O município de Belford Roxo é há anos dominado por grupos paramilitares organizados por policiais militares (PMs) para controlar territórios e lucrar com atividades que vão desde a extorsão até controles de jogos de azar. Os políticos locais são, quase como via de regra, submissos ou aliados ativos desses grupos. E esse ano, o presidente Luiz Inácio declarou, mais uma vez, apoio a um desses nomes.
O apoio ocorreu hoje, dia 12 de setembro, durante a inauguração de um hospital oncológico no município, feito na forma de uma grande festa para servir, principalmente, de evento eleitoral.
Luiz Inácio, vestido com um bonezinho estampado com o brasão da república, em vez do clássico boné “vermelho” com a estrela petista – talvez para não afugentar os eleitores de Matheus no município de grande influência bolsonarista – aplaudiu a obra e abraçou Waguinho. “Eu não vim aqui só para inaugurar o hospital, vim aqui como um gesto de gratidão ao companheiro Waguinho”, demarcou Luiz Inácio.
E completou, rasgando seda ao aliado: “Se o Brasil fizesse mais prefeitos como Waguinho, estaríamos muito bem”.
Toda a gratidão é baseada no fato de que Waguinho apoiou Luiz Inácio em 2022. No evento, Waguinho agradeceu o petista e disse que os eleitores de Belford Roxo, ao elegerem Luiz Inácio, “ajudaram a combater o negacionismo”, em referência a Bolsonaro.
Parece que, para evitar algum climão, tanto Luiz Inácio quanto Waguinho decidiram esquecer que, há quatro anos atrás, o prefeito de Belford Roxo era aliado sólido da família Bolsonaro.
Em 2020, o prefeito fez eventos públicos com Flávio Bolsonaro. Chegou a dizer, em um dos palanques, que nenhum governo havia ajudado tanto a cidade quanto o de Jair Bolsonaro. Para o petista, águas debaixo da ponte.
Até aqui, o pragmatismo político reacionário de Luiz Inácio pode justificar a aliança. Mas as coisas ficam piores quando se leva em conta que foi Waguinho quem impulsionou o domínio do “Bonde do Jura” sobre Belford Roxo.
O “Bonde do Jura” é o grupo paramilitar chefiado pelo ex-PM Juracy Alves Prudêncio, responsável por assassinatos, desaparecimentos e extorsão em toda a Baixada Fluminense.
Nos anos 2000, Prudêncio foi condenado a 26 anos de prisão por formação de quadrilha e homicídio. Foi uma baixa para o grupo, junto de outras prisões em anos seguintes. Mas não foram o suficiente para que a corja deixasse de operar. Dezessete anos depois, enquanto ainda cumpria pena por homicídio em regime semiaberto, virou assessor de Wagner Carneiro.
Durante o trabalho, em 2018, aproveitou para apoiar a eleição da esposa de Wagner, Daniela – mais tarde escolhida para assumir o cargo de ministra do Turismo no governo de Luiz Inácio. Filmagens registraram Juracy entregando santinho de Daniela nos horários em que, supostamente, estava trabalhando na prefeitura.
No mesmo período, a PM do Rio começou a expulsar o Comando Vermelho (CV) de determinadas favelas da Baixada Fluminense por meio de operações violentas. Em uma delas, no Complexo do Roseiral, os PMs fizeram 26 incursões e três chacinas, que resultaram em 30 assassinatos. O CV saiu da favela e o Bonde do Jura assumiu o ponto.