Dezenas de manifestantes e organizações democráticas se reuniram no dia 24 de agosto, na Esplanada dos Ministérios, em Brasília, para protestar contra a violência policial e denunciar o genocídio perpetuado pelo velho Estado contra o povo pobre, principalmente preto. A manifestação contou também com a presença de familiares de vítimas de violência policial, dentre eles Maik Sales, irmão de Matheus Sales, assassinado pela polícia. O Comitê de Apoio – DF entrevistou Maik sobre os absurdos da execução de seu irmão e a tentativa de acobertamento do crime.
Matheus de Jesus Sales tinha 25 anos quando foi alvejado por tiros pela PMDF no dia 8 de fevereiro deste ano. O jovem foi atingido duas vezes pelas costas por um policial do 15° Batalhão da PM, na região da cervical. A região é tipicamente alvejada em execuções. Maik não morreu na hora, e chegou ainda a ter o socorro negado pelos PMs. O socorro só foi acionado pelas massas que se revoltaram frente à injustiça e ligaram para o Corpo de Bombeiros. Matheus não resistiu aos ferimentos e morreu meses depois, no dia 17 de agosto, por uma infecção contraída por conta do disparo. Mesmo se ficasse vivo, Matheus teria ficado tetraplégico.
O assassinato covarde gerou grande revolta dos trabalhadores, que se cercaram os policiais após os tiros e quebraram uma das viaturas.
Todavia, as arbitrariedades e covardias não pararam ali. Ao sair da delegacia no rumo de sua casa, Maik afirma ter sido abordado por sete PMs que o acusaram de ter quebrado a viatura e os ameaçado. O jovem negou ter sido ele, mas não conseguiu impedir o espancamento por parte dos policiais que o abordaram, dentre eles o policial que assassinou seu irmão. Quando afirmou que iria denunciar os policiais, o assassino de seu irmão zombou da situação: segundo o próprio policial, a denúncia “não iria dar nada”. Ele afirmou ainda que já possuía dois processos. A agressão covarde seguiu com um sufocamento de gás de pimenta e ameaças de morte. Maik afirma ainda que, até mesmo na delegacia, um policial chegou a tranquilizar o PM que atirou, dizendo que “não daria em nada” que poderia “ficar tranquilo”
O policial está solto até hoje, conforme denunciou Matheus: “o policial está solto. Não aconteceu nada com ele por causa desse privilégio que esses PM têm, entendeu? Agora estamos atrás de justiça, por causa que eles vão continuar matando, se ele tá na rua solto e viu que não deu nada, ele vai estar disposto a matar mais. Vai matar mais moleque lá, vai me matar, por exemplo, por que já me ameaçou.
Segundo Maik, até hoje os policiais rondam sua casa e perguntam por ele na vizinhança. A prática é recorrentemente aplicada contra familiares de vítimas de violência policial, e tem como objetivo aterrorizar os parentes que lutam na tentativa de frear sua revolta. Em muitos casos, as tentativas de intimidação não funcionam. Os familiares continuam em sua luta incansável por justiça. No dia 7 de maio, os policiais foram até a porta da casa de Maik e tentaram entrar mesmo sem mandado judicial. “Você vai ver quando eu te pegar. Nós vamos te pegar ainda”, disparou um policial, durante a tentativa covarde de invasão.
No monopólio de imprensa local, a morte de Matheus foi relatada como “mais um jovem baleado após perseguição policial”. A notícia afirmava que Matheus teria resistido à abordagem policial e tentado fugir. A versão da família foi ignorada e substituída pela da PM. Confira, abaixo, a entrevista com Maik, que relata a verdade sobre o caso:
Comitê de Apoio – DF: Como seu irmão foi assassinado? O que ocorreu na hora, com ele e com o policial?
Maik (M): Sou irmão de uma vítima de covardia policial que ocorreu no dia 8 de fevereiro de 2023, que causou uma lesão no meu irmão que deixou ele tetraplégico, e após 6 meses ele veio a falecer agora no dia 17/08, após contrair uma infecção por causa do disparo.
Sobre o policial, ele atirou à luz do dia nas costas do meu irmão. Deu dois tiros sem ele ter feito nada, pelas costas… na covardia. Ainda ameaçou minha família, invadiram minha casa diversas vezes, ameaçando a gente porque iremos denunciar. O policial que atirou disse que já tinha duas passagens, que mais uma não iria dar em nada, fez diversas ameaças contra mim.
Fiquei no maior sofrimento na UTI, 6 meses, todos os dias acompanhando meu irmão na terapia, e [ele] acabou morrendo. Enquanto o policial está solto. Não aconteceu nada com ele por causa desse privilégio que esses PM tem, entendeu? Agora estamos atrás de justiça, por causa que eles vão continuar matando, se ele tá na rua solto e viu que não deu nada, ele vai estar disposto a matar mais. Vai matar mais moleque lá, vai me matar, por exemplo, por que já me ameaçou. Ele está tranquilo da impunidade por causa do privilégio do “poder público” que ele tem com apoio do Estado, entendeu?
E o resumo é esse, um policial deu dois tiros em um jovem de 25 anos, cantor de Rap, o cara tinha tudo pra viver, tava no maior ritmo pra viver a vida, pelo certo, fora do crime, apesar das passagens. Mas as pessoas só querem ver o lado obscuro da pessoa, mas o moleque fez muita coisa boa. E como a polícia tem esse privilégio, pro Estado foi um ato de heroísmo, mas pra mim e pra muitos que estão hoje no ato, foi um ato criminoso, um ato de monstro, uma covardia.
AND: E como foi a denúncia no caso na polícia?
M: A Polícia Civil não quis deixar a gente registrar a ocorrência, quando os policiais foram na minha casa ameaçar eu e minha família, eu tive que ir lá na 1ª DP registrar a ocorrência, pois a 8ª DP não quis, no boletim ficou como se eu tivesse registrado na 8º, mas eu tive que ir na 1ª.
Até chegaram a invadir minha casa, eu tenho filmado. Eles [a polícia civil] entraram misteriosamente na minha casa, depois de várias ameaças que sofri. Os civis invadiram minha casa com roupas pessoais, entendeu? Não estavam nem uniformizados. Policiais que trabalham há anos na 8ª DP “confundindo” Setor Oeste com Setor Leste, com uma desculpa deslavada, para manobrar as provas contra os policiais.
Tem muita informação importante que tem que ser dita, que a mídia não divulga não, e tem que ser divulgado, o criminoso não é só o favelado, o criminoso é a burguesia, o criminoso é o policial.