Em nova onda de ocupações, 1,7 mil famílias camponesas ocupam quatro latifúndios na Bahia

Em nova onda de ocupações, 1,7 mil famílias camponesas ocupam quatro latifúndios na Bahia

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As ocupações massivas de latifúndios por camponeses pobres na Bahia continuam. Na madrugada do dia 27 de fevereiro, cerca de 1.700 famílias camponesas ocuparam quatro latifúndios no extremo sul do estado. De acordo com informações divulgadas pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), os alvos dos camponeses foram três latifúndios eucalipteiros da empresa latifundiária Suzano Papel e Celulose S/A, localizados nos municípios de Teixeira de Freitas, Mucuri e Caravelas, e um latifúndio abandonado há mais de 15 anos, de nome Fazenda Limoeiro, localizado no município de Jacobina. As famílias exigem a desapropriação imediata dos latifúndios para que possam viver e produzir com dignidade.

Desde o início de 2023, somente no estado da Bahia, mais de 9,5 mil camponeses se mobilizam em defesa de suas terras contra o latifúndio.

Camponeses denunciam expansão do eucalipto sobre suas terras; Suzano é responsabilizada

O MST afirma que as ocupações foram uma resposta à expansão do eucalipto no sul da Bahia e que as famílias camponesas exigem a desapropriação imediata dos latifúndios para que as terras sejam entregues às famílias. 

As famílias camponesas repudiam os problemas relacionados à crise hídrica nos municípios vizinhos aos latifúndios da Suzano Papel e Celulose LTDA, causados pela produção em grande escala de eucalipto e a pulverização aérea realizada nas áreas dos monocultivos. Além disso, os camponeses denunciam outros impactos ambientais irreversíveis causados pelo eucalipto, como assoreamento de rios, enchentes, deslizamentos de terra, secas prolongadas e incêndios devastadores.  

Somente no terceiro bimestre de 2022, a empresa latifundiária teve R$ 5,44 bilhões de lucros, e a venda de celulose e papel ultrapassou as marcas de 2,8 e 311 milhões de toneladas, respectivamente.

Atualmente, o Brasil possui a maior floresta cultivada com eucalipto do mundo, área que supera a plantada por arroz, feijão e café. Enquanto o lucrativo negócio de eucalipto enriquece o latifúndio, o arroz, feijão e café é, em grande parte, plantado por camponeses nas piores terras, com as piores condições de crédito e constantemente atacados por latifundiários.

A região do sul da Bahia tem uma longa história de conflitos envolvendo plantações de eucaliptos. Nas últimas três décadas, lideranças camponesas e indígenas têm sido assassinadas, seja pelos bandos de pistoleiros a soldo do latifúndio, seja pelas forças de repressão do velho Estado burocrático-latifundiário. Em comum, estão os contextos de grilagem de terra associados à expansão desse cultivo. Em 2020, com a autorização do então governador Rui Costa (PT), uma área do tamanho do perímetro urbano de Salvador (34,3 mil hectares) foi desmatada e replantada com eucalipto a favor da Veracel Celulose, que possui acumuladas 10 ações judiciais em que camponeses denunciam que a empresa degradou áreas da mata nativa, expulsou famílias e invadiu territórios indígenas.

Luta camponesa soma 9,5 mil camponeses mobilizados em janeiro e fevereiro na Bahia

O AND noticiou que o fim de janeiro e início de fevereiro foi marcado por grandes mobilizações camponesas no estado da Bahia. Do dia 30 de janeiro ao dia 13 de fevereiro, cerca de 2,6 mil camponeses participaram das mobilizações tomando terras, fechando rodovias ou ocupando prédios do velho Estado. No Vale do Jequiriçá, 250 famílias ocuparam duas fazendas. A prefeitura de Santa Cruz de Cabrália foi ocupada por 200 camponeses (que representam outros 400) por melhores condições nas rodovias e nos serviços públicos e pela construção de uma ponte. Em Sento Sé, 300 camponeses protestaram contra a mineradora imperialista australiana Tombador Iron e exigiram o asfaltamento imediato da BA-210. Em Correntina, no cerrado baiano, houve um grande protesto contra a grilagem e a pistolagem. Em Itabela 178 famílias foram despejadas de suas terras. Na madrugada do dia 1º de março, cerca de 120 camponesas ocuparam a Fazenda Santa Maria, no município de Itaberaba, na região da Chapada Diamantina. Somadas à onda de ocupações do dia 27/02, as mobilizações camponesas na Bahia de janeiro a março totalizam 9,5 mil camponeses.

Esta situação, em que somente no estado da Bahia quase 10 mil camponeses se mobilizam ativamente em defesa de suas terras, é mais um sintoma das condições insustentáveis de vida da massa camponesa brasileira. Exploradas pelo latifúndio, famílias camponesas com pouca terra ou sem terra não têm a garantia de poder ter o direito de viver e trabalhar em suas terras. Este novo impulso da luta das massas camponesas contra o latifúndio é só o início de uma inevitável onda de tomadas de terra por todo o país.

Camponeses ocupam latifúndio na madrugada do dia 27/02. Foto: Reprodução

Concentração fundiária na Bahia é uma das maiores do país

O MST também denuncia a grande concentração de terras por fazendeiros e empresas do agronegócio na Bahia, e que essa prática contribui diretamente para o aumento indiscriminado dos índices de desigualdades sociais. A Bahia, segundo o estudo “Estrutura fundiária na Bahia, Brasil: uma análise sob a ótica do índice de Gini”, de 2018, possuía, no ano anterior ao estudo, mais de 230 municípios com concentração fundiária considerada forte a muito forte, e 8 deles tinham concentração fundiária muito forte a absoluta.

Ao longo das últimas duas décadas, o jornal A Nova Democracia tem se sustentado nos leitores operários, camponeses, estudantes e na intelectualidade progressista. Assim tem mantido inalterada sua linha editorial radicalmente antagônica à imprensa reacionária e vendida aos interesses das classes dominantes e do imperialismo.
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