O depoimento recente do ilustríssimo desconhecido, senador Marcos do Val, implicando diretamente Bolsonaro com a articulação golpista da tal “minuta do golpe” não traz nada de novo, senão que é mais um demonstrativo do que já é amplamente conhecido. Em depoimento, o senador disse que o ex-presidente reuniu-se com ele e o teor da conversa era realizar uma trampa para prender Alexandre de Moraes e anular as eleições. Também teria participado da conversa o ex-deputado bolsonarista Daniel Silveira – sim, o mesmo valentão que deu mostra ímpar de coragem chorando quase todos os dias quando esteve preso pela primeira vez, em fevereiro de 2021.
Ninguém sério questiona que Bolsonaro tencionava um golpe de Estado, e agora dizer isso é chover no molhado. Para tratar da real questão, em nada contribuem essas “denúncias” – que, diga-se de passagem, passaram já à categoria de novela pelo martelar sofisticado da Rede Globo com sua sensacionalização, com o objetivo de que a gravíssima crise militar perca dimensão e entre na psicologia coletiva como algo da rotina, sem importância, para tentar manter a estabilidade da velha ordem. Sem mencionar que o tal Marcos do Val nada mais faz do que cumprir o papel de um pescador de águas turvas.
Qual é a real questão que assola o País, hoje? A existência de uma ofensiva contrarrevolucionária no País, cujos alicerces são muito mais profundos do que a mera passagem de Bolsonaro pelo Palácio do Planalto. Remonta à planificação, pelo Alto Comando das Forças Armadas (ACFA), de seu plano de intervenção militar “lenta, gradual e segura”, sintetizado pelo ex-comandante do Exército, Eduardo Villas-Bôas, em duas consignas: “fazer do Exército protagonista silencioso” e “o Exército se pauta por estabilidade, legitimidade, legalidade”. Remonta às sistemáticas intervenções do ACFA na política nacional, chantageando o povo e a Nação, exercendo tutelagem sobre as velhas instituições desacreditadas e seus governos de turno desmoralizados, e o poder autoatribuído de ser garantidor da democracia – e, logo, para combater a Revolução, criar o caos que justifique o “intervir para salvá-la do extremismo” (isto é, culminar o golpe de Estado para “salvar a Nação do comunismo”).
Os heróis da democracia burguesa, do alto dos seus palacetes e em seus renomados editoriais, não soltam uma vírgula sequer em protesto aos oito anos de tutelagem que o ACFA impõe sobre a Nação. Luiz Inácio, por exemplo, que afirmou estar desconfiado com os militares, nomeou para comandante do Exército Tomás Paiva, o mesmo tido como protagonista na redação do tuíte de Eduardo Villas-Boas, em 2018. Manobra que impediu o agora presidente da república de concorrer às eleições presidenciais daquele ano e o manteve preso ilegalmente mais de ano e meio. É assim que se porá fim à intervenção militar, passo a passo?
É evidente que a crise militar é gravíssima, e o governo militar secreto – que é operado desde o ACFA, através da tutela sobre as demais instituições – ambiciona elevar à máxima potência a exploração máxima do povo e maior entrega da Nação ao imperialismo, junto com a restrição crescente das liberdades democráticas, na imposição de seu “Projeto de Nação” semifeudal e semicolonial renovado. As forças conciliadoras, do oportunismo e as liberais não querem e não podem impor resistência de fato. Cabe às próprias massas trabalhadoras fazê-lo, mas só podem sob uma condição: que tenham uma direção audaz e consequente com quem contar. Este é o papel e a tarefa urgente das forças revolucionárias e dos verdadeiros democratas de nosso País.