Militares reacionários planejam um evento para celebrar os 61 anos do golpe militar de 1964, descrito no cartaz de divulgação do evento como um “movimento democrático” e um “evento histórico”. A celebração ocorrerá na sede do Clube Militar na Lagoa, bairro nobre do Rio de Janeiro.
O evento, organizado pelo Clube Naval, Clube Militar e Clube de Aeronáutica, está previsto para 31 de março e contará com a presença do desembargador aposentado Sebastião Coelho da Silva. O desembargador é alvo de um processo disciplinar do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) que busca apurar a conduta do magistrado do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios (TJDFT), que teria incitado atos golpistas enquanto ainda estava na ativa.
Em novembro de 2022, Coelho esteve presente em um acampamento de galinhas verdes em frente ao Quartel-General do Exército em Brasília, onde defendeu a prisão do ministro do STF Alexandre de Moraes.
O caráter claramente golpista do evento chamou atenção até mesmo do Ministério Público do Distrito Federal (MPDFT). O órgão encaminhou ofício ao Ministério Público Militar (MPM) solicitando que o MPM “avaliasse” a solenidade, assim como os participantes já confirmados, e que “tome ciência do ocorrido e avalie as medidas cabíveis para garantir a preservação da ordem democrática e o respeito ao Estado de Direito”.
“É importante destacar que a data de 31 de março de 1964, longe de representar um marco democrático, como sugerido pelo título do evento, refere-se ao golpe que instaurou uma ditadura militar no Brasil”, escreveu o promotor Flávio Milhomem.
Provocações
O evento não é exclusividade deste ano. Todo ano, o Clube Militar celebra o golpe militar de 1964 sem que haja nenhuma coação por parte dos órgãos do velho Estado nem dos governos de turno. No ano passado, que marcou 60 anos da data, os militares reacionários do Clube convidaram o general da reserva Maynard Marques de Santa Rosa para discursar.
O AND apurou o histórico de Santa Rosa e mostrou como o general considerava a data um marco de patriotismo, decisão e coragem”. Santa Rosa também já defendeu, em uma entrevista à revista reacionária Crusoé, que, em momento de “ruptura da ordem”, as Forças Armadas são “obrigadas a agir”.
O evento de 2024 ocorreu com o lema “a História não se apaga nem se reescreve”, uma mensagem clara e debochada ao governo de Luiz Inácio (PT), que cancelou todos os eventos críticos ao golpe sob a justificativa indecente de não querer “remoer a história”.
Recusa em mudar entendimento da data
Ao mesmo tempo, chamou atenção no ano passado a recusa do Exército em mudar o nome de uma unidade que homenageia o golpe militar de 1964. O pedido partiu do Ministério Público Federal (MPF), que orientou o Comando do Exército a alterar o nome da Brigada de Infantaria Leve de Montanha de Juiz de Fora, a Brigada 31 de março, e remover um monumento do batalhão com esse nome da unidade.
O Exército aceitou tirar o nome Brigada 31 de Março do site e remover o monumento, bem como excluir do site a menção ao “papel decisivo e corajoso (da unidade) na eclosão da revolução democrática (o golpe de 1964)”. Mas recusou atender os outros pedidos, como a revogação da portaria de 1974 que oficializa a reverência à data do golpe. A força também recusou criar um curso para os militares da unidade sobre o “caráter ilícito do golpe militar de 1964” e as conclusões da Comissão Nacional da Verdade.