas entranhas dessa republiqueta, todos ontem bolsonaristas, hoje no governo Luiz Inácio ou na sua base aliada. Alguém, minimamente honesto, pode ter dúvidas de que este governo é de direita, em conteúdo e, cada vez mais, também na forma?
Os operários, camponeses e progressistas devem se libertar da camisa de força da chantagem paralisante de que “sem Lula é pior” e da miséria ideológica com que o oportunismo os entorpecem, segundo a qual há que dar sustentação política a este governo e encobrir sua natureza de governo de direita. Não! É necessário lutar, sem consideração pelo governo de turno reacionário, para impor as liberdades democráticas e os direitos do povo e conquistar sua libertação e de toda a Nação. Essa é a tarefa do dia para os movimentos populares em geral.