Editorial semanal – Varrer o pragmatismo oportunista reacionário

O lançamento do Plano Safra 2023-24 de Luiz Inácio, que cederá ao latifúndio mais de R$ 364 bilhões (26% a mais do que o plano anterior, de Bolsonaro), foi bem nos termos e ao gosto da Frente Parlamentar da Agropecuária (a famigerada “bancada ruralista”).
Luiz Inácio Lula da Silva e o ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, durante lançamento do Plano Safra. Foto: Gabriela Biló / Folhapress

Editorial semanal – Varrer o pragmatismo oportunista reacionário

O lançamento do Plano Safra 2023-24 de Luiz Inácio, que cederá ao latifúndio mais de R$ 364 bilhões (26% a mais do que o plano anterior, de Bolsonaro), foi bem nos termos e ao gosto da Frente Parlamentar da Agropecuária (a famigerada “bancada ruralista”).

O lançamento do Plano Safra 2023-24 de Luiz Inácio, que cederá ao latifúndio mais de R$ 364 bilhões (26% a mais do que o plano anterior, de Bolsonaro), foi bem nos termos e ao gosto da Frente Parlamentar da Agropecuária (a famigerada “bancada ruralista”). Não bastasse, o pelegão, no dia anterior, deu declarações convergindo com a criminalização da luta pela terra, ao afirmar em sua live que não se deve mais ocupar terras porque seu governo fará um levantamento das terras improdutivas e resolverá o problema. Disse ainda que não tem vergonha de dizer que aumentará, cada vez mais, a quantia destinada ao Plano Safra.

Quanto à nova promessa, a de realizar “reforma agrária” desde o escritório, ela não resiste ao simples raciocínio lógico. Ora, se assim o PT quisesse e se fosse assim tão fácil, já teria sido feita. No entanto, o Brasil segue tendo apenas 2,3% de suas terras nas mãos de pequenos proprietários e da camada inferior dos médios, que representam mais de 89% do total de proprietários rurais, sendo que o quadro de concentração da terra só cresceu nos governos petistas, além dos mais de 5 milhões de famílias de camponeses sem-terra. A promessa de Luiz Inácio é mais uma “história para boi dormir”.

Fato é que Luiz Inácio está buscando sustentação no Congresso, cuja metade (praticamente) dos senadores e deputados federais são da “bancada ruralista”, palradores a soldo do latifúndio. Seu governo será, cada vez mais, tragado pelas demandas do “agronegócio”.

Luiz Inácio e a intelligentsia do PT arvoram a mentira de que as medidas pró-latifúndio e outras mais, que desmascaram sua lábia, são resultantes da “correlação de forças” e que, para não serem derrubados do governo, é preciso ceder ao “pragmatismo político”. Fazem isso para manter mobilizada sua base nos movimentos que aceitam servir-lhes de peões no tabuleiro do jogo de poder reacionário. A estes, que esperam um “governo progressista” e ficam à mercê das chantagens do PT, caberia perguntar: por que subordinar tudo a manter no governo quem faz discursos de palanque, mas governa de modo avesso ancorado numa eterna “correlação de forças desfavorável”, não fazendo rigorosamente nada para alterá-la!? Ora, se é assim, por que as centrais sindicais nas mãos do oportunismo não convocaram à luta as bases, durante a aprovação da reforma da previdência de Bolsonaro (que enterrou o direito à aposentadoria no País para enorme parcela das massas trabalhadoras)? Por que nada fazem para mobilizar as massas em função de alterar a tal “correlação de forças”, sendo que as massas têm demonstrado sua revolta, tantas vezes indo às ruas, contra os desmandos da reação? Ora, não o fizeram porque não querem, porque temem que as massas mobilizadas tomem o caminho revolucionário, atropelando-os de vez com a reação todos juntos. Por isso sua toada é apenas uma retórica diversionista. Não está claro que essa é a melhor maneira, em época de crises, de manter imóveis e calados os oprimidos?

A inelegibilidade de Bolsonaro sendo certa, por um lado, e as investigações sobre o 8 de janeiro, por outro, não alterarão a tal “correlação de forças”. Primeiro, porque o fenômeno da extrema-direita independe de Bolsonaro, o qual é apenas uma expressão: tal fenômeno reside na frustração cabal, e morte política, dessa velha democracia, por não ter entregado as promessas feitas já vão lá 35 anos e negadas secularmente. Promessas que não podem e nem nunca pretenderam cumpri-las, pois são contrárias aos interesses das classes dominantes. Segundo, porque tais acontecimentos sequer arranham o Alto Comando das Forças Armadas, que segue conduzindo o País em grandes linhas e garante seu poder de tutor através do medo que propositalmente provoca nas demais instituições e nos oportunistas de que venha a tomar posição pela ruptura institucional. Apenas o ascenso da rebelião popular, em especial a dos camponeses pobres pela terra, pode levantar uma muralha contra a ofensiva da reação, ainda que a enfureça mais, e esmagá-la de vez. Todo o resto, é ilusão e enganação.

Ao longo das últimas duas décadas, o jornal A Nova Democracia tem se sustentado nos leitores operários, camponeses, estudantes e na intelectualidade progressista. Assim tem mantido inalterada sua linha editorial radicalmente antagônica à imprensa reacionária e vendida aos interesses das classes dominantes e do imperialismo.
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